Nos últimos dias, a comunidade científica mundial e a Organização Mundial da Saúde (OMS) está debruçada sobre o coronavírus, causador de grave doença pulmonar que se espalha pelo mundo a partir da China. Mas, na medida em que ele avança, aumentam as dúvidas sobre como controlá-lo.
Coronavírus: O que se sabe até agora?
Muitas informações têm surgido, mas nada é considerado definitivo. A China não tem informado todos os dados necessários, reclamam alguns cientistas. Além disso, há as dificuldades inerentes à investigação de um novo vírus, que só foi descoberto em dezembro.
Confira a seguir as questões fundamentais que ainda permanecem misteriosas:
Quão letal é esse coronavírus? Podemos considerá-lo um serial killer, um “assassino em massa”?
- Ainda é muito cedo para saber. Os primeiros casos de morte por pneumonia na China acenderam o alerta máximo e indicaram que ele poderia ser muito letal. Porém, na medida em que tem avançado, o perigo parece um pouco menor.
Até agora ele se mostrou com menos mortes do que os coronavírus da Sars (taxa de letalidade de 10%) e da Mers (na faixa de 35%), protagonistas de outras crises semelhantes à atual. Mas, como nem todos os casos do novo coronavírus são conhecidos e considerando que ele ainda está em expansão, essa taxa de letalidade ainda pode mudar, tanto para cima quanto para baixo.
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Quão contagioso é o novo vírus?
- Não há certeza e essa é a questão mais urgente para deter uma pandemia, como destacou a revista científica Nature. Sabe-se que ele passa de uma pessoa para outra, mas não em que proporção. É fundamental descobrir para quantas pessoas um indivíduo infectado pode passar o vírus.
Uma pessoa com o vírus do sarampo, um dos mais contagiosos do mundo, contamina outras 15 a 18 pessoas. Vale observar aí que os contaminados pelo sarampo são aquelas pessoas desprotegidas, as que não se vacinaram. As vacinadas não correm risco.
Já uma pessoa com ebola pode passar o vírus para outras duas. Até agora, a OMS estima que o novo coronavírus seja tão contagioso quanto o vírus da Sars, a síndrome respiratória aguda grave, nos estágios iniciais da epidemia de 2002 a 2003.
Também seria semelhante ao H1N1 (gripe) que causou uma pandemia em 2009. Porém, parece ser mais contagioso que outro coronavírus letal, o Mers, surgido em 2014.
Descobrir a taxa de risco não é fácil. Primeiro, a despeito de a China ter dado informações, ainda faltam dados sobre os registros da doença no país. Isso dificulta os cálculos. Outro problema é que vírus mudam muito depressa e a taxa de contaminação no início da epidemia também muda na medida em que ele se espalha.
Qual a chance de pessoas sem sintomas espalharem o vírus?
No fim de semana o governo chinês declarou que pessoas infectadas, mas sem sintomas aparentes, podem transmitir o novo coronavírus. Portadores assintomáticos são o maior problema para o controle. Normalmente, os vírus são transmissíveis na fase em que os sintomas se manifestam, ainda que de forma branda.
Essa suspeita veio de famílias que tinham mais de um membro infectado, mas sem qualquer sintoma. Porém, ainda não se sabe com que frequência isso ocorre e se existem pessoas que são naturalmente imunes.
O caso considerado chave foi o de uma família de Shenzhen que tinha seis doentes e uma criança com o vírus mas sem qualquer sintoma. Não se sabe se esses casos são comuns e se as pessoas sem sintomas transmitem o vírus com a mesma facilidade do que aquelas que manifestam algum sinal, como febre ou tosse.
Se esses transmissores assintomáticos forem raros, não haverá muito impacto na velocidade de transmissão. Porém, se isso for frequente, será muito mais difícil conter o vírus. Uma das únicas formas de descobrir isso será estudar famílias chinesas. Mas a China não liberou dados sobre isso.
Por que o número de casos deu um salto e dobrou nos últimos dias?
Outro mistério. Uma possibilidade é que a melhoria dos testes para diagnóstico tenha permitido identificar um número maior de pessoas. Outra é que o vírus tenha começado a se propagar com mais facilidade. Ou ainda, as duas podem ser verdadeiras.
A primeira coisa para fazer um modelo de previsão da epidemia é conseguir uma base de dados. O obstáculo é que os relatórios de casos divulgados pela China são incompletos. Os cientistas precisam saber quantas pessoas ficaram doentes e não quantos casos confirmados foram registrados.
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Qual a origem do vírus? Morcegos, cobras ou pessoas?
Não se trata de mera curiosidade. Será possível aprender muito sobre o comportamento do vírus. Descobrir quem é o hospedeiro natural ajudará no controle dessa epidemia e poderá prevenir outras. A tese é que ele se originou num animal e passou para o ser humano no mercado de Wuhan.
Lá animais tão variados quanto cães, gatos, ratos, morcegos e cobras são mantidos vivos e confinados em péssimas condições de higiene até que sejam comprados, mortos e tenham a carne consumida.
Um grupo de cientistas lançou a hipótese de que o vírus veio de cobras. Mas análises genéticas posteriores indicaram similaridade com coronavírus de morcegos. Outras espécies animais consumidas pelos chineses podem ser identificadas e a questão segue em aberto.
O que o genoma do vírus diz?
Não sabemos bem. O código genético do vírus continua a ser decifrado. O genoma pode dizer com precisão quando o vírus emergiu — a data mais provável é novembro de 2019 — e que mudanças sofreu desde então.
Vírus se replicam muito depressa e sofrem mais alterações em seu código genético do que qualquer outro microorganismo. Identificar mudanças que podem tê-lo tornado mais transmissível e virulento é um caminho para desenvolver medicamentos e vacinas.
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Redação iBahia
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