O presidente Jair Bolsonaro voltou a afirmar, em entrevista exibida na madrugada desta quinta-feira, que os atos pró-governo do último domingo foram espontâneos e que a população que foi às ruas "demonstrou que quer mudanças". Perguntado se o presidente deve se preocupar também com as manifestações contrárias ao governo, Bolsonaro respondeu:
— Se você não quer uma manifestação impopular contra você, você que ande na linha.
A entrevista ao programa "The Noite", de Danilo Gentili, no SBT, foi gravada no início da semana, logo após os atos favoráveis a pautas do Planalto, como a reforma da Previdência e o pacote anticrime, e antes das manifestações desta quinta-feira contra os cortes na Educação. Bolsonaro disse que os atos de domingo foram um "sinal de alerta" para todos os políticos do país.
— Foi uma manifestação espontânea, uma pauta definida que deu sinal de alerta a todos os políticos do Brasil. Não aceitamos mais só participar das eleições e achar que isso é democracia. Democracia (é) a classe politica estar perfeitamente afinada com os anseios da população -frisou.
Por outro lado, o presidente voltou a dizer que a maioria dos estudantes que foram às ruas contra cortes no orçamento da Educação "não sabia o que estava fazendo" e foi usada por uma "minoria de professores espertalhões".
— O certo é falar inocentes úteis. A grade maioria da garotada presente não sabia o que estava fazendo ali, diferente dessa última manifestação pedindo agilidade ao Parlamento. Uma minoria de professores espertalhões usa a garotada em causa própria tentando sempre destabilizar o governo — declarou.
Relação com o Congresso
Ao comentar as dificuldades que enfrenta na articulação com o Congresso para aprovar a reforma da Previdência, o presidente criticou a relação estabelecida, segundo ele, em governos anteriores ente o Executivo e o Legislativo. Para Bolsonaro, a forma de articulação que envolveria a negociação de cargos "não deu certo".
— Para mudar um paradigma você leva algum tempo. Hoje em dia acredito que a maioria dos parlamentares não estão pensando nisso, mas uma minoria mais antiga, que tem uma cabeça ainda voltada para o passado, busca uma maneira de continuar interagindo com o governo de uma forma que não deu certo no passado. Até porque não temos alternativa, não dá para fazer política dessa forma mais. O país está quebrado — declarou Bolsonaro.
— Não existe mais como se gastar tanto como no passado sem responsabilidade.
O presidente afirmou que a distribuição de cargos "não é governabilidade":
— Geralmente o político tem fama de mentiroso. Pela primeira vez na história do país vocês estão vendo um presidente que está buscando fazer o que prometeu durante a campanha, porque geralmente o que acontece: acaba a campanha, esse chefe do executivo vai para um canto, chama líderes partidários e distribui cargos e diz que isso é governabilidade. Isso não é governabilidade. Não estou atacando o parlamento, nem ofendendo o parlamento brasileiro. Isso sempre foi uma verdade até 31 de dezembro do ano passado. Escolhemos um ministério técnico e estamos trabalhando nesse sentido, com os parcos recursos que temos, buscar trazer felicidade para o nosso povo — afirmou o presidente.
Aprovação da Reforma da PrevidênciaBolsonaro disse ainda acreditar que a reforma da Previdência será aprovada em dois ou três meses no Congresso:
— Os parlamentares têm a consciência disso também. Os deputados estão no mesmo barco. Não temos outra alternativa - declarou Bolsonaro, destacando o risco para a economia do país, caso a reforma não avance:
— O governo não se sustenta sem uma economia pelo menos razoável. Sem a reforma na Previdência, estamos dando sinal para o mercado interno e de fora também de que não estamos fazendo o devido dever de casa. Ninguém vai querer investir num país que tem uma dívida brutal como essa e crescendo de forma galopante ano após ano. (...) Acredito, segundo Paulo Guedes, meu posto Ipiranga, que em 2022 no máximo (se não for aprovada a reforma) o Brasil quebra.
Divisão do Governo
Bolsonaro também negou que haja divisão entre ala mais ideológica do governo e a formada pelos militares.
— Não tem essa ala. Não existe. O que tenho orientado é não responder a provocações. Não existe essa divisão sistemática. Lógico que existem interesses de cada um, mas não atrapalha o governo. O que acontece é que a imprensa, qualquer negocinho, potencializa o que eu falo.
Reeleição
Bolsonaro também não descartou tentar a reeleição ao cargo de presidente nas próximas eleições:
— Não sei. Depende de aprovar uma reforma política bastante profunda. A gente pode discutir esse assunto, a reeleição — afirmou.
Decreto de Armas
Bolsonaro voltou a defender os decretos editados por ele que flexibilizaram a posse e o porte de armas no país, cuja constitucionalidade é questionada pelas áreas técnicas da Câmara, do Senado e pelo Ministério Público Federal (MPF).
— A certeza de que (o criminoso) vai encontrar o cidadão desarmando é que faz com que a violência cresça - defendeu o presidente, criticando a política de desarmamento:
— Desde que teve o Estatuto do Desarmamento, a violência só aumentou. É um sinal de que essa política não deu certo.
Facada
O presidente se emocionou ao relembrar a facada que levou durante uma agenda de campanha nas eleições de 2018, em Juiz de Fora (MG). Bolsonaro exibiu no programa as cicatrizes deixadas pelas cirurgias a que foi submetido.
— (num primeiro momento) achava que era um soco no estômago apenas, porque não é normal acontecer aquilo — revelou.
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Redação iBahia
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