O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) protocolou hoje (18), na presidência da Câmara dos Deputados, pedido de impeachment do presidente Michel Temer. Ao justificar o pedido, Randolfe citou reportagem do jornal O Globo que fala sobre o suposto envolvimento do presidente em um esquema de pagamento de mesada ao ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha e ao doleiro Lúcio Funaro para que estes ficassem em silêncio.
A denúncia foi feita pelo dono do grupo JBS, Joesley Batista, em delação realizada no âmbito do processo da Lava Jato e divulgada ontem (17) no início da noite pelo O Globo. Segundo a reportagem, as informações estão registradas em áudio, que teria sido gravado pelo empresário durante encontro com Temer.
O pedido de impeachment feito por Randolfe é o terceiro registrado na Câmara desde a divulgação das denúncias. Ontem (17), o deputado Alessandro Molon (RJ), também da Rede, e o deputado JHC (PSB-AL) também protocolaram pedidos de impeachment do presidente Temer. Randolfe disse que seu pedido não prejudica os que foram feitos anteriormente, nem “futuros pedidos”.
Randolfe adiantou que deve se reunir na próxima semana com juristas para elaborar novo pedido de impedimento ao presidente. O senador, contudo, defende que Temer renuncie ao mandato. “Na verdade, seria melhor que o senhor Presidente da República poupasse a nação de mais um processo traumático [de impeachment] e renunciasse ao cargo."
Eleições diretas
Além da renúncia de Temer, o senador sugere que seja aprovada a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 225, que prevê eleições diretas em caso de vacância da Presidência da República. Pela Constituição atual, se o presidente da Republica renuncia ou é declarado impedido, o Congresso deve convocar eleições indiretas para eleger um presidente interino.
A oposição quer evitar a possibilidade de eleições indiretas e já se articula para acelerar a tramitação da PEC 225, que aguarda análise da Comissão de Constituição e Justiça e Cidadania (CCJ) da Câmara. Hoje, a comissão tinha uma sessão deliberativa agendada mas, por falta de quórum, a reunião foi encerrada pelo presidente da comissão, deputado Rodrigo Pacheco (PMDB-MG). O deputado convocou a reunião para a próxima terça-feira (23). Outras comissões da Câmara também tiveram suas atividades canceladas pela manhã.
A maior movimentação na Casa foi de jornalistas e de parlamentares da oposição que repercutem as denúncias divulgadas ontem. Do lado da base aliada, ainda não houve nenhuma manifestação oficial. A assessoria do líder do governo no Congresso, deputado André Moura (PSC-SE), disse que ele "tem avaliado toda essa situação e, por ora, não se manifestará”. Moura está em reunião no Palácio do Planalto. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), também está no Planalto.
Conselho de Ética
O senador Randolfe disse que também vai pedir, no Conselho de Ética do Senado, a cassação do mandato dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG) e Zezé Perrella (PSDB-MG). Os senadores também são citados na reportagem de O Globo. Segundo o jornal, outra gravação feita por Batista diz que o presidente do PSDB, Aécio Neves, teria pedido R$ 2 milhões ao empresário da JBS. O dinheiro teria sido entregue a um primo de Aécio. A entrega foi registrada em vídeo pela Polícia Federal, que rastreou o caminho do dinheiro e descobriu que o montante foi depositado em numa empresa do senador Zezé Perrella (PSDB-MG).
Hoje pela manhã, a Polícia Federal fez buscas nos gabinetes de Perrella e de Aécio Neves. Por volta das 11h, dois carros da PF deixaram o prédio do Congresso com os malotes apreendidos, mas alguns agentes permanecem nos gabinetes dos senadores. O gabinete do deputado Rocha Loures (PMDB-PR) também foi alvo de busca e apreensão desde o início da manhã. Segundo a denúncia, Loures foi indicado por Temer como interlocutor para solucionar um problema da JBS. Posteriormente, o deputado teria sido filmado recebendo R$ 500 mil. Segundo a assessoria, Loures estaria voltando hoje de uma viagem ao exterior.
Em notas divulgadas ontem após a publicação das denúncias, a assessoria de Aécio Neves diz que o senador "está absolutamente tranquilo quanto à correção de todos os seus atos. No que se refere à relação com o senhor Joesley Batista, ela era estritamente pessoal, sem qualquer envolvimento com o setor público. O senador aguarda ter acesso ao conjunto das informações para prestar todos os esclarecimentos necessários".
Já o senador Zezé Perrella publicou uma mensagem em seu Twitter por volta das 22h50 de ontem em que diz que nunca conversou com Wesley Batista (irmão de Joesley Batista e também dono do grupo JBS), não conhece ninguém do grupo Friboi (uma das marcas da JBS) e que nunca recebeu, “oficial ou extraoficial”, nenhuma doação da empresa. “Estou absolutamente tranquilo”, disse o senador, que acrescentou que espera que todos os citados na reportagem tenham a oportunidade de esclarecer sua participação.
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Redação iBahia
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