O aumento das adesões ao chamado das centrais sindicais para uma greve geral amanhã e a derrota sofrida anteontem, na Câmara, durante a votação do projeto de renegociação das dívidas dos estados, acenderam a luz amarela no governo em relação à proposta de reforma da Previdência.
Em uma contraofensiva, o presidente Michel Temer determinou, ontem, o corte do ponto dos funcionários públicos que aderirem à paralisação e, ainda, colocou em campo no Congresso os ministros com mandatos de deputado federal para reforçar a votação e garantir a aprovação da reforma trabalhista, como uma demonstração de força. A ideia inicial era que os ministros fossem exonerados apenas para votar a favor da reforma previdenciária.
Mesmo com todas as concessões na reforma da Previdência, o governo sofreria uma derrota “desastrosa” no Congresso se a proposta fosse votada agora, avaliam líderes da base de apoio. O apoio da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) à greve geral, reforçando os movimentos sociais e os sindicatos, deixou os parlamentares ainda mais receosos em aprovar medidas impopulares e não serem reeleitos em 2018. Vídeos gravados por padres de Maringá (PR), Fortaleza e João Pessoa chamando os fiéis para as ruas foram disparados para os parlamentares, via WhatsApp.
Para líderes do governo, a convocação da CNBB para a greve é muito ruim para o governo.
— Acho que o presidente Michel Temer precisa ir mais vezes à missa — brincou um líder.
Monitoramento nas Redes
A CNBB disse que a posição oficial da entidade sobre a greve foi manifestada pelo secretário-geral, Dom Leonardo Steiner, “Convocamos os cristãos e pessoas de boa vontade, particularmente nossas comunidades, a se mobilizarem ao redor da atual reforma da Previdência, a fim de buscar o melhor para o nosso povo, principalmente os mais fragilizados”, disse ele, em entrevista publicada no site oficial da entidade.
Segundo um importante aliado do governo, a derrota na votação do projeto de recuperação fiscal dos estados, jogando por terra a contribuição adicional dos servidores, foi o termômetro. O resultado deixou o Palácio do Planalto em alerta e o levou a concentrar esforços na votação da reforma trabalhista, para tentar melhorar o clima.
— Tanto o governo quanto os líderes da base não têm clareza dos votos dos 513 deputados. Foram feitos ajustes no texto original, mas o problema não é de mérito, é político. Ninguém quer votar a reforma. O risco de renovação no Congresso é alto no ano que vem — disse o parlamentar.
O presidente do PMDB, senador Romero Jucá (RR), reconheceu que o governo “explicou mal” a reforma da Previdência e terá de esclarecer melhor o novo texto se quiser aprová-lo no Congresso. Jucá disse que o PMDB terá de ter uma “posição clara” sobre a reforma, cobrando lealdade dos peemedebistas, mas avisou que o fechamento de questão ocorrerá se houver um pedido formal da bancada da Câmara:
— O PMDB tem que marcar uma posição clara. A reforma da Previdência não é opção, é salvação. O partido está no poder, assumiu uma bucha e tem pouco tempo para reanimar o país, a economia. Não é uma decisão simples, mas é uma decisão vital. Se a maioria do partido pedir, convoco a Executiva (sobre fechamento de questão). Defendo o que defender a maioria.
O presidente da comissão especial que discute a reforma da Previdência, Carlos Marun (PMDB-MS), chegou a discutir a possibilidade de adiar a votação da proposta, mas a data foi mantida em 2 de maio.
O Palácio do Planalto está monitorando as redes sociais. O engajamento da população subiu nos últimos dias, disse uma fonte palaciana, acrescentando, porém, que não chega a ser uma grande preocupação, pelo fato de ser na véspera de um feriadão, o Dia do Trabalho. O governo avalia que a mobilização não sairá das capitais e espera que não seja transmitida a imagem de “grande greve nacional”.
A intenção do Planalto é manter ao máximo o tom de normalidade no dia da greve. Temer ficará em Brasília e trabalhará normalmente. Haverá um forte esquema de segurança na Esplanada dos Ministérios, que ficará fechada. A segurança ficará a cargo da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal.
Para evitar uma derrota no plenário da Câmara, o governo avalia fazer alguns ajustes nas regras para os servidores públicos. Uma opção é exigir um tempo mínimo no último cargo — entre 25 e 30 anos — para quem entrou antes de 2003 ter direito à integralidade (último salário) e à paridade (reajustes salariais iguais ao do pessoal da ativa). Pela proposta, esses dois benefícios somente serão assegurados se os trabalhadores atingirem 65 anos de idade (homem) e 62 anos (mulher).
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Redação iBahia
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