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CARLINHOS BROWN 60 ANOS

Toque do Timbaleiro: Carlinhos Brown ultrapassou fronteiras e ganhou mundo com a Timbalada

Banda revolucionou forma de fazer música na Bahia e ajudou a difundir Axé Music no mundo

Bianca Andrade • 23/11/2022 às 9:00 • Atualizada em 23/11/2022 às 9:34 - há XX semanas

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					Toque do Timbaleiro: Carlinhos Brown ultrapassou fronteiras e ganhou mundo com a Timbalada
Foto: Arquivo

A minha história de amor começou, era 1991, era Salvador. Enquanto o país celebrava o terceiro título mundial de Ayrton Senna, e o Rio de Janeiro recebia Nelson Mandela em uma visita de seis dias ao Brasil, a capital baiana tinha o primeiro contato com o toque inconfundível de um dos maiores projetos do Cacique Carlinhos Brown, a Timbalada.

O batuque da Timbalada deu as rédeas do cenário musical de Salvador nos anos 90. Com a linguagem afro-percussiva, a banda surgiu como um desejo de Brown de difundir o Timbal e para isso, o artista reuniu percussionistas de toda a cidade, com base nos ensinamentos de Mestre Pintado do Bongô.

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O início de tudo

De acordo com o produtor musical Wesley Rangel (1950-2016), a banda deu seus primeiros passos e batuques na frente da WR, o estúdio de gravação mais importante da Axé Music, localizado na Av. Anita Garibaldi, Rio Vermelho.

A história é contada por Rangel no documentário 'Axé - Canto Do Povo De Um Lugar', mas não há quem não tenha como referência o bairro do Candeal quando se fala da Timbalada. É de lá o CEP da banda de 32 anos, parte importante da história de Brown, que celebra 60 anos de existência e presenteia o Brasil com sua arte.


				
					Toque do Timbaleiro: Carlinhos Brown ultrapassou fronteiras e ganhou mundo com a Timbalada
Foto: Arquivo

Criada em 1991, a banda teve seu momento de destaque nacional em 1993, com o lançamento do primeiro disco pela Polygram. Um release da época traz o impacto que o grupo, criado por Brown, teve na indústria musical.

"Quando Brown revolucionou a forma de tocar este instrumento - que antes era tocado na horizontal e com uma mão só e depois passou a ser colocado na vertical e tocado com as duas mãos - Nasceu a base percussiva da Timbalada. A inovação do projeto, desenvolvido por Brown, fez com que os ensaios no Candyall Guetho Square se tornassem tradicionais a cidade, atraindo baianos e turistas. A seriedade da criação saída do bairro do Candeal ultrapassou fronteiras, conquistou o Brasil e ganhou o mundo."

Site da Timbalada

Ao longo dos 30 anos de história, a Timbalada ficou sob o comando de ao menos 12 pessoas. Confira as formações da banda:

  • 1ª FORMAÇÃO - 1991 à 1997 - Ninha Brito, Xexéu e Patrícia Gomes Ninha ficou fora do grupo de 1995 à 1996, quando deu aula de percussão nos Estados Unidos. E Denny se encontrava no projeto social percussivo.
  • 2ª FORMAÇÃO - 1997 à 1998 - Patrícia, Ninha, Denny e Antonio (voz e trombone)
  • 3ª FORMAÇÃO - 1999 - Akira Takakura, Ninha, Juju Gomes, Denny e Amanda
  • 4ª FORMAÇÃO - 2000 à 2006 - Ninha, Amanda Santiago e Denny
  • 5ª FORMAÇÃO - fev 2006 à abr 2007 Denny e Amanda Santiago
  • 6ª FORMAÇÃO - abr 2007 à dez 2016 - Denny
  • 7ª FORMAÇÃO - dez 2016 à jun 2017 - Denny e Millane Hora
  • 8ª FORMAÇÃO - jul 2017 à 2021 - Buja Ferreira, Paula Sanffer e Rafa Chagas
  • 9ª FORMAÇÃO - set 2021 à … - Denny Denan e Buja Ferreira

Em entrevistas, Brown explica que as pinturas da Timbalada, estrelas das capas de grande parte da discografia do grupo, incluindo o icônico 1º CD 'Timbalada' de 1993 com os seios de Patrícia Gomes, tem um significado especial, mas se tornou marca da banda como um improviso.

"Pintar o corpo tem a ver com um ato de respeito e também remete a Iansã e ao meu mestre Pintado do Bongô (…) [Na ocasião] Não chegou a roupa do Mestre, e ele decidiu ir como ele é: pintado. No dia seguinte a gente tinha um ensaio em uma revista importante, que ia nos dar a capa, e nós decidimos fazer as pinturas em todos os integrantes", contou ao Gshow.

Primeiro sucesso nas rádios

Considerada um dos grandes clássicos da Timbalada, o hit ‘Canto Pro Mar’, música responsável por lançar o grupo nos anos 90, chegou ao público após uma confusão na gravadora e transformou a história da banda fundada por Carlinhos Brown.

Segundo Wesley Rangel, a ideia era seguir os planos de Brown e colocar 'Som dos Tribais' nas rádios. Na época, o Cacique conta que tinha medo que achassem que ele era analfabeto por colocar para rodar o país uma música com a letra trocada.

O que o artista não esperava era uma troca nas músicas. Ao invés de 'Som dos Tribais' ir para a rua, uma confusão feita por um técnico da WR colocou 'Canto Pro Mar' para tocar na 'A Tarde FM'.

"Cícero me liga e diz ‘Rangel, eu tô aqui na ‘A Tarde FM’, e Andrezão (André Simões) tá me pedindo aqui a música, que aqui não tem a música’. Ai eu liguei para Rogério, meu técnico e falei ‘Rogerio, faz urgente uma cópia da música da Timbalada e manda para ‘A Tarde FM’ que eles estão precisando com urgência’, quando Rogério vai, copia ‘Canto pro Mar’. Quando chegou lá, Brown disse ‘não, essa não é não, essa aqui que eu gosto’. André falou ‘deixa essa aqui, que é essa que eu vou tocar’."

Wesley Rangel em Axé - O Canto do Povo de Um Lugar

Ao iBahia, o técnico em questão, Rogério Barreto, um dos braços direitos de Rangel na época do lançamento da banda, contou o que gerou a confusão e a troca das músicas:

"Quando Seu Rangel me pediu para fazer a cópia da música 'Som dos Tribais' para mandar para as rádios eu fiz a cópia de uma outra música, que eu achei que era. Porque eu sempre ficava ouvindo a música, e para mim a a música era aquela. Então eu acabei mandando a errada, mas não por saber. Como era uma música que a gente ouvia e gostava eu achei que era ela. Mas felizmente foi a sorte que tivemos com o sucesso da Timbalada".

De lá para cá, foi só sucesso para a Timbalada. O CD lançado em 1993 chegou a receber elogios da crítica internacional, com menção na revista Billboard sendo considerando como um dos melhores na categoria 'World Music'.

Entre os grandes hits da banda estão 'Beija-Flor', 'Fricote da Terezinha', 'Toneladas de Desejo', 'Água Mineral', 'Zorra', 'Cachaça', 'Ashansú', 'Minha História', 'Alegria Original' entre outros, divididos em 17 álbuns.

As vozes da Timbalada

O Cacique já decretou: "não existe ex-timbaleiro. Todos somam, pois o futuro é essa ancestralidade em continuidade". Quem passou pela Timbalada, deixou sua marca e mesmo longe dos vocais, segue eternizado como um eterno Timbaleiro. O iBahia foi atrás de alguns artistas que fizeram e ainda fazem parte dessa história para trazer um depoimento sobre a importância de Brown e da Timbalada em suas vidas:


				
					Toque do Timbaleiro: Carlinhos Brown ultrapassou fronteiras e ganhou mundo com a Timbalada
Foto: Divulgação

Xexéu

"Eu já tinha ido na Timbalada, já tinha achado um movimento de rua muito bonito, muito maravilhoso. Eu fiquei apaixonado pelos tambores, pelo ritmo que a Timbalada tinha. Na época, Ninha teve que fazer um projeto de capoeira nos Estados Unidos, e Brown ficou sem um cantor principal, mas já tinha Patrícia, Alexandre, Denny. Eu fui fazer um teste na Fonte do Boi, no Rio Vermelho, foi quando eu tinha escrito Beija-Flor com Zé Raimundo. Nesse teste, eu cantei ela. Na época, a Polygram estava em Salvador procurando novos artistas e a gente deu a sorte de ser chamado. Fomos para a WR gravar o primeiro disco e a banda se tornou o grande sucesso. Tenho muita gratidão por Brown. Consegui formar minha família, dar uma condição de vida melhor a minha família através dessa oportunidade que foi me dada por Brown. É um pai, me ajudou em momentos difíceis além da música. E graças a Deus hoje tenho esse presente que é a amizade e o carinho por ele e pela banda."


				
					Toque do Timbaleiro: Carlinhos Brown ultrapassou fronteiras e ganhou mundo com a Timbalada

Amanda Santiago

"Lembro de Carlinhos Brown fazendo som com meu pai, eu era criança, ele já me chamava carinhosamente de Dindi, ouvia quando ele falava para meus pais do movimento que reunia muitos percussionistas no bairro, nas oportunidades que estavam surgindo, era Vai Quem Vem, era Timbalada. Recebi o convite de Carlinhos Brown em 1999, lançamos o álbum "Pense minha cor", conceito multirracial e cheio de novidades, lá estava eu nos vocais, com 17 anos. Estar ao lado de Carlinhos Brown tem grande importância pra mim, ele sempre surpreende. Suas realizações vão além da música, ele transforma o mundo a sua volta com amor e inspiração. Agradeço a Deus pela vida dele. Timbalando vai, timbalando vem, Brown é e sempre será o meu bem."


				
					Toque do Timbaleiro: Carlinhos Brown ultrapassou fronteiras e ganhou mundo com a Timbalada

Buja Ferreira

"A minha história com a Timbalada começou através do meu amigo Jaguar, ele é músico de Brown e foi em um evento que eu fazia chamado Amendoado. Quando acabou o evento ele falou para mim, 'Rapaz, você é cantor de rua. Bora lá para casa com pô amanhã'. Fui para casa dele, a gente começou a compor, a gente compôs umas oito músicas e ele foi para Marrocos em uma viagem com Carlinhos. Na volta, Brown ouviu um pen drive no carro com as músicas e perguntou quem era. 'Quero colocar ele numa banda minha'. Ele perguntou se eu tinha contrato com alguém, eu falei que não e ele me falou 'Você vai cantar uma banda minha, mas não posso falar que é'. O tempo passou, fiz uns testes, conheci Rafa e Paula, e ele falou vocês são os novos cantores da Timbalada. Brown para mim é enciclopédia musical. Eu tenho ele como meu pai, como meu amigo, como meu irmão, meu mestre. Conheço Carlinhos há cinco anos, mas a cada encontro que eu tenho com ele para mim é um novo encontro porque são sempre novas experiências. Vou ser sempre grato por Deus ter colocado Carlinhos Brown em minha vida e espero que ele tenha muito muitos anos de vida. Te amo meu professor."


				
					Toque do Timbaleiro: Carlinhos Brown ultrapassou fronteiras e ganhou mundo com a Timbalada
Foto: Vitor Mascarenhas

Denny Denan

"A minha história com a Timbalada começou quando Carlinhos foi visitar um projeto social desenvolvido pela Prefeitura de Camaçari, onde eu fazia várias atividades, dança, teatro, capoeira, cursos de madeira, entre outros cursos, desde os meus oito anos. Ele foi visitar o projeto e eu fui recepcionar, nesse projeto em cantava também. Ele me viu cantando, me fez o convite para ir para o ensaio, fui, cantei, fui aplaudido por todos. No domingo seguinte foi de novo e assim eu passei 30 anos. Carlinhos tem uma importância extremamente grande, pelo fato dele ser um dos os grandes artistas que já tive contato na vida. Eu costumo dizer que Carlinhos é uma um poço de genialidade, onde eu bebi muito dessa fonte e mudou a minha vida musical. Aprendi e continuo aprendendo muita coisa com ele. Foi quem me deu oportunidade dessa abertura de janelas, e de portas para o mundo".


				
					Toque do Timbaleiro: Carlinhos Brown ultrapassou fronteiras e ganhou mundo com a Timbalada
Foto: GB Fotografia

Patrícia Gomes

"Eu não imaginava que cantava, nunca passou pela minha cabeça. As pessoas ouviram eu cantar e passavam para mim que eu cantava muito bem, no primeiro momento não acreditei. A Timbalada estava passando por um período de teste com mulheres, porque só tinha homem. Fui uma das últimas. Tenho muita gratidão, Brown que foi o mentor de tudo isso, me deu a oportunidade de fazer o teste, sendo uma das últimas. Para mim tem uma importância muito grande isso. Ele tem uma importância fundamental, extraordinária na minha vida profissional, por tudo isso que passei na Timbalada. A Timbalada foi uma escola para mim. Eu levava tudo com muita simplicidade. Eu não tinha dimensão do carinho que as pessoas tinham por mim, depois que vim perceber com as redes sociais. Depois que eu saí da Timbalada que eu percebi o quanto que eu sou querida."

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