Eu sou uma mulher de 30 anos. Diferentemente dos dias atuais, nas décadas de 1990 e 2000, quando eu cresci, não havia diversidade nas produções audiovisuais. Todas as novelas, desenhos, canções e romances se desenrolavam a partir de casais heterossexuais (e cisgêneros, brancos, magros… o “padrão”).
A representatividade promove o reconhecimento dos corpos dissidentes e a valorização das nossas existências. Não me foi permitido saber que era possível ser LGBTQIAPN+ e, agora, como uma reparação às vidas historicamente invisibilizadas, preparei uma seleção de criações midiáticas protagonizadas por mulheres que amam mulheres.
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Não poderia começar senão pelo meu favorito, “Rafiki” (TeleCine e YouTube), um filme queniano, país no qual é crime não ser hetero. Ele traz uma sapatão desfeminilizada como personagem principal e a história gira em torno do seu romance com a filha de uma família rival. “Rafiki” é sobre enfrentamento, coragem e ousadia. Aborda machismo, misoginia e LGBTfobia, mas também amor, afeto e esperança. Ele mostra a África para além do estereótipo da miséria e não reduz as personagens ao romance. O silêncio, em “Rafiki”, também comunica muito. Em suma, recomendo demais.
“She-Ra e as Princesas do Poder" (Netflix) é uma releitura do desenho da She-Ra de 1980, que conta a história de Adora, uma soldada da Horda que foi criada para odiar e combater o poder das princesas. Inconformada, Adora foge e descobre que, na verdade, é preciso enfrentar a Horda e livrar Etéria do mal. O desenho traz grande diversidade: princesa gorda, asiática, com TDAH, além da personagem principal, que é lésbica. Na trama original, o arqueiro era ruivo, e agora é negro e filho de dois pais também negros. É um verdadeiro show de inclusão e subversividade.
Devido à absoluta escassez de representatividade à época, “Imagine eu e você” (Prime Video) foi um frisson entre as sapatonas dos anos 1990 e segue sendo um queridinho. Trata-se de uma comédia romântica que fala de amor à primeira vista entre duas mulheres. Uma delas está se casando e, durante a cerimônia, elas cruzam os olhares e isso as marca profundamente. Até então hetero, a agora esposa fica confusa e, apesar de seguir com o casamento, não consegue esquecê-la. A trama se desenrola de maneira leve e tranquila, pois o marido da protagonista percebe que ela não é mais feliz com ele e engaja para que ela encontre sua felicidade. Bom, o restante vocês terão de assistir para saber.
“The L Word” e a sua continuação dez anos depois, “The L Word: Generation Q” (Prime Video), contam a história de um grupo de amigas lésbicas de Los Angeles, se aprofundando nos seus relacionamentos amorosos, amizades, carreiras, alegrias e dificuldades. A primeira, com suas seis temporadas entre 2004 e 2009, foi crucial para o entendimento e saída do armário de muitas lésbicas, sendo um marco no entretenimento sapatão.
Outras indicações imperdíveis são “Feel Good” (cuja história é inspirada na vida de Mae Martin, protagonista e criadora da série, uma comediante sapatona ex-viciada em cocaína que sempre se envolve com mulheres heterossexuais) e o filme “Happiest Season” (estrelado por Kristen Stewart, o longa é sobre um casal de lésbicas em que uma descobre, apenas nas festas natalinas - quando pretendia pedir em casamento -, que a outra mantém segredo sobre o relacionamento delas para a família).
Anota aí esses livros também: “Girls like girls”, “Em todas as gotas de chuva”, “Presságios do amor”, “A lista da sorte”, “Antes que você diga sim”, “Cool for the summer”, “Luzes do norte”, “Última parada”, “Meu lugar ao sol”, “De todas as paradas do mundo” e “Pegas de surpresa”. De música, recomendo as cantoras sapatonas: Josyara, Luana Berti, Ana Gabriela, Juliana Arv, Lizandra, Ana Vilela e Luiza Martins.
Nas redes sociais, sugiro acompanhar as criadoras de conteúdo digital Gisele Palma (eu, claro hahaha), Luísa Assaf, Anna Julia, Maternidade Sapatão, Natalia Rosa, Ana Claudia Carvalho, Gabriela Augusto, Louie Ponto, Lorena Coutinho e Jamine Miranda.
