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O aprisionamento social das lésbicas desfeminilizadas

Violências que mulheres sofrem por rejeitar a feminilidade padrão

Gisele Palma • 24/11/2023 às 15:30 - há XX semanas

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Na primeira vez que saí com uma mulher desfem, estávamos no restaurante e aconteceu esta sequência de eventos: o garçom puxou apenas a minha cadeira para eu sentar (e não a dela), trouxe a cerveja para ela e o drink para mim (apesar de termos pedido especificando de quem seria o quê), perguntou se ela queria assistir ao canal esportivo e, por fim, eu solicitei a conta e ele entregou para ela.


				
					O aprisionamento social das lésbicas desfeminilizadas
O aprisionamento social das lésbicas desfeminilizadas. Foto: Freepik

Essas situações me geraram um desconforto esquisito - eu ainda não tinha entendido que o tratamento diferente era por conta das nossas expressões de gênero divergentes. Quando saímos de lá, comentei sobre o meu estranhamento e ela só disse, com uma calma triste de quem já estava calejada: “bem-vinda à realidade caminhoneira”.

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A lésbica desfeminilizada, popularmente conhecida como a “caminhão”, é a mulher que rejeita os atributos socialmente entendidos como femininos. Geralmente não gosta de usar saia, maquiagem, salto alto, unhas compridas, entre outros aspectos que nos fazem ser lidas como mulheres. A desfeminilidade, portanto, é uma expressão de gênero, é a forma com que a mulher se sente bem em se colocar no mundo, nesse caso, com roupas largas, tênis, boné, cabelo curto etc.

Apenas por conta da sua expressão, uma série de reações externas acontece. Os homens a tratam como brother (puxam conversas sobre futebol e se sentem à vontade para objetificar outras mulheres), é exigida a se feminilizar no trabalho, recebe olhares tortos no banheiro público feminino… Esse, inclusive, é um dos ambientes mais desagradáveis para as desfems, que se veem coagidas a adotar “estratégias” para não serem expulsas, como levantar a blusa para mostrar os seios, entrar falando no celular para ouvirem a voz feminina ou se segurar até chegar a casa (relatos de amigas minhas). Aparentemente, constrangimento faz parte do ser caminhão.

Além de suportar todas essas violências, ainda é um corpo visto como não merecedor de afeto, desautorizado a ser amado. Normalmente a desfem não ganha flores, não é cuidada quando adoece, não é tratada com doçura e sofre a pressão heteronormativa para só se relacionar com meninas extremamente “femininas”. Está tudo bem se atrair por mulher padrão; a reflexão aqui é para romper com a obrigatoriedade de seguir essa lógica. Caminhão também ama caminhão, minha gente.

Poucas falas são tão problemáticas quanto olhar para uma desfem e dizer “então você é o homem da relação”. E que limitante também a noção do que é ser “homem”. Os conceitos de masculinidade, muitas vezes tóxicos para os próprios homens, também atravessam duramente a existência da desfem, que se vê pressionada a corresponder a expectativas de determinados comportamentos sociais e práticas sexuais “masculinos”.

Ao se relacionar com uma lésbica desfem, simplesmente a trate com todo amor, delicadeza e afetividade que qualquer mulher (e qualquer ser humano) merece receber da sua parceria. Faça gentilezas, dê carinho, surpreenda, presenteie, declare-se. Em suma, mime o seu caminhãozinho. E, por favor, apoie a sua liberdade sexual seja um lugar seguro para que ela se sinta confortável em se explorar sexualmente.

Imagem ilustrativa da coluna Educação xualSe
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