Eu vou fazer um desabafo. Fazer terapia não te torna automaticamente melhor do que quem não faz. Tenho percebido que, para algumas pessoas, a frase "eu faço terapia" virou mais um cartão de visita do que um compromisso real com a mudança. É uma forma sofisticada de dizer: “Eu sou inteligente, sensível, desconstruído. Siga confiante, em mim você pode confiar”. E, no dia a dia, muita gente continua repetindo os mesmos padrões de sempre.

É ótimo que hoje as pessoas entendam termos como gatilho, projeção e saibam nomear afeto. Mas parece que valorizamos mais quem fala bonito sobre o erro do que quem realmente tenta não repeti-lo. Um amigo me contou que, mesmo após anos de terapia, ainda reage de forma explosiva em discussões. Ele chama isso de “resposta emocional intensa”, mas, no fundo, o efeito é o mesmo: mágoas se repetem, relações ficam tensas. Criamos termos sofisticados para erros comuns e esquecemos que o objetivo é viver de forma mais consciente, não apenas falar sobre isso de maneira elegante.
Leia também:

Essa é a tendência da “psicologia de bolso”. Você desabafa qualquer coisa e, em poucos minutos, já é classificado: em três eixos emocionais, duas feridas da infância detectadas, meia-teoria do apego aplicada. A psicologia é uma das ferramentas mais nobres da experiência humana. Mas, quando usada como emblema de sofisticação emocional, corre o risco de virar ornamento em vez de instrumento.

Que tal a gente deixar os termos gourmet entre profissional e paciente e focar no que realmente transforma?


Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!

