William Borghetti, 39 anos, é formado em Administração, pós-graduado em Neurociência e Comportamento pela PUC e é aluno especial do mestrado em Neurociência e Cognição. Além de dar aulas, palestras e empreender, William fez das redes sociais o seu palco para compartilhar conhecimento, tornando-se uma das maiores referências em neurocomunicação do país.

De Mauá (na Grande São Paulo) para o Brasil, William mostra que ensinar exige, também, aprendizado constante e que aprender só faz sentido quando se compartilha. Ele não para! Mesmo já com uma carreira em completa ascensão, ele iniciou, este ano, como aluno do mestrado. Antes o que era restrito à sala de aula em escolas públicas e particulares, seu conhecimento ganhou outras proporções e hoje é chamado para participar de eventos e projetos com foco em ajudar famílias, adolescentes e educadores a se comunicarem melhor.
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À frente do IBRANEC (Instituto Brasileiro de Neurocomunicação), ele reúne profissionais de diferentes áreas para cuidar do adolescente de forma integral. Mais do que pesquisador e comunicador, ele se tornou um multiplicador de possibilidades, alguém que acredita no poder de escutar e no impacto que isso pode ter no futuro de uma sociedade.
Se o gênio da lâmpada aparecesse e me oferecesse escolher qualquer trabalho que eu quisesse, eu diria: dê esse presente para outra pessoa, porque já estou no lugar que sempre quis estar. William Borghetti Professor, palestrante e empreendedor
Cristiano Saback : William como começou a sua carreira até chegar a atuar na área da neurocomunicação?
William Borghetti – Cristiano, minha primeira formação é Administração. Comecei atuando com RH. Sempre me incomodou ver profissionais nota 9 tecnicamente e nota 3 na comunicação com clientes. Isso travava promoções, aumentos e oportunidades. O profissional que não sabe se comunicar passa por incompetente. Mesmo ele não sendo, acaba passando essa imagem. Fui pesquisar o porquê de pessoas terem esse medo de falar em público e percebi que esse medo não surgia na vida adulta. É um medo que vem se arrastando desde a infância ou adolescência. Nos últimos 10 anos, mergulhei na neurociência para entender como o cérebro atua na comunicação. Então comecei a atuar com adolescentes, porque é na raiz que a gente previne esse bloqueio.
CS: De que maneira a sua trajetória profissional e vivência influenciaram como você aplica a neurocomunicação hoje?
WB: Sempre fui de interesses aleatórios. Depois que recebi diagnóstico de TDAH, aos 30 anos, entendi melhor, também, a característica do hiperfoco. Tenho fascínios estranhos: estudar rios, trens e aprender italiano. Isso não muda a minha vida prática, mas me alimenta como pessoa. Essa pluralidade me ajuda, porque o ser humano é plural. Se me limitasse a um único nicho, perderia a riqueza. Muitas vezes pensei que deveria ter feito psicologia ao invés de administração, mas foi a administração que me deu amplitude. Na minha atuação como professor sempre consegui lidar com diferentes perfis de adolescentes: o aluno quieto, o bagunceiro, o com hiperfoco ou com algum tipo de transtorno. Essa diversidade me permite compreender melhor cada um. E no Brasil, quanto mais conseguirmos abraçar a pluralidade, melhores são os resultados da neurocomunicação.
CS: Em que momento você percebeu que a neurociência poderia transformar a comunicação?
WB: Quando percebi que a performance de uma pessoa mudava a depender do seu estado emocional. A pessoa calma ia bem, a nervosa travava. Não era só técnica, era o cérebro interferindo. Isso mudou tudo. A neurociência me trouxe as explicações que faltavam para ensinar de forma mais eficaz.
CS: William, hoje você é uma referência em neurocomunicação com mais de 500 mil seguidores, nas redes sociais, além das palestras em todo país. Como foi construir essa autoridade?
WB: Às vezes me perguntam: do que você tem medo? Eu brinco dizendo que meu medo é ter que voltar a trabalhar (risos). Hoje faço o que amo: estudar, comunicar e ser remunerado por isso. Sempre disse para os alunos: “o trabalho vai ocupar os melhores anos da sua vida, os mais saudáveis e produtivos. Então, que ele faça sentido.” Para mim, faz todo o sentido levantar da cama e fazer o que faço. Quando termino uma palestra, por exemplo, vejo uma fila de pessoas querendo tirar foto comigo e penso: olha que privilégio. Mas se me chamarem para carregar mudança, eu fujo (risos). Mas tirar foto? Fico até o dia seguinte se precisar. Entendo, dessa maneira, que o que eu digo toca as pessoas. Quando sou reconhecido na rua, também pedem foto com a minha enteada, a Lubs. Então, entendo e percebo que sou escutado em todos os detalhes e que meu trabalho gera um impacto real. Mas nada disso seria possível sem o time que cuida dos bastidores do meu instituto. Chegar nesse lugar, antes dos 40, é algo que me deixa profundamente feliz. Se o gênio da lâmpada aparecesse e me oferecesse escolher qualquer trabalho que eu quisesse, eu diria: dê esse presente para outra pessoa, porque já estou no lugar que sempre quis estar.
“Cada escolha, uma renúncia. Escolhi o meu trabalho, mas sem perder o laboratório na escola.”
CS: Você começou como professor e hoje vive uma fase de intensa demanda como palestrante e influenciador. Como foi lidar com essa transição?
WB: Cristiano, eu amo a sala de aula, até porque sou filho de professora. O presencial tem um lado especial: a proximidade, o feedback imediato. Mas ao mesmo tempo limita a escala. Para alcançar um milhão de pessoas no presencial, seria necessário mil palestras de mil pessoas cada. Um único vídeo já faz isso. Em 2025, decidi priorizar palestras e internet. Minha saúde mental pesou nessa escolha: a rotina de acordar às 04h da manhã para dar aula começou a comprometer o meu sono e sem dormir bem, eu não performo bem. Sono é sagrado para mim. Mas, ainda assim, mantenho trabalho voluntário em escolas de periferia, onde ajusto a agenda e continuo me conectando com os adolescentes. Cada escolha, uma renúncia. Escolhi o meu trabalho, mas sem perder o laboratório na escola.
CS: Você criou o IBRANEC (Instituto Brasileiro de Neurocomunicação. Qual a proposta desse seu novo empreendimento?
WB: o IBRANEC nasceu para não depender apenas da minha pessoa física e, com isso, aumentar o impacto. Temos um time excelente. Criamos o Adolescenter, um centro do adolescente, que reúne psicóloga, nutricionista, hebiatra e eu. Pouca gente conhece a Hebiatria por exemplo. Uma área da medicina voltada para o adolescente, que é essencial. O Brasil tem mais de 200 milhões de habitantes, do quais 50 milhões são adolescentes, aproximadamente. Essa população já não se conecta mais com um ambiente de consultório pediátrico. Mas sabe quantos hebiatras existem no Brasil? Apenas 300 e, provavelmente, metade deles em São Paulo. Isso mostra como o adolescente vive numa espécie de limbo: não é mais criança para o pediatra, mas também não é um adulto para o clínico. O Instituto foi criado para preencher essa lacuna e dar um olhar integral ao jovem. O adolescente precisa de um suporte que una ciência, saúde e comunicação.
CS: William, percebo que, assim como a sua formação, você criou o IBRANEC com uma abordagem multidisciplinar e um quê de interdisciplinaridade, também. De que forma a sua trajetória influenciou a criação do Instituto e a sua forma de atuar?
WB: Cristiano, já participei de mais de 140 podcasts, horas de gravação, mas nunca fui provocado a refletir sobre essa questão da multidisciplinaridade. Obrigado pela sua pergunta. Estou aqui organizando ao mesmo tempo que lhe respondo (risos). Olha só, o Instituto nasceu dessa visão: se eu adoecer, meu trabalho para. Como meu trabalho não dá para terceirizar, eu precisava estruturar algo além da minha pessoa física. Por exemplo, não dá pra eu ficar sentado fazendo planilha. Aliás, nem tenho talento para isso (risos). Tenho é um cão de guarda, a Cláudia, que organiza tudo pra mim. Tem a Gisele que cuida dessa parte dos contatos. Para eu estar aqui, dando essa entrevista, foi ela que viabilizou a agenda. Cristiano, percebi que muitos profissionais excelentes não têm acesso a essa estrutura e ao marketing ou imprensa. Então o IBRANEC serve, também, para dar visibilidade a essas vozes. No Instituto, a gente conta com a psicóloga de adolescentes Luana Pombo, a nutricionista Gislene Rocha e o hebiatra Dr. Genner Barbosa, de Natal, que lidera o Adolescenter. Percebo que influenciou nesse sentido. Pensei no Instituto como um centro para oferecer apoio integral ao adolescente: neurocomunicação, psicologia, nutrição e medicina trabalhando juntas.
CS: Quais foram os maiores desafios na sua carreira e como os transformou em conquistas?
WB: Eu e minha irmã fomos criados nas mesmas condições e cada um seguiu um caminho diferente, superamos os desafios e nos tornamos bem sucedidos no que fazemos. Ela, hoje, é pilota de avião e já pilotou um dos maiores do mundo, o A380 da Emirates. A minha mãe e o meu pai, apesar de toda a dificuldade, sempre foram incentivadores dos nossos sonhos e isso foi muito importante para mim e a minha irmã sermos quem somos hoje. Sempre destacaram e incentivavam os estudos para conquistarmos nossos caminhos. Crescemos em Mauá, uma cidade da periferia de São Paulo, numa pobreza grande. Nunca faltou comida, mas faltou roupa e cortavam a luz. Aqui existe uma cultura de melhorar de vida e ir embora, dependendo do que cada um escolhe para a própria vida. Eu quis ficar. Por isso, montei meu Instituto aqui em Mauá. Quero que profissionais venham para cá e que adolescentes e escolas daqui sejam referência em saúde mental. Acho que, hoje, esse é o meu maior desafio: de Mauá para o mundo! As escolas sempre fazem a propaganda dos seus alunos aprovados em grandes universidades. Mas cadê a placa dizendo: “Se formou sem síndrome do pânico, sem depressão, saudável mentalmente”?
CS: William qual mensagem você deixa para profissionais que nos leem, muitos deles pais de adolescentes e ou que atuam com eles?
WB: Escutar as pessoas. Principalmente os adolescentes. Escutar é diferente de ouvir. Ouvir, a gente ouve barulho. Escutar é ouvir com atenção e com intenção. Quando escutamos de verdade, muitas soluções aparecem. Quando você interage e pergunta, pode se surpreender com respostas simples e eficazes. Escutar amplia horizonte, diminui preconceitos e cria novas possibilidades.
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