Dono de um talento e carisma incríveis, Bruno Pamponet, 45 anos, publicitário de formação, falou sem parar a cada pergunta. Entregou tudo! Nessa entrevista você pode conferir a sua história desde a sua formação, mudança para o Rio de Janeiro, voltou pra Salvador, do início do seu trabalho na área de estamparia até o momento atual que trabalha com cerâmica. Abriu um Estúdio de Arte Design que leva seu nome, falau como seu TDAH atrapalhou e o ajudou nas suas decisões e na carreira e como o seu processo criativo impulsionou o seu lado empreendedor. A sua trajetória profissional é marcada por desafios e percepção de valor de estar preparado para as oportunidades.
Cristiano Saback: Bruno, ter o diagnóstico de TDAH foi um alívio ou um empecilho na sua vida profissional?
Bruno Pamponet: Saback, foi libertador. Fui diagnosticado aos 40 anos. Não foi fácil encontrar um médico que estivesse disposto a investigar a suspeita que eu tinha. Mas descobrir essa condição, trouxe mais clareza sobre mim, sobre meu foco e a minha agitação. A quantidade de pensamentos e a velocidade que eles aparecem, para mim, são intensas. Provavelmente, por isso, me encontrei numa área profissional em que preciso colocar a minha criatividade para fora. Mas desde o início da minha carreira fui ligado ao criativo.
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CS: Qual a sua formação profissional que deu início à sua carreira?
BP: Comecei por administração. Fiz até o 6° semestre. Migrei para Publicidade. Eu estava de “saco cheio” de ADM: muita contabilidade e números. Embora tenha me ensinado muito. Hoje os cursos de ADM trabalham de maneiras diferentes. Antes eram mais engessados, imagine pra mim que sou assim agitado? (risos) Então, quando passei em Publicidade, me encontrei. O curso abraçava a minha criatividade. Fui fazer na ESAMC. E não era fácil. Me dedicava muito para fazer minhas entregas naquela época. A gente tinha clientes reais, ainda na faculdade. Então a responsabilidade era grande. O cliente chegava sexta-feira a noite e passava um briefing e a gente tinha que dar conta para apresentar proposta no dia seguinte.
CS: Nessa época você ainda não tinha o diagnóstico de TDAH. Mas, pelo jeito que você fala, se encontrou na publicidade. Esse você concluiu, então?
BP: Conclui, mas aconteceram algumas reviravoltas. Quando eu estava lá pelo 6° semestre de publicidade me mudei para o Rio de Janeiro e transferi a faculdade, também. O mesmo curso. Fui pra lá passar umas férias e uma amiga tinha uma fábrica de roupas infantis. Acompanhei os desafios dela de perto. Conversei com ela e meti as caras, foi quando comecei a aprender sobre estampas. Entendi que o mercado era específico e criado para cada nicho. Ela me chamou pra morar lá. Isso aí eu tinha 25 anos. Morei lá 11 anos. O Rio de Janeiro me trouxe muitas coisas. Foi quando entrei no mundo da estamparia. Fiquei dois anos exclusivamente com ela e depois abri a minha própria marca. Consegui colocar peças minhas em novelas e minisséries. Trabalhando com figurino, consegui dar visibilidade em minha marca.
Lidar com artistas, ir ao Projac e circular em novos ares, que eu nem pensava, foi onde meu talento me levou. Ali também fui aprendendo a gerenciar a minha carreira e meu talento. Claro que gostava do reconhecimento das minhas criações estarem em produções da Globo, mas nunca me deslumbrei. Isso me trouxe experiência, visibilidade e me construiu como profissional.
CS: Você nunca pensou em trabalhar numa agência ou no departamento de marketing de uma empresa, ser profissional CLT?
BP: Já no início da minha carreira, descobri que não me encaixava no modelo corporativo: das 09h às 18h. Criatividade não tem hora. Eu era sempre o cara da criação, das artes. Não à toa, deu muito certo a minha experiência no Rio de Janeiro. Embora TDAH ainda seja cheio de estigma, pra mim, quanto mais informações você tiver melhores decisões vai tomar. Sem arriscar, eu não teria criado as coisas que criei. Nao teria conquistado o que conquistei. Sou muito agitado e isso me ajudou muito na minha criatividade e nos meus negócios. Ajudou no meu trabalho. A minha marca era bem trabalhada.
CS: Hoje você está de volta a Salvador. Como foi esse retorno?
BP: Quando voltei para Salvador não trouxe a minha marca, porque a estrutura era outra. Apesar de mandar coisas pra cá, pra loja da minha irmã e as pessoas comprarem minhas criações. Tinha minha marca de roupa a Urbano. Poderia ter até trazido, porém, eu não queria mais trabalhar com varejo na parte mais burocrática e administrativa que demandava muito de mim. E eu sou da criação. Consegui entender que não seria a mesma coisa que o Rio de Janeiro. Mas eu precisava voltar pra Salvador por questões familiares. Meu contrato de aluguel estava vencendo e pesei pós e contras. Escolhi voltar.
Na época liguei para Robério Sampaio, da IO, e conversamos bastante. Recebi uma proposta e fiquei mais tranquilo. Fiquei exclusivo trabalhando para marca. Ia trabalhar ali Bahia Textil, no bairro do Uruguai, onde conheci várias outras marcas. Me enturmei. Quando acabou o contrato de exclusividade comecei a trabalhar com várias outras marcas. Continuei trabalhando muito com estampa, mas acabava fazendo várias outras coisas: repaginava loja, identidade visual e fotografia. Com a agitação que tenho, parece que atraia as oportunidades. (risos) Tudo era aprendizado.
CS: Mas eu conheci seu trabalho através da exposição que você participou ali no Rio Vermelho. Mas não tinha nada de estamparia. Lembro das suas criações em cerâmica. Me conte mais sobre isso. Você descobriu um novo talento criativo?
BP: Saback, quem é criativo e tem sentido de urgência, não perde uma ideia. Não deixa passar a oportunidade de criar algo novo. Estamparia e a cerâmica, pra mim, tem pontos em comum: o meu instinto e intuição criativas. Isso diz muito sobre mim. Meu sentido de urgência é grande, então passei a usar isso a meu favor. Claro que hoje, trabalhando com criação em cerâmica, tenho que respeitar o tempo dela, do forno. Aí, tiro proveito do meu hiperfoco. Não dá pra brigar com cerâmica, senão você perde. Além das redes sociais, os convites para expor têm acontecido, o que me deixa muito feliz. Esse especificamente que você está falando foi na Galeria Villa Art. Certa vez, Dan Maior me convidou para participar de um livro com outros artistas, isso também me ajuda a ter o meu trabalho sendo visto como arte. Foi através dessa publicação que conheci Carol Sousa, que na segunda amostra com artistas baianos, me convidou para expor na galeria.
CS: Como foi que a cerâmica surgiu na sua vida profissional?
BP: Os algorítimos começaram a me sugerir esse tipo de conteúdo. (risos) Ver todo o ritual de criação de peças em cerâmica passou a ser terapêutico. Além disso, me despertava o foco e a criatividade. Aí descobri que existia uma fábrica de forno de cerâmica aqui em Salvador. Eu não precisaria esperar vim de São Paulo. Vi tudo se encaixando. Vi que dava pra fazer. Vendi meu carro, me organizei e aluguei um espaço aqui perto de casa que é onde hoje funciona o Estúdio Pamponet. Comprei o forno, argila e comprei o esmalte. Torcendo pra tudo dar certo. Tinha planejado, mas tinha vontade também.
CS: Percebi que no seu trabalho a baianidade é bem presente, tanto nas produções em azulejos como nas criações de esculturas e objetos de decoração. Isso é uma marca do Estúdio Pamponet?
BP: Isso que você vê é uma manifestação das minhas raízes. A Bahia é de onde venho. Quando morei no Rio valorizava mais a Bahia. Todo mundo me pedia pra fazer Moqueca Baiana. É aquela coisa: a gente sai da Bahia, mas a Bahia não sai da gente. Já quando eu trabalhava com estampas, a baianidade estava nas minhas criações e a minha primeira peça de cerâmica que me deu muita visibilidade foi a escultura de Fitinha do Senhor do Bonfim. Mas já existem ideias para explorar mais a brasilidade. O Brasil é imenso e cheio de referências culturais que certamente , também, são inspiração para o meu trabalho. Aqui na Bahia tem procura pelas minhas criações, mas tenho encomendas do Brasil inteiro, inclusive de empresas que presenteiam seus parceiros, colaboradores e clientes. Minha responsabilidade aumentou, junto com meu compromisso de criar. Então o meu lado criativo já está querendo trazer outros componentes para as minhas criações.
CS: Você fala muito em criatividade e em TDAH. Tem alguma relação?
BP: Parece que TDAH é ligado à dispersão, né? Na verdade, o processo de autoconhecimento junto com o diagnóstico me trouxe mais liberdade para exercer a minha profissão que em toda a minha carreira permeou a criatividade: desde a estamparia até a cerâmica. Sou muito atento a tudo ao mesmo tempo e, às vezes, um estímulo específico desperta o hiperfoco. Ah! É importante falar que mesmo com essa agitação toda, eu cumpro os prazos das responsabilidades da minha empresa e com meus clientes também. (risos) É bom deixar isso claro.
CS: Quais são os próximos passos, Bruno?
BP: No momento estou muito feliz com as minhas peças na Casa Cor Bahia e na Mostra Casas Conceito, que estão acontecendo agora aqui em Salvador e que têm essa proposta de arquitetura, arte e design. Esses convites me inspiraram a ampliar meu portfólio. Além do que eu já crio, quero estudar mais a parte de mobiliário e começar a criar para esse nicho também. Dar um freio à minha criatividade não é uma opção. Trabalho com o que gosto, encontrei meu ritmo e o respeito. Provavelmente, por isso, as coisas deem tão certo. Alçar novos voos é sempre arriscado, mas tenho a responsabilidade de ler o cenário antes de qualquer decisão. O que permanece comigo é a minha inquietação para o novo e dar vida às minhas ideias.
Cristiano Saback
Cristiano Saback
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