O cinema brasileiro atingiu, no ano de 2024, um fôlego inigualável. Em janeiro, as produções nacionais levaram 3 milhões de pessoas às salas, alcançando 31,3% das sessões programadas. Para efeito de comparação, no mesmo período de 2023, foram apenas 114 mil espectadores. Os dados da Agência Nacional de Cinema (Ancine) confirmam: trata-se do melhor resultado dos últimos seis anos. E mais: só no primeiro mês de 2024, a bilheteria superou R$ 59 milhões, equivalente a 80% de toda a arrecadação do cinema nacional no ano anterior.

Esse crescimento não se resume a números: ele reacende a busca por narrativas que exploram a pluralidade cultural do Brasil. Nesse cenário, a Bahia desponta como fonte inesgotável de inspiração, seja como território de histórias, seja como berço de artistas, cineastas e personagens que marcaram nossa identidade.
Leia também:
Confira uma seleção de filmes não óbvios inspirados na Bahia ou em baianos, que ampliam o olhar para além dos títulos mais conhecidos:
1. Quilombo Rio dos Macacos

Dirigido por Josias Pires e Josias Pires Neto, Quilombo Rio dos Macacos é um registro cinematográfico que ultrapassa a ficção para lançar luz sobre uma realidade marcada por resistência e violações. Filmado entre Salvador e Simões Filho (BA), o longa parte de fatos reais para narrar a trajetória de uma comunidade quilombola que, há décadas, luta pelo direito à terra de uso tradicional, território hoje reivindicado pela Marinha do Brasil. Mais do que retratar um embate jurídico, a obra expõe as feridas abertas pela negação de direitos básicos, como o livre ir e vir, o acesso à água potável, saúde, educação e trabalho, compondo um retrato contundente da persistência de desigualdades históricas no país.
O documentário registra não apenas os conflitos e tentativas de negociação em torno da permanência no território, muitos deles gravados pelos próprios quilombolas, mas também aspectos culturais, simbólicos e ambientais que marcam a identidade da comunidade.
A força da obra foi reconhecida em 2017, quando recebeu os prêmios de Melhor Longa Baiano pelo Júri Oficial e pelo Júri Jovem no XIII Festival Internacional Coisa de Cinema. No mesmo ano, abriu o 8º Festival Cachoeira Doc e percorreu mostras em São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Hoje, o filme segue acessível ao público na plataforma Libreflix, ampliando o alcance de sua denúncia e de sua memória coletiva.
2. Fevereiros

Nascido do carnaval vitorioso da Mangueira em homenagem a Maria Bethânia, Fevereiros (2017) é um documentário que entrelaça arte, memória e identidade brasileira. Dirigido por Marcio Debellian, o filme percorre os caminhos entre Rio de Janeiro e Bahia para revelar os fios familiares, festivos e religiosos que inspiraram o enredo campeão. A obra acompanha desde a concepção do desfile até a volta da artista ao Recôncavo baiano, registrando festas em Santo Amaro da Purificação e lançando luz sobre questões históricas e atuais, como as raízes do samba, a tolerância religiosa e o enfrentamento ao racismo.
O documentário reúne vozes de peso, entre elas Caetano Veloso, Chico Buarque, Luiz Antonio Simas, Mabel Velloso, Leandro Vieira e Squel Jorgea, compondo um mosaico afetivo e político em torno de Bethânia.
Disponível no GloboPlay, Fevereiros conquistou em 2018 o prêmio de Melhor Filme Brasileiro, reafirmando sua potência como retrato de uma das maiores intérpretes do país e das múltiplas camadas de nossa cultura popular.
3. Jonas e o Circo sem lona

Escrito e dirigido por Paula Gomes, Jonas e o Circo sem Lona é um longa-metragem de 2015 que estreou no Festival Internacional de Documentários de Amsterdã (IDFA) e chegou aos cinemas brasileiros em 2017.
O filme acompanha Jonas, um garoto de 13 anos de Salvador (BA), que sonha em manter vivo o circo que construiu no quintal de casa. Entre lonas improvisadas e números de fantasia, a obra revela não apenas a potência do imaginário infantil, mas também um dilema social urgente: o desejo de Jonas em abandonar a escola para se dedicar inteiramente ao seu sonho, tensionando a realidade da educação no Brasil.
Disponível no Apple TV e no YouTube, o documentário já percorreu mais de 30 festivais ao redor do mundo, conquistando 13 prêmios em países como México, Estados Unidos, Espanha e França. Foi ainda o único representante latino-americano na competição First Appearance do IDFA. No Brasil, recebeu distinções como Melhor Longa pelo Júri Especial no Festival Panorama Internacional Coisa de Cinema (2016), Prêmio Destaque do Cine Esquema Novo e Menção Especial do Júri no Cachoeira Doc, ambos em 2016. Um retrato sensível da persistência dos sonhos em meio às contradições da infância e da vida escolar.
4. Bahia, Por exemplo

Lançado em 1969, o documentário Bahia, Por Exemplo tornou-se um registro de valor histórico inestimável para a música popular brasileira e para a memória cultural do país. Dirigido por Rex Schindler, o filme acompanha uma viagem a Salvador e constrói uma panorâmica da efervescência baiana do período.
Entre pincéis e esculturas, visita ateliês de nomes como Carybé, Hansen Bahia e Mário Cravo, além de destacar mestres do artesanato popular, como Didi. A obra também mergulha nos símbolos do imaginário coletivo, trazendo a festa de Iemanjá, os rituais do candomblé e a expressão da capoeira.
O elenco de presenças ilustres reforça o peso da produção: Gal Costa, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Jorge Amado, Glauber Rocha, Carlos Bastos e Dorival Caymmi surgem como testemunhas e protagonistas de um momento em que a Bahia projetava sua influência artística para além das fronteiras nacionais. Disponível no YouTube, o filme segue atual como um retrato da convergência entre música, artes plásticas, literatura e tradições populares, em um tempo em que a cultura baiana se afirmava como força criativa universal.
5. Bahêa Minha Vida

Produzido como uma declaração de amor à torcida tricolor, o documentário Bahêa Minha Vida (2022) mergulha na paixão pelo Esporte Clube Bahia, revivendo conquistas históricas e trajetórias que marcaram o clube.
Dirigido por Márcio Cavalcante, o longa reúne 120 entrevistas com jornalistas, jogadores, árbitros e comentaristas, além de costurar imagens que traduzem a intensidade das arquibancadas e a emoção do torcedor baiano.
A obra conta ainda com participações de grandes nomes da música, do esporte e da cultura nacional, como Pelé, Claudia Leitte, Carlinhos Brown, Luiz Caldas, Ziraldo Alves, Margareth Menezes, Daniel Alves e Armandinho. Disponível na íntegra no YouTube e também para aluguel ou compra na Amazon, o filme se firma como um retrato vibrante da relação entre o clube e sua torcida, que extrapola o futebol para se tornar expressão cultural da Bahia.
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!

