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Ópraí Wanda Chase

Diretor baiano fala sobre protagonismo negro em 'Amor Perfeito'

Elísio Lopes Júnior anunciou ainda, em primeira mão, que em outubro estreia um musical contando as histórias dos milagres de Santa Dulce

Wanda Chase • 16/03/2023 às 11:27 • Atualizada em 23/03/2023 às 10:33 - há XX semanas

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					Diretor baiano fala sobre protagonismo negro em 'Amor Perfeito'
Divulgação

A câmera vai virar na novela das seis da TV Globo. Quem garante é o diretor baiano Elísio Lopes Júnior, que escolheu a arte para combater o racismo. Elísio tem uma história de sucesso e está há cinco anos na Rede Globo, no Rio de Janeiro. De volta a Salvador, ele anuncia em primeira mão que em outubro estreia um musical contando as histórias dos milagres de Santa Dulce.

WANDA CHASE - De volta pra casa ?

ELISIO LOPES - Sim, de volta pro nosso lugar. Quem tem pra onde voltar, nunca fica sem destino .

WC - Seja bem vindo, a cena agora é sua….

EL - Bom que é uma cena fruto do coletivo, é uma construção que está sendo feita por muitas mãos. Eu estava conversando com meu mestre Zebrinha esta semana, dizendo como a gente se sente seguro do que a gente tá fazendo porque a gente tem base. A gente nascer em Salvador, assistir você na Tv, ver o Balé Folclórico da Bahia no palco, o Ilê Aiyê nas ruas, isso nos dá uma base de firmeza, de certeza de que, sim, a gente sabe fazer, a gente faz, tem o que dizer. Isso se constrói em tudo que eu fui buscar e a certeza de que nós sabemos fazer, nós podemos fazer cada vez mais amplo, cada vez maior.

WC - Você entra em um novo campo de trabalho. E aí fazer novela estava em seus planos ?

EL - Outro dia me perguntaram se era o meu sonho fazer novela. Eu disse: ”o meu sonho é conversar com todas as pessoas, meu sonho é fazer com que essas histórias cheguem a mim e a mais pessoas e mais lares a cada dia. Eu acho que a novela é a maior opção de entretenimento no Brasil, isso desde que eu nasci ( 1976) e continua independente . A gente pode falar aqui, virou streaming, virou série, porque o país virou outra coisa, porque o país em sua grande massa, tem a novela como opção de entretenimento, educação, de lazer, de babá e tudo mais. A novela é o grande carro chefe disso, a novela é o assunto, é a companhia. Sim ! É um sonho meu fazer com que as histórias sejam compartilhadas pra minha mãe (dona Lúcia Lopes ), pras minhas tias, pra quem eu acredito que mereça e deseja essa inspiração.

WC - Como foi o convite pra fazer 'Amor Perfeito'?

EL - A Duca Rachid e o Júlio Fischer, que são os autores originais desse projeto, me chamaram no início do ano passado. Fiz com a Duca alguns projetos na Globo Play. Ela foi direta: “quer fazer novela?“ . Eu disse: topo! Nunca fiz.” E ela perguntou se eu tinha certeza. Fiquei intrigado e ela respondeu: não vai ter vida? Eu disse: Duca, eu vou, se eu não gostar eu não repito”. Estou apaixonado. É história todo dia. São 167 capítulos, mais de seis meses dentro das casas das pessoas, praticamente é um filme por dia, é muito conteúdo. São mais de 400 pessoas trabalhando, uma engrenagem fantástica, cidade cenográfica gigantesca, equipe de pesquisa, de figurino, equipe de arte… É tanta gente trabalhando. Somos seis autores. O projeto é de Duca Rachid e Julio Fischer e eles me chamaram para compor esse trio que planeja e pensa essa novela, que cria cada passo. Desde abril do ano passado trabalhamos seis, sete horas por dia, virtualmente. Nossa sala de roteiro é virtual, eles em São Paulo e eu aqui em Salvador.


				
					Diretor baiano fala sobre protagonismo negro em 'Amor Perfeito'
Divulgação

WC - O que Amor Perfeito tem de especial? Em que ela difere das outras novelas de época que já vimos?

EL - Vamos virar a câmera. O discurso é imagem na televisão. Você lembra dessas histórias de virar a câmera. Nos programas de auditório só se filmava as primeiras filas, tudo gente branca de cabelo liso. Os pretos não apareciam, ficavam no fundo do auditório. Agora, vamos virar a câmera e mostrar quem é real, quem é o povo brasileiro. Quem assistir Amor Perfeito vai ver uma novela de época diferente, isso é um ponto fundamental. Você vai ver os pretos em vários lugares e não só servindo, mas como protagonistas, os moradores da cidade, a dona do salão de beleza mais chic da cidade é negra, vai ter preto na estação de trem, na formatura, no grande baile da cidade você vai ver negros e negras lindíssimos, bem vestidos, usando tranças, cabelos crespos, porque é esse país que nos interessa. Vai ter médico negro. Ah! Mas não era assim na década de quarenta ( alguns vão questionar). Muita coisa foi ao ar como não deveria ser.

WC -Foi difícil formar o elenco ?

EL- Não foi difícil encontrar o elenco. A gente está trazendo um ator que é pouquíssimo conhecido que é o Diogo Almeida. Ele já fez até participações na Globo, mas se você pensar num protagonista na Globo nem pensaria nele. Diogo fez uns três meses de teste, não é todo mundo que passa três meses fazendo teste. Cada etapa é uma construção, cada etapa vem um obstáculo, e você transpõe. É a rotina, em tudo. Não vem de graça. Olha o elenco: Isabel Filardis - 12 anos fora da Globo - Juliana Alves, Kala Kabenlele, Tony Tornado. Cinquenta por cento de elenco preto, cinquenta por cento de figuração preta. Tem baiano e baiana no elenco: Maria Gal, Rose Lima, Levi Assafi

(protagonista mirim) , Ana Cecília Costa. O discurso é a imagem na televisão, as narrativas não são gratuitas, começa num roteiro que a gente está fazendo. São as demandas que a minha presença impõe. A minha parte é uma revisão de vocabulário, de perspectiva. Quero destacar a presença do diretor artístico dessa novela, o diretor André Luís Cânara, primeiro diretor artístico da Tv Globo. A gente junto tem essa missão.

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WC- Em quem você se inspirou para essa novela ?

EL - Na história de Juliano Moreira, médico negro pioneiro da psiquiatria no Brasil. No Dr. Eduardo Soares, um dos primeiros médicos de Ilhéus, formado pela Faculdade de Medicina da Bahia, a primeira do Brasil. Eu li uma pesquisa feita pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, a segunda do Brasil, que em 1940 tinha mais negros naquela Faculdade do que nos anos 70. Outro dado importante, muitos estudantes que se declaravam pardos ao entrar e saiam como brancos. O que significa isso? Que a gente foi para um espaço de branqueamento. Proporcionalmente falando a gente estava ali, nossa presença estava ali só que era muito difícil ser a gente, era muito mais fácil buscar estratégias de branqueamento e sair desse lugar do que reafirmar a minha existência nesse lugar. Isso levou o Brasil a uma virada de câmera, a gente focou nos brancos e os pretos que estavam ali não beijavam na boca na televisão. Tem muita história de branqueamento, não se ver é uma estratégia. Não ter como se reconhecer e não ter em quem se inspirar, focar, porque não tenho referência.

WC -Por que você voltou pra Bahia?

EL -Senti saudade e queria que minhas três filhas fossem criadas aqui. Primeiro porque ser estrangeiro não é bom. O baiano é muito diferente do carioca. Minhas filhas estavam virando funkeiras, sem conhecer o Olodum, sem comer acarajé. Isso tudo pra gente culturalmente é muito estranho. E os valores são outros. No Rio de Janeiro eles respeitam pouco os mais velhos, tem essa relação, chamam todo mundo de você. A mãe da colega é você. Aqui a gente chama de tia. A minha filha mais velha tem 11 anos e as duas gêmeas tem 8. Estão numa fase de construção de valores. Tem outra situação, minha mulher não se adaptou. E essas coisas são significativas e eu priorizo a elas. Pra mim é mais importante que a família esteja bem !

E nós vamos conferir a nova novela das seis: Amor Perfeito!


				
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Imagem ilustrativa da coluna ÓPRAÍ WANDA CHASE
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