Em 2021, vimos surgir 3 cantoras e compositoras que apresentaram uma novidade na cena de música pop baiana: as canções suaves, mas ao mesmo tempo dançantes. Melly, Rachel Reis e Sued Nunes trouxeram no meio da pandemia um trabalho que dialoga com diferentes referências baianas, mas sem a pulsação energética que marca forte da música feita no Estado.
As artistas têm trajetórias bem distintas, mas a grande visibilidade quase que simultânea que elas tiveram, aproximaram seus caminhos como representantes de um novo momento da música pop baiana. Entrevistei as 3 artistas no meu podcast Pop Negro BA e falamos sobre como elas têm aproveitado a visibilidade para fortalecer as carreiras e, consequentemente, a cena da música pop baiana.
Melly
Jovem artista, de apenas 20 anos, Melly traz um estilo R&B baiano, com influências de Amy Winehouse e de ritmos locais, como o pagodão e o samba-reggae. Ela começou muito cedo na música e aos 6 anos já tocava piano. Depois, ela mudou para o violão e com 17 anos, deu início a carreira como cantora e compositora. Os primeiros lançamentos, gravados em casa, tiveram uma recepção que surpreendeu a artista e impulsionaram novas iniciativas.
Em 2021, a Melly lançou o EP Azul e chamou atenção do público, inclusive de nomes como Liniker, Baco Exu do Blues, Larissa Luz, Luedji Luna e Saulo, com quem ela gravou o single Então Volta. Muito do reconhecimento que a cantora e compositora conseguiu conquistar se deve à sua maturidade artística, que impressiona pela pouca idade. O estilo de canto, as temáticas tratadas nas composições e a sonoridade particular a tornam um dos destaques da mais nova geração do pop baiano.
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Rachel Reis
Direto de Feira de Santana, Rachel Reis mistura as referências locais, como o samba-reggae, o arrocha e o pagode, ao universo do pop e da MPB. Sua lista de inspiração traz nomes como BaianaSystem, Mayra Andrade, Céu, Gilberto Gil, Amy Winehouse e Jorge Ben. Com um timbre peculiar, que funciona bem nas suas composições e traz uma personalidade para as releituras, Rachel está em fase de se experimentar no palco, rompendo a timidez, e construindo sua identidade artística sem muita preocupação de se encaixar em um rótulo.
O trabalho com a música foi inspiração da mãe, Maura Reys, que foi cantora de arrocha na época da emergência do gênero, e atualmente se dedica à carreira gospel. Sua irmã, Sarah Reis, também se dedica à música como cantora de forró e pisero. Rachel diz que demorou para seguir o caminho da família, mas desde 2020 tem lançado canções autorais e prepara seu primeiro álbum, que deve sair ainda neste primeiro semestre.
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Sued Nunes
Com uma musicalidade calcada nas matrizes afro-baianas, especialmente o candomblé, Sued Nunes também começou a se dedicar à música ainda criança em Sapeaçu, sua cidade natal localizada há pouco mais de 150 km de Salvador. Foi na infância, que ela aprendeu a tocar violão e, na adolescência, passou a cantar em bares e eventos. Foi depois que se mudou para Cachoeira, para cursar história na Universidade Federal do Recôncavo da Bahia (UFRB), que ela passou a desenvolver uma carreira autoral na música.
Em 2021, a artista lançou o álbum Travessia, um trabalho 100% autoral, que conquistou o público através da canção Povoada, uma ladainha que traduz em versos a ancestralidade que acompanha a fé da cantora. Com seu discurso, Sued relaciona as questões que envolvem a sua vivência de uma mulher negra de candomblé do Recôncavo da Bahia. Descolada de qualquer noção de centro, ela apresenta possibilidades para ir além das limitações que poderiam lhe limitar.
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Marcelo Argôlo*
Jornalista e pesquisador musical que acompanha o cenário musical baiano desde 2012. Mestre em Comunicação pela UFRB, ele é autor do livro Pop Negro SSA e mantém ainda o Instagram @popnegroba sobre a música pop negra da Bahia.
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