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Tabus, Tretas e Troças

Os bastidores de mais uma aclamação (ou eleição que não existiu)

A última vez em que a CBF teve dois concorrentes na disputa foi em 1989, quando Ricardo Teixeira derrotou Nabi Abi Chedid, então vice da CBF

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Sílvio Tudela

03/06/2025 às 10:32 - há XX semanas
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O médico e empresário de 41 anos Samir Xaud foi aclamado presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) para um mandato de quatro anos. Sua eleição ocorreu no dia 25 de maio em um pleito esvaziado e marcado pelo boicote de diversos clubes da Série A, que protestaram contra a falta de diálogo e transparência no processo eleitoral.


				
					Os bastidores de mais uma aclamação (ou eleição que não existiu)
Samir Xaud assume CBF. Foto: Rafael Ribeiro/CBF

O dirigente foi eleito diante da presença de 26 federações e 20 clubes, sendo 10 da Série A (Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Ceará, Cruzeiro, Grêmio, Palmeiras, Santos, Vasco e Vitória) e 10 da Série B (Amazonas, Athletic, Avaí, CRB, Criciúma, Operário, Paysandu, Remo, Vila Nova, Volta Redonda). Santos e Cruzeiro tinham prometido boicote à eleição junto a outros clubes, mas acabaram comparecendo, o que não quer dizer que tenham votado em Samir Xaud, já que houve 103 dos 108 votos possíveis. Entre as federações, só a Federação Paulista, de Reinaldo Carneiro Bastos, se ausentou.

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Em seu discurso de posse, o novo presidente prometeu implementar medidas como a redução dos campeonatos estaduais e a criação de um grupo de trabalho para estabelecer regras de fair play financeiro no futebol brasileiro. Ele também enfatizou a importância da estabilidade institucional para o desenvolvimento do futebol nacional, incluindo a profissionalização da arbitragem e o fortalecimento do futebol feminino.

O caminho até a aclamação

Após a destituição de Ednaldo Rodrigues da presidência da CBF envolvido em acusações de fraude, uma série de articulações nos bastidores envolveu dirigentes, clubes e federações para definir seu sucessor. O nome de Samir Xaud emergiu como o único candidato à presidência da CBF, sendo eleito com o apoio de 25 das 27 federações estaduais e clubes como Vasco, Palmeiras e Grêmio.


				
					Os bastidores de mais uma aclamação (ou eleição que não existiu)
Samir Xaud (centro) seus vices e apoiadores, no registro da chapa na sede da CBF, no Rio de Janeiro. Foto: Divulgação/CBF

As 27 federações estaduais desempenham um papel crucial nas eleições da CBF, pois cada uma possui peso três no colégio eleitoral, enquanto os clubes da Série A têm peso dois e os da Série B, peso um. Essa estrutura torna o apoio das federações decisivo para qualquer candidatura. Quem tem o apoio das federações larga muito na frente, pois juntas somam 81 pontos contra 60 dos clubes.

Para poder lançar a candidatura, é preciso o apoio de ao menos quatro federações (12 votos) e de quatro clubes das Séries A e B (12 votos). Historicamente, os presidentes angariam apoio suficiente das federações nos meses que precedem a eleição, tornando o pleito uma mera formalidade, pois quem está no poder se reelege ou elege o sucessor. A última vez em que a CBF teve dois concorrentes na disputa foi em 1989, quando Ricardo Teixeira derrotou Nabi Abi Chedid, então vice da CBF.

Tentando interromper o atual ciclo na presidência, o jogador Ronaldo Nazário até tentou se colocar como adversário de Ednaldo Rodrigues nas eleições no início deste ano. Mas, ao procurar as federações, o Fenômeno encontrou 23 portas fechadas e se viu obrigado a desistir da candidatura. Já o agora destituído dirigente baiano, ao lançar sua chapa em busca da reeleição, há dois meses, contou com o apoio integral das 27 federações e de 26 clubes.


				
					Os bastidores de mais uma aclamação (ou eleição que não existiu)
Samir Xaud assume CBF. Foto: Divulgação/CBF

A CBF enfrenta uma crise institucional que vem de longa data e se aprofundou após a destituição de Ednaldo Rodrigues. A indicação de Samir Xaud e sua aclamação foi vista internamente como uma forma de restaurar a estabilidade e evitar interferências externas, como as da FIFA, que havia alertado sobre possíveis sanções caso houvesse influência indevida de terceiros na gestão da entidade.

O fato é que mais uma vez o processo eleitoral da CBF reflete as complexas dinâmicas de poder dentro da instituição, onde o apoio das federações estaduais e a busca por manter o status quo desempenham papéis fundamentais na definição da liderança da entidade.

Quase rolou uma eleição de verdade com dois candidatos

A oito dias do pleito, o presidente da Federação Paulista de Futebol (FPF), Reinaldo Carneiro Bastos foi anunciado como candidato à presidência da CBF. De acordo com publicação feita pela FPF, a candidatura surgiu do incentivo e apoio de "federações e por um grande número de clubes das Séries A e B do Campeonato Brasileiro". "Há pelo menos 10 anos, a Confederação Brasileira de Futebol se notabilizou por frequentar páginas policiais, com escândalos e disputas judiciais. Nenhum dos últimos cinco presidentes da CBF terminou seu mandato, pelas mesmas razões. A Seleção Brasileira deixou de estar entre as melhores do mundo. E, internamente, é notório que o nosso futebol está muito aquém do seu potencial", destacou. Mas sem o apoio das federações, Reinaldo Bastos acabou tendo o mesmo destino de Ronaldo Nazário e foi obrigado a desistir, o que inviabilizou realmente uma eleição.

Ednaldo Rodrigues sai de cena

Mas a troca de comando só se tornou possível porque Ednaldo Rodrigues se rendeu às decisões judiciais e informou ao Supremo Tribunal Federal (STF) na segunda-feira, dia 19, que não tentaria mais retornar ao seu cargo. O dirigente havia entrado com vários recursos na Corte, após ser afastado por ordem da Justiça do Rio de Janeiro.

Segundo a imprensa que cobre os bastidores da CBF, Ednaldo Rodrigues começou a amadurecer a ideia de desistir ao perder apoio em Brasília após o ministro Gilmar Mendes, do STF, não acatar seus pedidos de recursos no domingo, 18. O ex-presidente da CBF também perdeu o apoio da FIFA e da Conmebol, na manhã da segunda-feira, 19, sendo destituído do Comitê Executivo das duas organizações.

Sem o apoio das federações, dos clubes e das entidades representativas, Ednaldo Rodrigues saiu de cena e sua desistência deixou o caminho livre para Samir Xaud ser aclamado novo presidente da CBF.

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