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COMPORTAMENTO

Luccas e Felipe Neto dizem lidar com transtornos e depressão

O megassucesso na web coloca Felipe e Luccas como o segundo e o terceiro maiores youtubers do Brasil (considerando-se o número total de inscritos em seus canais, ficam atrás apenas de Whindersson Nunes, com 32,5 milhões) e faz os rapazes quebrarem recordes até num mercado quase substituído pelo digital: o de livro

Redação iBahia • 25/11/2018 às 9:06 • Atualizada em 27/08/2022 às 17:45 - há XX semanas

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Em 2018, o Rio de Janeiro alcançou uma população de 17,2 milhões de pessoas, de acordo com dados do IBGE. O terceiro estado mais populoso do país tem três 3.4 vezes menos habitantes do que os canais dos cariocas Luccas e Felipe Neto no YouTube. Juntos, os irmãos acumulam 59,9 milhões (20,8 milhões o primeiro, 27,5 milhões o segundo e 11,6 o canal Irmãos Neto) de seguidores. A expressiva audiência na internet é o que impulsiona os negócios dos influenciadores, hoje donos de empresas (como quiosques de coxinhas de frango em shoppings) e produtos do ramo digital — entre eles, aplicativos de celular e produtoras de conteúdo para a web. Além disso, os irmãos são investidores em patrocínios pontuais para o time do coração (a busca pela linha infantil do Botafogo cresceu 500% em dois dias após uma ação da Neto’s).

O megassucesso na web coloca Felipe e Luccas como o segundo e o terceiro maiores youtubers do Brasil (considerando-se o número total de inscritos em seus canais, ficam atrás apenas de Whindersson Nunes, com 32,5 milhões) e faz os rapazes quebrarem recordes até num mercado quase substituído pelo digital: o de livros. No primeiro semestre deste ano, “As aventuras de Netoland” (Ediouro), de Luccas, bateu um recorde histórico no Brasil, vendendo 55 mil exemplares antes mesmo de a publicação chegar às livrarias. O fenômeno que rende cifras milionárias é resultado da aposta de Felipe, sete anos atrás. Ele entendeu que não era a hora de criar um website nem de fazer sua homepage. Em 2010, ele descobriu com quantos gigabytes se faz uma jangada pela maré que já emergia nos Estados Unidos: produzir vídeos para um tal de YouTube...

— Ia fazendo para ver o que acontecia. Sabia que alguma coisa maior ia rolar porque eu acompanhava os americanos. Eles estavam bem à frente. Então, comecei a estudar, ler, principalmente business, e entrar de cabeça neste mundo — diz o ex-aluno recente de um curso para executivos em Harvard, uma das três melhores universidades do mundo.

Aos 26 anos, Luccas, que seguiu o irmão e criou seu próprio canal em 2014, acrescenta:

— Lá atrás, quando eu o via fazendo os vídeos daquele jeito, falava: “Está muito ruim. Óbvio que isso não vai dar certo” (risos).

É Felipe, que nasceu na região do Buraco do Padre, no bairro do Engenho Novo, subúrbio do Rio, que recebe a equipe de reportagem da Canal Extra em sua mansão de três andares na Barra da Tijuca e só larga o celular por 20 minutos, tempo usado para almoçar entre a filmagem para o canal Irmãos Neto e esta entrevista.

— É muito difícil desconectar. Eu deveria me doutrinar, todo mundo cobra, mas ainda não consigo. Bruna (Gomes, namorada) até reclama da quantidade de trabalho, porque muitas vezes é difícil dar atenção para as pessoas — admite ele.

O ator e empresário de 30 anos deu “start” na carreira aos 22, com o canal “Não faz sentido!”. Nas imagens, aparecia um Felipe Neto reativo, com comentários críticos e xingamentos ao que não o agradava. Quase um contraponto ao entrevistado que fala baixo e é perfeccionista com as palavras ao se expressar.

— Naquela época, eu colocava os óculos e interpretava. Quando comecei a fazer o personagem, as coisas começaram a decolar. Mas eu era um moleque cheio de convicções erradas. Fui criado num ambiente conservador e tinha crenças equivocadas. A gente muda, melhora. É natural. A maturidade traz aprendizado, evolução — defende-se.

Os irmãos Neto ainda dividem opinião de parte do público, já que seus nomes já foram citados em críticas de educadores, em processos judiciais e em advertências oficiais. No primeiro semestre deste ano, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) os advertiu por publicidade velada (fazer propaganda sem aviso ao público). Em outra ocasião, em abril, os vídeos de Luccas comendo guloseimas gigantes (jujuba e chocolate num volume de encher uma banheira) despertaram reclamações sobre a influência a uma alimentação prejudicial à saúde infantil. Após as reprovações, o youtuber contratou uma equipe de pedagogos e adotou outra proposta:

— Foram embora mais de 400 milhões de visualizações. Apaguei 96 vídeos que tinham palavrões ou conteúdos que não eram legais. Vi que meu canal precisava ser seguro para a criança. Se tenho esta força para ajudar mães e pais na educação dos filhos, vou fazer. A ideia é criar conteúdos para que a família sente com o filho, assista “de boa” e comente sobre o que viram — avalia o caçula.

No papo, Felipe presta atenção no que Luccas diz — sempre, e claro, com um olho na tela do celular. Quando o irmão faz alguma declaração com a qual ele não concorda, balança a cabeça em tom de reprovação. Um dos puxões de orelha vem quando Luccas admite ser relapso com a saúde:

— Fui à terapia três vezes.

Felipe interrompe:

— Uau.

E o outro acrescenta:

— Sei que preciso. Sou ansioso e compulsivo. Ansioso e compulsivo (repete). Houve um momento da minha vida em que eu jogava online até 15 horas por dia. Repeti o ano na escola, tive problemas. Hás uns anos, precisei abandonar totalmente o mundo dos games para me dedicar ao trabalho. Tento não me misturar demais com este universo porque tenho medo de voltar ao vício. Mas ainda jogo “Tibia” e “League of legends”. Sou viciado em esportes eletrônicos. Por isso, insistem para eu ir à psicóloga.

Luccas, que tem centenas de objetos com referências à Disney e todo o quarto decorado com personagens — nas paredes e no teto, há ilustrações dos filmes “Moana”, “Frozen”e “Toy story” —, também faz extravagâncias com compras.

— Tenho uns dez sacos de lixo cheio de tênis, uns 400 pares. Vou à Disney quase todo mês. Da última vez, vim com 20 malas e não deu para trazer tudo. Se o closet ficar pequeno para guardar, a gente faz obra na casa e aumenta — diz o caçula, que se considera “uma criança no corpo de um adulto”.

Já Felipe se posiciona como um entusiasta do mundo dos mais velhos. Assediado por empresas com propostas de palestras sobre negócios e inovação digital, o youtuber admite tentar encontrar tempo para o hobby:

— É difícil eu conseguir arrumar a agenda, mas é algo de que gosto. Conversar com adulto me dá muito prazer. Até me dá vontade de ter um canal falando para essa galera.

O apreço do rapaz por assuntos complexos chamou atenção e conquistou um outro público quando Felipe se posicionou contra declarações de Jair Bolsonaro. As opiniões do influenciador foram compartilhadas após o político do PSL declarar que “varreria os opositores para fora do país ou para a cadeia”, o que o youtuber antipetista considerou uma “ameaça à democracia”.

— Para mim, foi surpreendente receber o apoio de pessoas que não me curtiam porque essa não foi a primeira vez que agi assim. Há tempos levanto a bandeira de causas LGBT, feministas, negras... Por que as pessoas não se deram ao trabalho de pelo menos ler alguma coisa do que eu falava antes? É fácil criticar quando você não conhece. É mole compartilhar mentiras quando você está com preguiça de saber sobre a pessoa. Fico triste em ver que muitos continuam acreditando em espantalhos e em personagens fictícios criados por elas próprias para odiar alguém. Acredita que agora criaram fake news dizendo que eu ensino as crianças a serem anticristo? — indigna-se.

Para mover ações contra calúnias, crimes da internet e responder a processos em que são citados, Felipe e o irmão têm uma equipe jurídica à disposição.

— Somos processados o tempo todo, ou por algum oportunista ou por algum erro verdadeiramente nosso mesmo. Alguns processos são justos. É normal. Os advogados administram tudo e tocam para frente — conta Felipe.

Diagnosticado com a crônica doença de Crohn (inflamação gastroentestinal), Felipe precisou desmarcar esta entrevista na primeira data combinada por conta de uma crise. Também vítima de depressão, ele quer concretizar, fora do âmbito virtual, um projeto para atender jovens com o transtorno psiquiátrico:

— Lido com a depressão e não manifesto porque sou tratado, mas já sofri muito. Entendo como é e sei pelo que os jovens passam. Essa doença é mal diagnosticada e mal tratada no Brasil. Então, um dos meus maiores sonhos é criar uma fundação voltada a quem lida com ela e, efetivamente, poder ajudar.

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