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Entrevista

Bombeiro baiano relata cenário de 'destruição' no Rio Grande do Sul

Coronel do Corpo de Bombeiros da Bahia, que está atuando no Rio Grande do Sul, relatou cenário de 'destruição', dificuldades e esperança dos gaúchos

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Nathália Amorim

10/05/2024 às 14:11 • Atualizada em 10/05/2024 às 14:49 - há XX semanas
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Já faz uma semana desde que os 22 bombeiros baianos saíram de Salvador em direção ao Rio Grande do Sul, estado atingido por enchentes e fortes chuvas que já deixaram mais de 100 mortos e quase 400 mil desalojados. Ao iBahia, o coronel Jadson Almeida, que faz parte do grupo, descreveu o cenário de "destruição".


				
					Bombeiro baiano relata cenário de 'destruição' no Rio Grande do Sul
Coronel do Corpo de Bombeiros da Bahia, que está atuando no Rio Grande do Sul, relatou cenário de 'destruição', dificuldades e esperança dos gaúchos. Foto: CBMBA

"Cenário de muita destruição. Nós chegamos em Porto Alegre, e fomos designados pelos bombeiros deles para trabalhar na região da serra, que naquele momento era uma das regiões mais atingidas e com muitos deslizamentos. Durante o percurso [de deslocamento] já começamos a ver áreas sendo inundadas", conta.

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Com 35 anos de carreira, segundo o coronel que também atuou no extremo sul da Bahia, quando mais de 400 mil pessoas foram afetadas pela chuva em 2021, a tragédia no Rio Grande do Sul choca pela extensão de municípios atingidos.

"Na Bahia, a gente teve vários municípios e enchentes em 2021. Mas aqui no Rio Grande do Sul, a extensão e a forma como a população está sendo atingida é algo que é considerado, inclusive por eles, como o maior incidente desse tipo no Rio Grande do Sul de todos os tempos", avalia. "Então, é algo que a gente fica assustado com a proporção. O número de cidades atingidas, o número de pessoas desabrigadas", relata.


				
					Bombeiro baiano relata cenário de 'destruição' no Rio Grande do Sul
Coronel do Corpo de Bombeiros da Bahia, que está atuando no Rio Grande do Sul, relatou cenário de 'destruição', dificuldades e esperança dos gaúchos. Foto: CBMBA

Os bombeiros baianos estão alocados em duas cidades: Caxias do Sul e Bento Gonçalves, ambos municípios a cerca de 3h da capital, Porto Alegre. Eles também estão atuando nas regiões próximas da serra, como Gramado, Canela, São Francisco de Pádua.

Segundo o coronel Jadson, desde que chegaram eles localizaram seis corpos e procuram outros quatro. Além disso, seguem em busca de pessoas desaparecidas, que ainda não sabem se estão com vida ou isoladas em algum local. Pelo menos 212 pessoas e 20 animais foram resgatadas pelas equipes dos baianos.

"A gente tem feito buscas com helicópteros cedidos pelo Corpo de Bombeiros [do Rio Grande do Sul] para que nossas equipes se desloquem, assim como por via terrestre. Os locais onde consegue chegar uma viatura, a gente vai com a viatura. Quando não consegue, a gente vai a pé", conta.

Ao iBahia, o coronel Jadson Almeida explicou também que um ponto de dificuldade para os resgates e para a comunicação entre as pessoas e os militares é a falta de energia. Ele conta que em uma das ocorrências foi necessário fazer uma transposição de rio em um dos locais, uma estratégia para levar água de um local para outro, para conseguirem transpassar um cabo de energia elétrica para um comunidade.

"Quando não tem energia elétrica, eles não conseguem conservar alimentos e precisam de monitoramento constante. Então, quando a gente leva energia, eles já conseguem conservar os alimentos que recebem, eles já conseguem comunicação e isso facilita, porque a gente manda mensagem perguntando se está tudo bem e eles respondem", explica.


				
					Bombeiro baiano relata cenário de 'destruição' no Rio Grande do Sul
Bombeiro baiano relata cenário de 'destruição' no Rio Grande do Sul. Foto: CBMBA

Ainda segundo ele, isso é importante já que a região onde essas pessoas estão é extensa e com vários pontos de risco de deslizamento.

A dor e a esperança no Rio Grande do Sul

A dor e a esperança se misturam na tragédia no Rio Grande do Sul. Famílias inteiras estão desamparadas e deixaram para trás o local que por anos chamaram de "casa". Da mesma forma em que, segundo o bombeiro baiano, mesmo diante da tragédia, muitas pessoas não querem sair de casa com medo dos bens serem saqueados.

A tristeza comove os bombeiros, que mesmo com anos de experiência, não conseguem conter a emoção diante da situação no sul do país. Para o coronel, o resgate de uma senhora foi o mais marcante até o momento.

"As pessoas que a gente retirou, que vieram voluntariamente com os bombeiros, a gente vê a tristeza de sair de um lar que ela mora desde que nasceu. Teve uma senhora, um fato que me marcou. Ela me pediu para entrar na casa dela e pegar os remédios dela e algumas roupa", contou ao Portal.


				
					Bombeiro baiano relata cenário de 'destruição' no Rio Grande do Sul
Coronel do Corpo de Bombeiros da Bahia, que está atuando no Rio Grande do Sul, relatou cenário de 'destruição', dificuldades e esperança dos gaúchos. Foto: CBMBA

"Eu disse 'a senhora tem que ser rápida, porque essa área está com risco de deslizamento'. E em um determinado momento, ela parou na porta do quarto e ficou alisando a porta. Aquilo deu uma dor no coração, como se ela estivesse relembrando os parentes que moraram ali, os momentos que ela viveu naquela casa. Ajudei ela a carregar os remédios e ela me relatou: 'meu filho, eu tenho 80 anos que moro aí'. Ou seja, ela mora desde que nasceu na casa. A gente vê isso constantemente", lamentou.

Por outro lado, a esperança dos gaúchos persevera diante a dor. O coronel Jadson Almeida relatou também o carinho que tem recebido das pessoas e os agradecimentos pelo trabalho e pelos resgates.

"A população tem nos recebido de braços abertos. Ontem, em um momento que eu estava na rua, eu parei a viatura e desci. Veio um grupo de garotos e todos me abraçaram. Eles viram a bandeira da Bahia, e falaram: 'obrigado, obrigado vocês por estarem aqui'. E é uma coisa que, mesmo com todo o profissionalismo, emociona. Outra coisa que tem marcado nossas equipes é que, quando a gente chega em uma área isolada, os moradores dizem: 'eu sabia que vocês iam chegar', ou seja, sabiam que os bombeiros chegariam ali", contou.


				
					Bombeiro baiano relata cenário de 'destruição' no Rio Grande do Sul
Coronel do Corpo de Bombeiros da Bahia, que está atuando no Rio Grande do Sul, relatou cenário de 'destruição', dificuldades e esperança dos gaúchos. Foto: CBMBA

Os bombeiros baianos estão atuando com equipes do Rio Grande do Sul, mas também de outros estados brasileiros, que enviaram militares para ajudar nos resgastes das vítimas.

"É algo que nos motiva. A gente vê a situação, que é uma situação adversa, mas o povo está unido. E a gente torce pelos gaúchos", relatou com esperança o coronel.

Resgate de animais no Rio Grande do Sul

Outro ponto de atenção no Rio Grande do Sul são os animais. Segundo balanço divulgado nesta sexta-feira (10), mais de 10 mil já foram resgatados. Sobre o assunto, o coronel explicou que muitos moradores deixaram as casas e não tiveram tempo de levar os animais.

"Nós vamos até o local e recuperamos o animal. É uma felicidade entregá-lo de volta ao dono. Muitas vezes são de crianças, que estava ali com o seu cão, seu gato, seu animal de estimação e a gente vai lá e entrega", conta.


				
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Coronel do Corpo de Bombeiros da Bahia, que está atuando no Rio Grande do Sul, relatou cenário de 'destruição', dificuldades e esperança dos gaúchos. Foto: CBMBA

O bombeiro relembra com carinho o resgate de uma cadela.

"Quando chegamos em um local de risco tinha uma cadela e, de uma forma que não podemos explicar, ela se calou e veio no colo do bombeiro. E a gente brincou parecendo que ela estava tendo noção que estava sendo salva. Veio calada e a gente retirou ela do local e devolveu a família", continuou.

Mensagem de esperança

O coronel Jadson Almeida finalizou com uma mensagem de esperança e afirmou que os bombeiros baianos vão permanecer no Rio Grande do Sul enquanto for necessário. Além disso, reforçou os pedidos de doações para aqueles que puderem. Nas sedes do Corpo de Bombeiros na Bahia, estão sendo aceitos insumos de 8h às 18h. Segundo ele, o material arrecadado será enviado por meio de aeronaves disponibilizadas pelas Forças Armadas e também pelos Correios.

"Mas, quem não puder ajudar com os materiais, as orações são válidas, os pensamentos positivos. E nós agradecemos a confiança em nós, no nosso trabalho. Podem ter certeza, nós não vamos decepcionar. Nós estamos fazendo o máximo de cada um de nós. Dormindo pouco, trabalhando muito aqui nessa região e vamos continuar, porque os gaúchos são nossos irmãos", finalizou.

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