Uma "explosão de cores" tomou o céu de Salvador no pôr do sol do último domingo (9). Em diversos pontos da cidade, soteropolitanos registraram a coloração do céu, que passou por tons fortes de laranja, rosa e roxo. Mas o que causa essa "pintura"?
O fenômeno ótico chamado Dispersão de Rayleigh é o que explica a coloração do céu, segundo o meteorologista Mauro Bernasconi, do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema). "Ele é o responsável por criar esse tipo de conceito físico no qual a luz ao ser refletida em certas superfícies, acaba se refletindo [nessas tonalidades]", afirma.
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A luz trabalha com sete espectros - vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta - que é o que forma, por exemplo, o arco-íris. A variação de cores que acontece no céu ocorre mediante a composição atmosférica, sendo mais comum no pôr do sol.
"Temos muitas partículas em suspensão neste horário, e a luz solar, ao atingir os olhos do espectador, ele percorre um caminho muito mais longo por estar paralela ao eixo da Terra, do que quando ela está a pino, no horário de meio-dia. Então, ela pega muita suspensão. Por exemplo, se for um dia de muito vento, perto do mar, provavelmente a gente tenha muito sal marinho em suspensão no ar. O próprio sal marinho, ele acaba recebendo um pouco de luz, ela se dispersa, e o espectro de visão para os nossos olhos acaba mudando de cor", explica.
Na prática, as partículas em suspensão são poeiras, sal marinho e qualquer micro partículas sólidas e góticas que podem ser dispersas em um meio líquido ou gasosos.
"São partículas muito pequenas, muitas vezes menores do que a própria frequência do feixe de luz. É super normal termos no nosso ambiente ou em diversas partes da cidade [...] A depender da quantidade de fuligem, de núcleos de condensação [partículas em suspensão], isso vai filtrar diversas bandas de luz. Quanto mais intenso, mais as cores vão se alterando. Por isso, é raro ver tons de violenta no céu, porque esses são os primeiros a serem filtrados", disse ao Portal.
Como ocorre a "explosão de cores" no céu?
Cada cor do espectro tem um comprimento de onda diferente. Conforme a luz solar passa pelas diferentes camadas de ar, cada uma com gases de diferentes densidades, ela se adapta e se divide como se estivesse passando por prisma. Em contato com as partículas suspensas, a luz dividida rebate e reflete.
Então, quando o céu muda de cor, do laranja para o rosa, do rosa para o roxo, e até vermelho, significa que as frequências solares estão vibrando em ondas diferentes.
"As cores mais vivas do azul ao roxo, elas acabam vibrando em frequências mais curtas. Essas frequências elas acabam sendo interceptadas antes do olho do espectador. Todas as frequências mais longas, que são as cores mais quentes, do vermelho ao laranja, elas estão em frequências longas. Então, elas conseguem ultrapassar a barreira de condensação, de fuligem, de poeira que se encontra no ar e chegar até a visão do espectador", explica Mauro Bernasconi.
O resultado é a "explosão de cores" que pôde ser visto no céu de Salvador. O especialista ressalta também que o fenômeno pode ser mais comum no outono.
"Pode ser por causa das chuvas, pode ser por causa dos ventos. Aqui, para gente, o vento acaba trazendo bastante sal marinho e deixa bastante o sal marinho em suspensão. É um fenômeno que acontece muito em locais de poluição alta. O pôr do sol em São Paulo, é normal ter essa cor, justamente porque é um ambiente muito carregado de indústria. A indústria acaba soltando os seus poluentes e esses poluentes fazem essa interceptação dos raios de luz", aponta.
No entanto, no caso de Salvador, por ser uma cidade litorânea e com a presença do mar, ele salienta que a velocidade dos ventos junto com as partículas de sal marinho devem ter gerado a gama de cores no céu. "Aqui [em Salvador], eu acredito que possa ser justamente por causa dos ventos que são mais fortes nessa época, a gente tem mais agitação marítima, o que acaba colocando muito mais partículas no ar", salienta.
E caso esteja pensando se é possível prever um fenômeno como esse, a resposta é: não. As condições podem até dar um indicativo, mas não certeza. Uma coisa é certa em dias como esse: é possível assistir o sol de forma muito mais confortável, sem causar incômodos à visão.
"Quando o sol está nessa situação, ele é mais confortável para você ver o pôr do sol a olho nu. Não costuma queimar os seus olhos, porque as frequências que causam maior dano, as frequências de radiação mais intensas que causam danos a nossa córnea, normalmente elas já foram absorvidas pelas partículas. Então, você consegue olhar em uma situação muito mais confortável do que num dia normal", finaliza.
Nathália Amorim
Nathália Amorim
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