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MÚSICA

Ao iBahia, Criolo fala sobre música e ativismo político

Cantor irá se apresentar na Concha Acústica do Teatro Castro Alves nesta sexta-feira (18)

Redação iBahia • 16/01/2019 às 15:38 • Atualizada em 31/08/2022 às 8:42 - há XX semanas

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Aos 12 anos, Criolo subiu em um palco pela primeira vez para cantar e deu início a sua caminhada, onde a música se apresentou como agente transformador da sua vida. Hoje, aos 43 anos, o videoclipe do single mais recente do do cantor 'Boca do Lobo', possui mais de 2 milhões visualizações no Youtube e comprova esta mudança.

Foto: Reprodução

Em busca de conhecer um pouco mais este artista, que ganhou o gosto do público, nasceu no rap e possui afiado posicionamento crítico, o iBahia o entrevistou e o questionou sobre assuntos relacionados à arte, redes sociais, o amor pela Bahia e a sua formação pessoal e profissional.

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O cantor irá se apresentar em Salvador nesta sexta-feira (18), na Concha Acústica do Teatro Alves, às 19h. Os ingressos custam entre R$ 40 e R$ 150

iBahia: O seu mais novo clipe 'Boca do Lobo' é repleto de referências e críticas políticas e sociais, o que também pode ser visto em outras canções dos álbuns mais antigos da sua carreira. Você acha que todo artista também pode ser ou precisa ser um ativista político?


Criolo: Pode! Se ele estiver afim, se for dele. Todo mundo está ativo em algo que
acredita. Às vezes é algo você tem empatia, as vezes algo que você não tem empatia, mas todo mundo tá ativo nas suas ideias, nos seus pensamentos, naquilo que quer pra si, naquilo que quer pra sociedade. De certa forma, todo mundo exerce um ativismo, porque está ativo na sociedade e isso não tem como fugir, não tem como escapar disso. Isso é natural do ser político.

Mas você sublinhar mais, você deixar mais forte as suas ideias e suas impressões junto aos seus é uma outra coisa e vai do momento de cada pessoa. Cada pessoa tem seu desejo e sua vontade de se expressar e acredito que vai muito de como cada um enxerga a sua necessidade de se comunicar, expressar, contribuir com alguns temas.

iBahia: Falando ainda sobre o clipe 'Boca do Lobo', a produção surpreendeu, principalmente pela quantidade de referências e de efeitos visuais. Você considera o lançamento de um videoclipe importante para a carreira de um cantor? Se sim, por quê? De que forma a imagem pode fortalecer a ideia de uma música?

Criolo:
Uma imagem que acompanha um texto é de um valor grandioso, porque além dele tentar sublinhar as ideias que o texto traz, ele traz uma série de outras ideias, de outras informações que não estão no texto e são complementadas por essa arte.

Você tem um texto, então depois este texto recebe a força da música, se torna canção, e
você ainda tem a contribuição da imagem. Eu acho extremamente forte. Não fácil chegar a este encontro de três veredas da arte, mas quando isso acontece é muito especial.

iBahia: Qual são as suas principais influências musicais? Além da música, quais são suas fontes de inspiração?

Criolo:
Meu cotidiano, meu dia-a-dia, as coisas que eu vivo, que eu sinto. O jeito como eu enxergo o mundo, o jeito como eu percebo o mundo ao meu redor, o jeito com o mundo trata a mim e a minha família, como a gente se trata. Trato com algumas cláusulas que antes de eu nascer já estão ali escritas e não fui eu que redigi este texto do contrato social vigente atual.

O dia a dia, a vivência com as pessoas e com o mundo vão trazendo uma série de emoções, sensações, que fazem com que isso, em algum momento, se desague em canção.

iBahia: Como é o seu processo de composição?

Criolo: Estar vivo e entender essas nuances, no momento de um caos, em um momento de pseudo-serenidade, é um encontro muito dentro. Por mais que o mundo esteja ali influenciando e isso se torna uma pequena parte das construções das sensações que você tem durante a vida, tem muito você nisso tudo. Não existe uma regra para criar, como não existe uma regra para cada situação que lhe promove qualquer tipo de emoção.

iBahia: Após lançar o disco 'Espiral da Ilusão', em 2017, debruçado no ritmo do samba, você retornou ao rap no single 'Boca do Lobo'. Com este movimento inusitado, você não ficou com medo de perder público?

Criolo: A gente não se perde, a gente tá junto. O nosso povo ama demais música, ama demais as sensações e os encontros que a música promove. Isso de perder público, ganhar público, não acontece. Ninguém é dono de nada, a gente não é dono nem da nossa própria vida, no sentido de não saber nem que dia Deus vai levar a gente.

A gente se conecta por um outro jeito, pelo caminho que a música oferece, de emoção, de libertação, de indagação, de tristezas ou felicidades.

Poder viver algo tão especial de samba e poder ainda viver, cantar rap, escrever rap, é
totalmente conectado a um tipo de emoção que faz com que a gente se encontre. Isso faz com que a gente quebre barreiras de rótulos musicais, faz com que se quebre a barreira de estéticas, a gente se encontra na emoção.

iBahia: Você acredita que todo artista deve passear e ter experiências com outros ritmos musicais diferentes daquele que escolheu para iniciar a sua carreira?

Criolo:
A pessoa tem que ser livre. Se ela gosta do som que ela faz e é isso que ela quer, vai
embora. Não tem que ser uma imposição, isso tem que acontecer de modo natural. Eu acredito que cada pessoa tem que seguir seu coração, ainda mais na música.

iBahia: Diante da repercussão do rap nas periferias do Brasil, você acredita que a música pode ser um instrumento de transformação da vida das pessoas e também da sociedade? Se sim, de que forma você acha que isso acontece?

Criolo:
Não é de agora que o rap tá repercutindo nas periferias, ele nasceu nas periferias. Ele é fruto de um olhar, é o fruto de uma troca cultural. Ele sempre repercutiu em todas as periferias do Brasil.

O que acontece que é que o rap repercute agora em outras camadas sociais. Isso é uma quebra de barreiras enorme. Além de oferecer a pesquisa a literatura mundial, porque você tem que saber um pouco de tudo, além de lhe oferecer uma curiosidade e uma necessidade de entender o mundo, a geopolítica do mundo, ele tem uma contribuição que pouquíssimas expressões tem. É de você se sentir vivo, você se sentir alguém, você se sentir capaz.

Você é capaz de produzir algo positivo, você é capaz de se comunicar, de interagir, você está vivo e está presente e você importante tanto quanto o outro. Isso é uma de libertação brutal e de suma responsabilidade

iBahia: Atualmente, a sociedade é marcada uso contínuo das redes sociais e pelo imediatismo que ela traz. O que você acha sobre este comportamento? Considera que isso pode enfraquecer debates políticos e sociais ou pode fortalecê-los?

Criolo: Nós temos uma necessidade de resposta e é pra ontem. Nós vivemos em um ambiente de emergência, o Brasil vive em uma UTI (Unidade de Tratamento Intensivo), o Brasil vive em uma emergência e isso influência todas as pessoas. Todo mundo acaba tendo uma necessidade de uma resposta pra ontem, uma resposta perfeita, uma resposta fechada e que resolva a situação, cada um a seu modo.

Tem quem quer uma resposta imediata porque esta passando fome e não quer ficar de conversa. Ele precisa comer, é uma necessidade básica, diz a constituição que o Estado é responsável por isso.

E tem quem quer resposta imediata e quer providência para aquele pessoal que veio dali e está no mesmo lugar que eu. Tem gente que tem como emergência que as pessoa não se misturem, que não consigam atingir os seus objetivos.

E tem quem viva a necessidade de uma resposta imediata para as desigualdades que existem no mundo, para a falta de dignidade que o trabalhador vive todos os dias. Esse imediatismo vem de muitos porquês.

Esse comportamento, essa ansiedade, esse querer,pode ser transformado em algo extremamente positivo quando ligado à força brutal ilimitada das redes sociais. Quando você usa essa ferramenta pra construir pontes, diálogos, para provocar um debate saudável, isso é sensacional, isso é maravilhoso, isso é futuro.

Todo mundo sonhava com uma comunicação mais rápida, todo mundo fala da importância de criar pontes, das pessoas estarem em tempo real trocando ideias. Isso tá acontecendo, mas isso vai de cada um, como cada usa a sua ferramenta.

iBahia: Você acha que as redes sociais auxiliam ou dificultam o trabalho de um artista musical?

Criolo: Eu acho que os dois ao mesmo tempo. Eu acho que, se a música tá indo pro mundo, isso é bom, isso é ruim? Pra mim, quanto mais música tiver no mundo, melhor. Mas tem gente que acha que é ruim, porque vê esse fato como competição e a arte não pode ser enxergada como competição. Tem espaço para todo mundo.

As músicas regionais não tem mais espaço nas rádios. Esquecem de falar da historia da cultura de cada localidade. As redes alternativas de comunicação acabam auxiliando e tentando cumprir essa lacuna.

iBahia: Você já demonstrou que possui uma ligação forte com a Bahia através da gravação do clipe 'Que Bloco É Esse', com a banda Ilê Ayê aqui em Salvador. O primeiro show da sua turnê 'Boca de Lobo' em 2019 também será aqui no estado. O que isso significa pra você?

Criolo: É uma felicidade muito grande poder estar nessa terra, as pessoas são especiais. Essa terra é abençoada, vocês são abençoados o ano todo, todos os dias. É uma honra pra mim chegar no Teatro Castro Alves, na Concha, e poder cantar. É uma honra máxima e eu só tenho que agradecer, realmente.

iBahia: Como se deu a sua ligação com a Bahia?

Criolo: Eu cresci em uma favela no Jardim das Imbuias, chegamos lá em 1973, pra 1974. Meus pais são do Ceará, morávamos em um barraco onde nossa parede dava em outro barraco. A pessoa da frente uma era da Bahia, a outra família era do Rio de Janeiro, meus pais do Ceará. A gente cresceu com todo mundo perto da gente. Acredito que foi este meu primeiro contato com a Bahia.

iBahia: Quais são as principais mudanças que você enxerga no Criolo que lançou seu primeiro 2006 e o Criolo de hoje? O que mudou? O que aprendeu?

Criolo:
Este ano faz 30 anos que eu subi no palco pra cantar, eu pedi pra subir no palco com 12, 13 anos. Se eu achava que eu tinha que aprender alguma coisa lá com 13, depois com 23, depois com 33. Agora com 43 é que eu consigo enxergar um pouco melhor e só tenho a agradecer à música por ter transformado a minha vida e da minha família

Esse ano foi um ano de aprendizado, um ano que mostrou muito para muita gente que não sabia o que anda acontecendo por aqui. Este ano mostrou, para quem não acreditava, que aqui é uma país racista, um país xenófobo, muita gente que não acredita que existem pessoas que estão sofrendo, passando fome, e não estão conseguindo manter a dignidade para suas famílias.

Então foi um ano para apresentar para muitas pessoas que não tinham ideia pra ver como é isso aqui tudo, mas também foi ano de ver tanta gente se reunindo para tentar mudar. Tantos jovens, tantos coletivos ao redor do Brasil se organizando para não deixar morrer nossa arte, nossa cultura, as ideias de uma construção positiva para o nosso país para todas as camadas sociais e em todos os campos. E nos apresenta agora é este desafio, mas a energia que nos temos é especial e é mola propulsora para a gente continuar caminhando.

SERVIÇO

O quê: Criolo - Turnê Boca de Lobo
Local: CONCHA ACÚSTICA do TEATRO CASTRO ALVES
Data: 18/01/2019, às 19h (sexta)
Classificação: Livre

VENDAS:
Online: Site Ingresso Rápido

Pontos de Venda Sem Taxa de Conveniência:
- Bilheteria Teatro Castro Alves: De segunda a sábado, das 10h00 às 22h00.Domingo, das 09h00 às 21h00.
- SAC do Shopping Barra: De segunda a sexta, das 10h00 às 16h00 e aos sábados das 9h00 às 12h00.
- SAC do Shopping Bela Vista: De segunda a sexta, das 10h às 16h00 e aos sábados, das 9h00 às 12h00

INGRESSOS:
SEM LIMITE DE COTA DE MEIA ENTRADA
CRIANÇAS DE 0 A 12 ANOS PAGAM MEIA-ENTRADA.
PLATEIA
3º Lote:
R$ 80 a inteira
R$ 40 a meia

CAMAROTE
R$ 150 a inteira
R$ 75 a meia

Sobre a Meia Entrada: Válida para estudantes, idosos, pessoas com deficiência e jovens de 15 a 29 anos comprovadamente carentes, conforme Lei nº 12.933 de 26 de dezembro de 2013 e Decreto 8.537, de 5 de dezembro de 2015. Estudantes devem apresentar a Carteira de Identificação Estudantil (CIE), não sendo aceitos outros documentos.





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