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MÚSICA

O pagode baiano é o novo punk da periferia?

A Bronkka, com seu pagode gritado e sem apuro estético abriu o verbo falando de drogas, da vida no crime e na favela

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24/08/2012 às 14:00 • Atualizada em 27/08/2022 às 14:14 - há XX semanas
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Igor Kannário, da banda A Bronkka
Há uns três anos, em conversa com um amigo, advogado e roqueiro convicto, falávamos sobre uma mudança nos grupos de rock da Bahia, que antes pertenciam a uma das escolas mais radicais do país, com ícones de peso como Raulzito, Camisa de Vênus e Úteros em Fúria. E esse meu amigo citava o pagode de Salvador que, para ele, estava cada dia com mais “atitude”, o que não acontecia com os novos roqueiros. De lá pra cá, observei o teor de hits, digamos, mais fortes, como Todo Enfiado, da O Troco; O Lobo Mau, da O Báck; Mulher Maravilha, com Levanóiz. Até aí, tudo bem... Desde Requebra (Pierre Onassis) e Rala o Pinto (Zé Paulo), a Bahia já conhece letras maliciosas e quebradeira até o chão. Mas, fiquei com aquela teoria na cabeça. Lembrei de uma história do antigo Rock in Rio Café, que, prestes a fechar as portas, trouxe as bandas de rock de volta “para dar uma aliviada" no local, que estava marcado pelas garotas de programa. O rock baiano estava virando algo novo, sem a rebeldia de outros tempos. E assim, vi surgirem bandas indie de dub, MPB, axé retrô e pop/rock, com referências da antes criticada ‘baianidade’, em produções mais elaboradas. Mas, confesso que senti falta de peso e a verve roqueira em suas músicas. Enquanto isso, na periferia de Salvador, nasciam fenômenos como a Black Style e a Guetto é Guetto. A Bronkka, com seu pagode gritado e sem apuro estético (no maior estilo punk “faça você mesmo”), abriu o verbo falando de drogas (tema comum no rock BA anos 90), da vida no crime e na favela, com direito a quebra-quebra em show, briga com Daniela Mercury, inclusão na Lei Antibaixaria e parada na delegacia sob acusação de agredir um funcionário e quebrar quarto de hotel em Aracaju.
"O rock baiano estava virando algo novo, sem a rebeldia. Enquanto isso, na periferia, nasciam fenômenos como a Black Style..."
Em entrevista que fiz, no início de agosto, com o cantor Igor Kannário - sempre com suas tattoos à mostra, correntes pesadas e sem papas na língua - para o Portal iBahia, a teoria do meu amigo reacendeu em mim com força total. Fiquei pensando... Estaria surgindo no pagode baiano uma nova espécie de punk da periferia, enquanto o rock agora virava o bom mocinho da história? Como diria Kalinde Maiara, filha de Magary, que estranho, hein? *Texto publicado na seção "Uma ideia", do Guia Correio, nesta sexta-feira (24. Veja também: Jornalista Osmar 'Marrom' defende paternidade baiana do Arrocha

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