Moraes Moreira tem cabelos cacheados, com mechas meio rosas. Suas unhas da mão direita são enormes, mas bem cuidadas, em detrimento da guitarra que toca em seus shows. O bigode, lançado lá pela década de 1970, sobrevive até hoje. A barriga não, essa cresceu um pouco com o passar do tempo. Usando uma camisa meio hippie de cor rosa e amarela, quem o viu caminhar pelas ruas do Pelourinho nem imaginava a força que o seu nome tem para a constituição do carnaval baiano e para a formação da cultura do país. Ele foi uma das primeiras pessoas a cantar em um trio elétrico. Esteve à frente, junto com Pepeu Gomes, Baby do Brasil e Paulinho Boca, do grupo Novos Baianos que, há mais ou menos 40 anos, comandava o carnaval na Bahia e lançava Acabou Chorare, disco que entrou para a história.
"O objetivo é que essa festa volte a ser do povo, a gente luta por isso. Aos poucos o carnaval da Bahia tá voltando pro lugar" |
Os Novos Baianos tomaram seu rumo, Moraes outro. Lançou clássicos como Bloco do Prazer, Chão da Praça, Pessoal do Aló. Movimentou a cultura nacional com suas músicas, poesias em cordel e seus posicionamentos ácidos. Por divergências ideológicas, ficou sem vir ao carnaval baiano por dez anos. Há três, para a alegria dos foliões, retornou com tudo. E foi com esse tudo que ele, acompanhado de seus seis músicos, fez até as pedras das ladeiras do Pelô se balançarem. Na noite de ontem (07), abrindo o carnaval no Centro Histórico de Salvador (um dos pontos do Circuito Batatinha) Moraes dividiu espaço com bandinhas de sopro e percussão que passavam por lá. O Bloco Todo Gás e o Bloco Tomalira foram alguns dos inúmeros bloquinhos que também entraram na folia. Camisas coloridas, sombrinhas de frevo, apitos. Corda não. A diversidade de ritmos era enorme. Cada largo e cada praça oferecia opções de peso como Afro Men, Sandra Simões, Walter Queiroz. De acordo com o Secretário de Cultura do Estado, Albino Rubim, “vem existindo uma infinidade de iniciativas que acontecem no carnaval de Salvador. Tem agitação na Ribeira, no Rio Vermelho e aqui também. Na Bahia está acontecendo um movimento, semelhante a outros estados, de fuga do carnaval oficial. É a busca do carnaval mais espontâneo onde o povo readquire o seu controle. O carnaval no Centro Histórico surge disso, de uma busca democrática e diversificada”.
“Pegue seus panos, vamos viver de folia” |
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Em quase duas horas de show, Moraes Moreira fez o público cantar junto com ele ao som de sucessos como 'Preta Pretinha' e 'Mistério do Planeta', mas foi a sua homenagem à guitarra baiana que engoliu os foliões, fazendo-os tirar o pé do chão. Seu filho, Davi Moraes, deixou todos os presentes admirados com tamanha intensidade ao manusear a guitarra. Desceu do palco, foi para o meio da multidão. Dos acordes rasgados, saiu 'Maracatu Atômico', música de Jorge Mautner, mas imortalizada pela banda pernambucana Nação Zumbi. Todo mundo bradou o refrão, ”maná mauê ô”. Davi, muito emocionado, tocou várias outras canções em homenagem aos 60 anos da guitarra baiana. Ele afirma que houve evolução do instrumento, dos trios elétricos, da maneira de se fazer carnaval. “A guitarra baiana, por exemplo, no início era uma coisa muito rústica, com captadores feitos quase que de forma caseira. Hoje elas são ‘envenenadas’, com distorção mais forte, efeitos que se pode usar. Então isso é uma evolução bacana, natural. Eu estou muito feliz que esse ano o carnaval esteja homenageando a Guitarra Baiana, mas devemos nos lembrar também de Osmar, pai disso tudo”.
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*Publicação colaborativa da equipe do site Rebucetê