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MÚSICA

Sambista baiano Assis Valente tem vida contada em biografia

"Eu pensei que todo mundo fosse filho de Papai Noel", diz letra de 'Boas Festas', de Assis Valente. O baiano também é autor de 'Cai Cai, Balão'

• 22/12/2014 às 15:28 • Atualizada em 27/08/2022 às 6:57 - há XX semanas

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Assis Valente nasceu em Salvador, no Campo da Pólvora
A vida do compositor Assis Valente (1908-1958) começa triste e termina trágica: nascido em Salvador e rejeitado pelos pais na infância, foi criado por um dentista que o tratava como um mucamo em Alagoinhas, no interior baiano. Sua vida terminou aos 49 anos, no Rio de Janeiro, após a quinta tentativa de suicídio.Interessado por personagens que vivem à margem das convenções sociais, o jornalista baiano Gonçalo Júnior, 46, encontrou em Assis Valente uma riquíssima fonte para mais uma biografia. Antes, Gonçalo Júnior já havia escrito sobre a vida de pessoas como Herbert Richers (1923-2009), uma lenda da dublagem brasileira; e o desenhista Benício, um dos maiores criadores dos cartazes de filmes brasileiros, especialmente das pornochanchadas dos anos 1970.Agora, Gonçalo assina 'Quem Samba Tem Alegria - A Vida e o Tempo de Assis Valente' (Civilização Brasileira/R$ 65/644 páginas), sobre o compositor de clássicos da história da música popular brasileira como Brasil Pandeiro, Cai, Cai, Balão, Camisa Listrada e Boas Festas.Apesar das mais de 600 páginas, a vida cheia de altos e baixos do músico dá bastante fôlego à publicação, que não se restringe à vida do biografado, mas contextualiza o cenário musical dos anos 30 e 40.
O jornalista Gonçalo Junior conta a vida de Assis Valente em mais de 600 páginas (Foto: Divulgação)
Apesar de ter tido uma infância complicada, vítima da rejeição dos pais, Assis Valente tornou-se um promissor desenhista e na década de 1930 atingiu um status que poucos colegas da época imaginavam e tornou-se um dos maiores fornecedores de hits da maior estrela brasileira na primeira metade do século passado: Carmen Miranda (1909-1955).Chegou à cantora por meio de Josué de Barros, um conhecido comum dos dois. Na verdade, aproximou-se de Josué, que era uma espécie de tutor da artista, já com a intenção de conhecê-la. Um dia, encontrou-a no teatro, depois de uma apresentação dela. Como estava acompanhado de Josué, Assis sentiu-se mais à vontade para apresentar a Carmen a canção Good Bye, a primeira das 25 canções dele que ela viria a gravar. “Dessas, posso dizer que pelo menos 20 foram estrondosos sucessos”, garante Gonçalo.Mesmo autor de canções populares e ganhando um bom dinheiro com os direitos autorais, Assis inexplicavelmente afundava-se em dívidas. A origem dos débitos permaneceu desconhecida por muito tempo, até Gonçalo encontrar Sausa Machado, afilhada de Assis. A sua última entrevistada acabaria fazendo a revelação mais relevante do livro: o compositor baiano se afundou em dívidas por causa do vício em cocaína.Mesmo com a renda que obtinha também com a atividade de protético - era um dos melhores confeccionadores de dentaduras do Rio, Assis tinha dificuldade para pagar até prestações de eletrodomésticos. As dívidas provocaram crise no casamento e o sogro dele, um português cheio de orgulho que jamais admitiria ver o nome da filha “sujo”, determinou a separação do casal. O fracasso no casamento, somado às dívidas, levou Assis a cometer, em 1941, a primeira de cinco tentativas de suicídio.Se jogou do Corcovado e deixou uns 15 bilhetes em seu laboratório, explicando o motivo do seu ato. Em alguns, mencionava seu endividamento. Houve até quem dissesse que a tentativa de suicídio era um teatro, uma grande jogada de marketing do esperto baiano para chamar a atenção da mídia. Mas Gonçalo recusa essa tese: “Isso não faz sentido. Ele se jogou de uma altura de 805 metros e foi aparado por uma árvore, depois de uma queda de 70 metros. A operação de resgate durou mais de seis horas e a imprensa toda correu pra lá”.Confira uma versão de Camisa Listada na voz de Carmen Miranda:[youtube ifJrKOB6TFU]Gay Há também quem diga que a razão de sua amargura não eram os débitos adquiridos por causa das drogas. Esses defendem que Assis Valente não tinha coragem de assumir sua homossexualidade, mas Gonçalo é veemente ao contrariar essa tese. “Isso surgiu depois que um jornalista publicou, em 1977, uma análise sobre três canções dele e se sustentava somente nisso para dizer que Assis era gay”.Gonçalo admite que, quando começou a escrever o livro, acreditava nessa teoria e chegou a escrever 60 páginas sobre o cenário machista do Rio entre os anos 1930 e 1950. O machismo seria a razão do tormento do compositor. Mas, no meio do caminho, após diversas entrevistas, Gonçalo concluiu que seria leviano definir o músico como um gay atormentado pelo seu desejo. “Não encontrei sequer uma pessoa que confirmasse que ele era homossexual. Mas dou minha mão à palmatória se alguém aparecer com uma carta de amor dele escrita a um homem”, diz o escritor.Para concluir que Assis era gay, o tal jornalista fez, segundo Gonçalo, uma análise rasa de alguns versos de três ou quatro canções dele. Da conhecida 'E o Mundo Não se Acabou', pinçou o trecho “Beijei a boca de quem não devia” e defende que Assis se refere a um homem. Glória esquecida Para defender a tese, o jornalista usou também, maliciosamente, somente o título de outra canção, Gosto Mais do Outro Lado. Mas a letra fala apenas de uma pessoa que prefere um lado ao outro da rua onde mora.E tinha ainda a clássica Camisa Listada, que falava de um machão que ameaçava bater em todo mundo, mas, durante o Carnaval, soltava a franga. “O jornalista interpretou que Assis se fingia de homem, mas queria mesmo era se vestir de mulher”, diz Gonçalo mais uma vez, em tom de crítica.Para Gonçalo, Assis Valente teve não mais que sete anos de glória, de 1932 a 1939. Deixou de ser notícia quando sua intérprete mais popular partiu para os Estados Unidos. Ele insistia em mandar-lhe canções, mas Carmen recusava-se a gravá-las. Uma das rejeitadas foi Brasil Pandeiro. Assis então desandou a falar mal da cantora, que mais tarde o perdoaria e até pagaria algumas dívidas dele.Mas logo novas dívidas viriam e, no dia 11 de março de 1958, por volta das 18h, finalmente o compositor conseguiu realizar o que já havia tentado outras quatro vezes. Morreu numa praça, após ingerir uma mistura de refrigerante com veneno para rato, preparada por ele mesmo.
Correio24horas

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