O tempo, para Gloria Menezes, pede urgência. “Vivo o presente projetando o futuro”, destaca ela num bate-papo pontuado por gostosas risadas. O ritmo do diálogo é típico de quem não espera acontecer. Do alto de seus 81 anos, a atriz é rápida no gatilho, assim como a sua adorável dondoca em “Totalmente Demais”, Stelinha, que volta a dar o ar da sua graça a partir desta próxima terça-feira (26).
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| Fotos: Divulgação |
Devido às limitações que a idade traz, Gloria se afastou da história duas vezes para evitar cansaço excessivo. Na trama, a altiva figura retorna ao Rio ao lado do marido Maurice (Reginaldo Faria), com quem vive às turras. Atualmente, no entanto, eles estão se amando mais do que nunca. Os dois, saídos de Paris, têm a difícil missão de tirar o filho, Arthur (Fabio Assunção), da fossa por conta do término do namoro com Eliza (Marina Ruy Barbosa).
Apesar de Gloria não acreditar em fórmulas do amor, na TV, sua personagem tenta catequizar o herdeiro com métodos vistos em filmes clássicos.
Você ficou cerca de um mês afastada da novela para ter um respiro no ritmo intenso de gravações. Agora, Stelinha volta com a corda toda para agitar a vida de Arthur. Como é trabalhar com tantos atores jovens?
Com um volume grande de gravações, a direção prometeu me deixar mais à vontade. E cumpriu (risos)! Mas é maravilhoso voltar a conviver com os meus colegas. Primeiro, porque eu amo muito o que eu faço. Segundo, porque o elenco cuida de mim. Eles seguram no meu braço e dizem: “Preste atenção ao fio, olhe para o chão para não tropeçar”... Estou até mal-acostumada (risos). É tão bom quando as pessoas se entendem... Cria-se uma família. Eu adoro estar no meio da garotada.
Apesar de Maurice e Stelinha viverem brigando e se separando, eles se amam de verdade. Atualmente, experimentam uma lua de mel. Você e Tarcísio Meira (de 80 anos) são casados há 53. É inevitável não perguntar se há uma fórmula para o amor...
Não tem receita para um casamento longevo. Se tivesse, eu estava trilionária (risos). Eu me considero uma privilegiada por ter um amor verdadeiro ao meu lado há 53 anos. A nossa convivência funciona para nós dois. Para outras pessoas, pode não dar certo. Cada casal é diferente do outro. Tendo amor e respeito, todo o resto vai bem.
Por muitos anos, vocês trabalharam incansavelmente pelo Brasil inteiro. Isso, de alguma forma, não abala a relação conjugal?
Agora, estamos numa faixa de idade em que vivemos mais juntos. Mas teve época em que eu fazia novela e teatro ao mesmo tempo pelo país. Mal parava em casa. Tem casais que não suportam isso. Mas nós, nessa profissão, entendemos essas dificuldades. Não passamos por crises nesse tempo. Sempre nos entendemos bem, dialogamos e resolvemos nossas diferenças. Também seria muito chato se ele fosse igual a mim.
Ao mesmo tempo em que é relapsa com as relações familiares, Stelinha é muito controladora com a vida de Arthur. Você teve esse mesmo perfil com seus filhos (Maria Amélia, de 60 anos, e João Paulo, de 58, do casamento com Arnaldo Brito, e Tarcísio Filho, de 52, da atual união)?
Nunca fui! Nem tive tempo de controlar muito os meus filhos. Às vezes, até me sentia culpada por deixar as crianças com minha mãe para viajar a trabalho. Minha vida foi assim. Mas eu me preocupava mais com a qualidade (dos encontros) do que com a quantidade.
A sua atual personagem sempre se reporta ao passado para contextualizar alguma situação do presente. Você é muito saudosista?
Depois de uma certa idade, é natural ficar relembrando as coisas. Você está mais próxima do fim... Então, lembra-se do que já passou. Guardo as minhas memórias, mas não sou saudosista. Vivo o presente projetando o futuro.
Esse fim (a morte) que você citou a assusta?
Não. O fim existe e não vou ignorá-lo, mas não penso nele. Meus 80 anos estão no papel, somente. Sou muito ativa, faço musculação, ginástica... Na verdade, eu sou jovem (risos).
Na sua galeria de personagens da TV, podemos encontrar incontáveis protagonistas. Ser a personagem principal de uma novela sempre foi uma prioridade sua?
De forma alguma. Existem boas personagens secundárias. Às vezes, tem protagonistas que não são importantes, que são babacas. Eu só não quero me aposentar. Estou à disposição para fazer avós, bisavós...
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