icone de busca
iBahia Portal de notícias
CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
NEM TE CONTO

Erika Januza conta como se preparou para as diferentes fases

Atriz se reuniu com a primeira mulher negra a se tornar juíza do Tribunal de Justiça do Rio

foto autor

Redação iBahia

07/01/2018 às 10:32 • Atualizada em 31/08/2022 às 23:43 - há XX semanas
Google News iBahia no Google News

RIO - Durante as gravações das primeiras cenas da novela “O outro lado do paraíso”, no Tocantins, Erika Januza conheceu a mãe do quilombo de Mumbuca, que lhe garantiu que ela iria “brilhar igual a capim-dourado”. Ao que tudo indica, a frase dita em tom profético não poderia ser mais apropriada para o atual momento da carreira da atriz. Desde que a novela entrou no ar, ela vivencia a escalada diária de sua personagem, Raquel, que cativou o público com uma poderosa história de superação e um romance comovente.

Ver o sucesso alcançado pelo folhetim, segundo Erika, hoje soa como um desdobramento natural de todo o trabalho de construção da obra e da personagem. Pela primeira vez na carreira, ela participou de uma preparação em que todo o elenco se reuniu por cerca de um mês para exercícios de corpo, voz e prosódia, deixando a equipe totalmente entrosada. De quebra, a imersão de quase 20 dias no quilombo lhe proporcionou uma experiência esclarecedora. Para a vida e para o trabalho.

— Fiz amizade com todos os moradores de lá, e eles abriram as portas para mim. Nas horas de folga, ficava o tempo todo com as meninas, que me ensinaram a costurar peças de capim-dourado. Isso foi muito importante, porque minha personagem tinha uma história com esses produtos. Entregar o texto com essa bagagem deixa tudo mais verdadeiro — descreve ela.

Erika também mergulhou fundo na culinária local. Aprendeu a fazer galinha caipira e até chambari, um prato feito à base da canela do boi com o osso. Fora da mesa, a relação com os locais a fez refletir sobre a importância da simplicidade.

— Eles levam uma vida muito simples e vivem muito bem com o que têm. Não ficam reclamando. Lutam para conquistar as coisas, mas estão sempre sorrindo — diz. — Saí de lá preenchida. Com amigos.

Com a segunda fase da novela, veio a virada triunfal da personagem, e Erika protagonizou a cena que já é uma das mais emblemáticas. Após ser expulsa da casa onde trabalhava como empregada doméstica, Raquel voltou pela porta da frente com pompa e circunstância: havia se tornado juíza.

Quando soube que isso iria acontecer, a atriz vibrou com o roteiro e tratou de se dedicar a fundo para a construção da nova fase. Como parte da pesquisa, se inscreveu numa palestra ministrada pela desembargadora Ivone Ferreira Caetano, primeira mulher negra a se tornar juíza do Tribunal de Justiça do Rio, hoje responsável pela Corregedoria Geral Unificada da Secretaria de Estado. Ao final do evento, foi até ela e pediu algumas orientações para o papel.

— Marcamos um horário e ficamos uma tarde inteira conversando. Fiquei impressionada com a história e a postura dela. Ivone sofreu muita coisa e, ao mesmo tempo, tem uma força enorme. Vê-la no meio de um monte de homens, resolvendo e administrando tudo, foi muito inspirador. Ela faz isso tudo com uma postura impecável que levei para a Raquel — conta.

Embora não tenha muito tempo livre em função do cargo, Ivone tem se esforçado para acompanhar a novela. Assiste a algumas cenas pela internet e segue trocando figurinhas com Erika pelo WhatsApp.

— Sendo mulher, negra, filha da lavadeira Dona Josepha, mulher de ventre forte que criou seus 11 filhos sozinha, e tendo chegado ao cargo de juíza e desembargadora após enfrentar incontáveis dificuldades, tentei passar a ela, por meio de gestos e palavras, um pouco do que vivi e venci — relata Ivone, ao relembrar a tarde que passaram juntas em seu gabinete. — Enquanto ela me observava minuciosamente, mostrei como nunca deixei o preconceito e o racismo me atingirem, embora eles existam.

Toda a dedicação de Erika à personagem tem o devido reconhecimento do autor da novela, Walcyr Carrasco. Ele, aliás, faz questão de frisar que a escolheu por ser uma excelente atriz e ter o perfil adequado ao papel.

— Ela não me decepcionou. Hoje, Raquel é uma das protagonistas da novela. As primeiras cenas em que Nádia (Eliane Giardini) expunha o preconceito de forma exacerbada foram difíceis para a atriz, por serem agressivas — reconhece ele. — Mas a Erika me disse pessoalmente que via benefícios nestas cenas, já que muitos brasileiros fingem não serem racistas, embora sejam.

Entre as cenas espinhosas mencionadas pelo autor, está a demissão de Raquel por Nádia, após ela descobrir o relacionamento amoroso da então empregada doméstica com seu filho Bruno (Caio Paduan). “Bota uma coisa na sua cabeça: meu filho jamais se casará com uma preta”, diz a personagem de Giardini, antes de impedi-la de sair pela porta da frente.

Foto: Reprodução/ Instagram

Segundo Erika, gravar essa sequência foi um desafio, inclusive, para a colega de cena, que sentiu o peso de proferir palavras tão duras a alguém.

— Realmente, foi a mais difícil que fizemos juntas até agora. Não havia escape para o humor. As palavras eram muito cruéis. Mas era necessário para nossas personagens ficarem bem definidas — concorda Giardini, sem deixar de lado os elogios à parceira. — Ela é um espetáculo de mulher, uma alma vocacionada. Isso é uma combinação extraordinária. Irá longe certamente.

Se já é difícil para quem é profissional, quem não é do ramo também precisa controlar a emoção. Ainda mais se essa pessoa é a mãe da atriz.

— Estou achando a novela maravilhosa e não perco um capítulo — orgulha-se Ernestina, que continua vivendo em Contagem (MG), cidade-natal de Erika. — Algumas cenas são tão fortes, que me dá vontade de chorar. Mas a gente sabe que ali é só ficção. E essas cenas ajudam muito na carreira.

Tendo o racismo como um dos eixos centrais de sua personagem, a atriz tem sido frequentemente requisitada para comentar a questão. E um dos aspectos que ela tem revelado sobre o assunto é como o fato de ser famosa não a livra desse mal ainda tão enraizado na sociedade.

Mesmo depois de ter estreado na TV em “Suburbia” há cinco anos, ela ainda passa por situações como ser mal atendida em lojas ou ouvir xingamentos relativos à cor da pele no trânsito.

— Também tem aqueles casos em que o preconceito não é verbalizado, mas há um olhar diferente. E, quando falamos sobre isso, muitas pessoas ainda menosprezam e acham que estamos exagerando, quando, na verdade, todo mundo deveria estar empenhado em combater o racismo.

Para Erika, a maneira mais eficiente de eliminar o preconceito racial passa pela educação. Ela defende que haja mais esclarecimento sobre a história dos negros nas escolas e que o ciclo em que a discriminação é passada de geração a geração seja quebrado.

Mas ela também acredita que a presença de personagens como Raquel numa novela dão um ótimo recado. A atriz adora o fato de a ascensão como juíza ter acontecido ainda no começo da trama.

— As pessoas podem acompanhar uma história de empoderamento desde o início — explica ela, acrescentando que isso passa pela própria imagem da personagem. — É o primeiro trabalho em que uso um figurino rico e elegante. Foge a todos os esterótipos, por mais que também precisem ser representados.

A atriz, aliás, adora moda e está apaixonada pelo que vem desfilando em cena.

— É tudo lindo! Quando chega o figurino, nem questiono. Uso tudo que me dão. Já estou até pegando umas referências para minha vida pessoal, arrumando umas calças pantalonas — conta.

Nada mais adequado para uma mulher que sonhava em ser modelo na adolescência e, hoje, é estrela do horário nobre.

Leia também:

Foto do autor
AUTOR

Redação iBahia

AUTOR

Redação iBahia

Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!

Acesse a comunidade
Acesse nossa comunidade do whatsapp, clique abaixo!

Tags:

Mais em Nem Te Conto