(Foto: Tata Barreto/TV Globo) |
Em pesquisa divulgada pelo Datafolha, em agosto deste ano, Nero foi apontado como o terceiro ator mais querido da TV brasileira. Ele só perdeu para os figurões Antonio Fagundes e Tony Ramos.
A estreia já aconteceu no horário nobre: como o inocente verdureiro Vanderlei na novela A Favorita, escrita por João Emanuel Carneiro, mesmo autor de A Regra do Jogo, que agora lhe confia o protagonista Romero Rômulo.
Aliás, a partir da próxima semana, o ex-vereador vai decidir mudar de lado e deixar a facção criminosa da qual faz parte. Romero sentirá o gosto de ser um verdadeiro herói ao ajudar a salvar vidas em um assalto em que não estará envolvido com os criminosos.
Do começo até hoje, Nero coleciona papéis importantes como o motorista Baltazar de Fina Estampa (2011), o advogado Stênio de Salve Jorge (2012) e seu primeiro protagonista, o Comendador José Alfredo, de Império, assinada por Aguinaldo Silva e exibida até o começo deste ano.
Com o Comendador, Nero foi alçado ao posto de galã e estrelou o último grande sucesso da faixa das 21h da Globo/TV Bahia, com médias de até 40 pontos no Ibope (cada ponto equivale a 67 mil domicílios na Grande São Paulo).
Em entrevista ao CORREIO, o ator fala do desafio de encarar outro protagonista em tão pouco tempo, avalia o perfil de Romero Rômulo, elogia João Emanuel Carneiro e Amora Mautner, afirma que ser protagonista lhe toma muito tempo, fala da fama e comenta sua relação com a Bahia.
Romero Rômulo é um cara dúbio, né? Como foi a sua preparação para o personagem?
O Romero, na verdade, é um sobrevivente. Frágil emocionalmente, ele vem de um ambiente onde só existe ódio ao seu redor e aprendeu que a sociedade só quer dinheiro e poder. Ele é um cara que dança conforme a música. As pessoas podem vê-lo como um vilão, mas para mim ele é um vilão sem talento (risos). A construção de um personagem é basicamente um trabalho intelectual, mas sempre busco referências em situações que observo no dia a dia, filmes, livros e seriados. No caso específico do Romero, o filme alemão A Vida dos Outros, dirigido pelo Florian Henckel von Donnersmarck, foi uma inspiração importante. Outra referência foi o conto A Hora e a Vez de Augusto Matraga, do Guimarães Rosa. Fui algumas vezes ao Vidigal, comunidade do Rio na qual o Morro da Macaca foi inspirado, e conheci um típico Romero, aquele malandrão carioca, que se virava, frequentava as altas rodas, mas que, na verdade, mal tinha onde dormir. Tem um estilo de vida ali que é bem o dele: eles são todos amigos, têm muita liberdade, falam alto, falam andando (risos). Foi bacana ter vivenciado essa realidade de perto.
Como surgiu o convite?
Eles me chamaram duas vezes para fazer o teste e eu disse não, porque eu estava esgotado. Mas aí entra a Amora: ela me ligou, com todo carinho e atenção, e me convenceu a simplesmente fazer o teste. Eu fiz no meio das gravações de Império e eles ficaram ainda mais certos de que tinha que ser eu! Certamente o que mais pesou na minha decisão de aceitar o convite foi o fato de ter sido esse o personagem mais instigante que surgiu para mim, após o Comendador.
(Foto: Renato Rocha Miranda/ TV Globo) |
Como está sendo trabalhar com as feras João Emanuel Carneiro e Amora Mautner? Maravilhoso! A novela é incrível! O mais bacana no João Emanuel é o enlace entre as histórias. Ele trabalha muito com a situação cômica e o meu personagem vive em meio a muitas dessas situações. Ainda tem esse jogo de pistas falsas que o João vai construindo na trama: quem está mentindo, quem fala a verdade? Além de tudo isso, muita coisa acontece, o tempo todo, e a direção da Amora reforça esse ritmo acelerado da novela. Costumo dizer que a Amora é insana! (risos). Claro que isso é um elogio, no caso dela! A Amora é uma líder e tem tudo muito definido na cabeça: sabe muito bem o que quer e onde quer chegar. Mas ela também é de muito diálogo, de uma cultura infinita, ouve bastante e o que mais me tranquiliza: ela deixa o jogador jogar. Nosso trabalho está muito baseado na não censura moral e ética de um personagem. Não posso julgá-lo, tenho que compreendê-lo, e ela deixa a gente livre para isso.
A história ainda está no começo e é difícil prever o desenrolar, mas você, pessoalmente, acha que Romero tem salvação?
A novela fala sobre ética, qual o limite entre o que é certo e o que é errado, até que ponto a gente pode ir. Mas também é a história de um cara capaz de fazer maldades, que só pensa em si próprio, mas que, aos poucos, em função do amor dos outros, começa a perceber que é bacana ser bom. É por isso que eu digo que é a história é de um antivilão.
Você voltou ao ar meses depois após o marcante José Alfredo, de Império. É um desafio?
Não planejava um novo protagonista agora. A coisa começou a me interessar quando fiquei sabendo mais sobre o personagem. Não o vejo como um desafio maior do que qualquer outro personagem que eu tenha feito, muito menos como um risco. Nunca esperei que um dia me tornaria nem um ator de televisão, o que dirá um protagonista da Rede Globo. Não temo o risco na minha profissão, de verdade. E isso é fundamental para que eu exerça esse ofício. O importante pra mim é continuar trabalhando de maneira genuína, apaixonada e “brincante”, como sempre fiz.
Você se consagrou como uma das estrelas da Globo relativamente tarde, pois fez sua carreira no teatro. No que o teatro te ajudou na TV? Sente algum tipo de falta dos palcos?
Na verdade, comecei na música, tocando em Curitiba. Fiz um teste para o teatro muito por conta da minha timidez, achei que me ajudaria no palco, como músico. Foi fazendo teatro que surgiu a oportunidade de fazer um teste para a TV e, de lá pra cá, já são oito anos de Globo. As coisas na minha vida sempre foram acontecendo naturalmente. Sempre tive a sorte de estar bem acompanhado em cena e com personagens interessantes, tanto no teatro quanto na TV. Há 25 anos eu vivo do que faço como músico, ator, poeta. Quando a gente faz novela não há tempo para mais nada, mas tenho planos de voltar à música e aos palcos em 2016.
Muitos dizem que junto com o sucesso vem as mazelas da fama... Como você lida com a vida de famoso?
Essa história de ser ou não famoso é uma invenção dos outros. Para mim, eu sou a mesma pessoa de sempre. Mas é claro que o lado ruim de estar muito exposto, sobretudo quando se vive a experiência de fazer um protagonista de novela das 21h, é ter que lidar com a invasão da privacidade, com essa prática tão comum de inventar histórias, distorcer e descontextualizar o que eu digo para vender jornal e revista, pra ganhar mais “clics”. Nesse sentido, eu acho que as redes estão ajudando as pessoas a perceberem quem é quem. Que tipo de imprensa deve ser levada a sério ou não, em meio a tantas informações falsas que a gente lê por ai.
(Foto: Alex Carvalho/ TV Globo) |
Além de Romero, se é que possível (risos), há algum outro projeto neste fim de ano?
Aprendi que é impossível dar conta de qualquer outra coisa quando se vive um protagonista de novela das 21h (risos). Minha vida está inteiramente dedicada ao Romero este ano - projetos novos, só em 2016.
Muito se fala em crise de audiência nas novelas. Isso atinge você como ator de algum modo?
Essa questão da audiência não tem nada a ver com o trabalho do ator. Não me pauto por isso. O que me move é fazer bem o que me propus a fazer, estar em projetos instigantes, desafiadores, que façam o público pensar, como é novela do João, por exemplo.
Para fechar, queria ouvir um pouco da tua relação com a Bahia.
Na verdade, conheço a Bahia muito menos do que gostaria! Estive em Salvador apenas uma vez, com uma montagem de teatro. A cultura da Bahia é tão rica, em todas as áreas artísticas, que é até complicado citar nomes. Lembro agora de Othon Bastos, Glauber Rocha, os atores baianos da nova geração, que eu adoro, sem falar na música de Dorival Caymmi, Caetano, Gilberto Gil, Maria Bethânia, João Gilberto. A base da minha cultura, como a de todo brasileiro, vem da cultura baiana.
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