Texto: Kivia Souza
Reportagem: Érica Torres
Video: Daphne Carrera
Elas só querem valorização, reconhecimento e condições dignas para trabalhar. A arte de operar máquinas de costura, ou simplesmente entrelaçar tecidos com linha, é um hábito passado por gerações e cada vez mais em alta, por conta do aquecido mercado da moda. Em Salvador, há profissionais e oferta no mercado, porém, segundo o assessor de comunicação do Serviço de Intermediação para o Trabalho (SineBahia), Lucas Sande, a maioria das costureiras que trabalha há muitos anos nesta categoria prefere a informalidade.
De acordo com informações do SineBahia, das vagas para costureiras simples e industriais, que são cadastradas no serviço, cerca de 25% são preenchidas com carteira assinada. No entanto, “as profissionais de larga experiência preferem trabalhar como autônomas", como explica Sande. Isso acontece porque elas já têm clientela fixa, fazem o próprio horário e têm ganhos superiores ao que o mercado oferece.
Por conta disso, o interesse pela profissão por parte da nova geração acaba se perdendo no tempo e em outras opções. Sem costureiras experientes para preencher o quadro de vagas, fica difícil também esperar por jovens que queiram alimentar este mercado na mesma proporção que surgem as ofertas de emprego. Quem encara trabalhar para alguma fábrica ou empresa de confecção, na capital baiana, tem que se contentar com o salário que varia entre o mínimo e R$600.
“Nós trabalhamos por amor, porque se fosse por necessidade, não daria”, confessa Marlene Assis, 45 anos, uma das fundadoras da Associação das Costureiras de Itapagipe (Ascosi), que fica no bairro do Uruguai. Das 22 associadas no ano de 2000, hoje, restam apenas dez mulheres, que se dividem entre a família e a profissão para angariar poucos ganhos e ajudar nas contas de casa.
As mulheres da Acosi trabalham com costura a grosso para grandes fábricas e produzem dezenas de peças para fardamentos, roupas e fantasias. Cada gota de suor resultante do calor excessivo no ateliê sem ventilação e as dores lombares não são repassadas em números para as peças, que são vendidas geralmente a R$1 (Um Real) cada. “Se não fizermos o serviço, lá na frente, o empresário vai encontrar outra associação mais estruturada que a nossa e que vai fazer pelo preço que ele quer pagar. Estamos sendo exploradas”, lamenta Marlene.
“Neste mês, depois que tiramos todo dinheiro para pagar as contas, sobrou R$100 para cada. Esse foi o nosso salário”, contam. Mesmo com toda dificuldade e desvalorização, as costureiras da Ascosi trabalham com amor ao que fazem, já que todo esforço não é revertido em dinheiro. “A gente só se dá por derrotada quando deixamos de sonhar. Mas nosso sonho é chegar às passarelas”.
Criada há dez anos e dentro das dificuldades, a Ascosi chegou a ter apenas duas associadas. Todas as ferramentas que existem no ateliê foram doadas pela Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte da Bahia e pela Universidade Católica do Salvador (Ucsal). A sede da associação é alugada e com ajuda do Serviço Social da Indústria (Sesi), as costureiras conseguiram ficar um ano com o aluguel, de R$350 mensais, quitado.
A costura está nivelada com a maioria das funções de comércio e serviço, que não têm planos de carreira. Segundo Lucas Sande, assim como não há interesse do jovem virar pedreiro, profissão que ainda há uma apresentação negativa, a função de costureira, também, não tem tanta evidência porque a oferta de vagas é mais pontual. “Nós temos dificuldades para preencher esse tipo de vaga, não pela questão salarial, mas pela visão que os jovens têm da profissão. A ideia que se faz da área de costura não é tão atrativa. É uma função que nunca sai do nosso painel”.
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