Quem não quer ter um trabalho que traga felicidade, realização e sentido, não é mesmo? Essa oportunidade é para todos, sem exceção. Só que uma transição não é feita da noite para o dia. Exige calma, cuidado, planejamento e experimentação para saber o caminho que deseja seguir.
Ainda é raro as pessoas compartilharem os caminhos que fizeram na sua transição. Por isso eu criei esse projeto: “Fiz a Travessia”, uma série de entrevistas para inspirar e incentivar pessoas a fazerem sua transição. As perguntas são feitas com quem quer contar a sua história de transição e hoje estão se sentindo mais feliz, satisfeitos e realizados com o que fazem.
A entrevista da vez é Talita Benicio, 32 anos, que saiu da Microsoft para criar uma Panificação e Confeitaria sem glúten e sem leite.
Lella Sá - Por que você decidiu sair da onde estava?
Talita Benicio - Minha péssima condição de saúde foi o divisor de águas porém, há algum tempo, eu já vinha questionando minhas escolhas. Morava há 3 anos na Ásia (2 anos e meio na índia e 4 meses no Vietnã), sozinha com um estresse intenso (pressão com a compra da Nokia pela Microsoft), jornada de trabalho estendida, pois atendia também a fábrica do Brasil, com 12h de diferença. Tinha sim muitas vantagens, ganhava muito bem, viajava bastante a trabalho e lazer mas era refém de um escritório por mais de 12h/dia e um celular por 24h. Emocionalmente, sempre fui muito estabilizada no que tange a saudade, mas o fato de estar doente por tanto tempo e sem um diagnóstico exato, me fazia refletir se aquilo estava realmente valendo a pena.
Lella Sá - Como fez essa mudança?
Talita Benicio – Quando pedi demissão, meu mundo caiu. Eu batalhei bastante para chegar onde estava profissionalmente e tinha um futuro promissor na minha antiga área de atuação. Como morei tão distante do Brasil e sozinha por tanto tempo, fiz do meu antigo emprego o meu maior companheiro e ficar sem ele, me deixou sem chão. Voltando ao Brasil, decidi tirar um período sabático — me dediquei a descobrir o que estava me “matando” e como eu iria resolver isso. Quando me descobri alérgica, automaticamente algumas coisas fluiram — reaprendi a cozinhar e readaptei meus hábitos de consumo. Com o período sabático, entendi que eu não queria mais voltar para o regime 12h por dia presa em um escritório. E então, foi quando as coisas ficaram ainda mais confusas — o que eu vou fazer se eu só sei ficar trancada 12h por dia em um escritório?! Prolonguei um pouco mais o meu sabático e voltei para Manaus, onde morei por quase toda a minha vida. Revi amigos e me permiti ter tempo para ter novas idéias. No dia 4 de setembro de 2015 acordei e disse: hoje farei minha primeira fornada”. Nasceu a Same Same.
Lella Sá - Quais foram os maiores desafios que passou para fazer essa transição?
Talita Benicio - Eu fui e sou o meu maior desafio. Pois para mim, não existia emprego bom o suficiente fora da minha antiga área de atuação. Morria um pouquinho todas as vezes que alguém me perguntava com o que eu trabalhava. Levei muito tempo para aceitar que, a vida na indústria não era mais o que eu queria. E levei mais tempo ainda, para aceitar que ficar em pé na cozinha e receber o título de “cozinheira” não me fazia menor em nada — muito pelo contrário, me faz feliz em todos os sentidos. Sofri também preconceitos de alguns antigos colegas de profissão e sinto também que algumas pessoas se afastaram de mim, pois não temos mais “assuntos em comum” para conversar.
Lella Sá - Como ficou a questão de grana em meio a incerteza?
Talita Benicio – Fiz uma boa poupança morando fora do país. Então, grana não foi e nem está sendo um ponto crítico no meio desse processo.
Lella Sá - Qual futuro você está ajudando a criar?
Talita Benicio – Gosto muito do termo cozinha inclusiva. E foi daí que a Same Same — igual, mas diferente nasceu. Não vendemos pães e bolos. Vendemos possibilidades. A moda da dieta sem glúten vai passar, a alergia não.
Lella Sá - Que dicas você daria para quem quer ter um Trabalho com Significado?
Talita Benicio – Se ouvir. Eu costumo dizer que o corpo emite sinais o tempo todo, mas a gente ignora. O meu corpo comprova o tempo todo quão errados são os resultados negativos dos testes alérgicos que eu faço. Hoje, eu percebo que a maioria das pessoas está operando em modo automático, fazendo porque “tem que fazer”, “para fazer o social” ou simplesmente para “evitar confrontos” — com os outros e consigo mesmo. O meu eu-antigo vive dando rasteira no meu eu-novo, mas levanto e arrumo meu avental e falo para mim mesma “keep walking”
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Redação iBahia
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