Oito experiências de sucesso do produto artesanal sustentável e economicamente viável foram apresentadas no fórum de lojistas do Senac Rio Fashion Business, na terça-feira (11). Um detalhe importante: todas desenvolvidas no Nordeste. O painel Indústria Criativa e Economia da Cultura contou com a curadoria e mediação da consultora Cristina Franco, que trabalha com moda há 40 anos e hoje reside em Salvador. Do painel participaram Dulce Mascene (Sebrea Nacional); Emília Almeida (coordenadora do Instituto Mauá – BA); Bernardete Aguiar (artesã pernambucana, que produz as bonequinhas da sorte); Madalena Moreira (designer de Sergipe); Patrícia Mendes (coordenadora do projeto Talentos do Brasil, ligado ao ministério do Desenvolvimento Agrário); Marielsa Targino (Sebrae da Paraíba agente de desenvolvimento das potencialidades locais); Fátima Apolinário (Cearte – Centro de Inclusão produtiva do Ceará e assistente social) e Ana Maia (arquiteta e designer de Alagoas, que hoje atua com reciclagem e inclusão social de meninos de rua). Essas oito mulheres desenvolvem em suas cidades e estados um belo trabalho de auto-estima de artesãos e, mais que isso, de valorização cultural. Na prática, elas reforçam o conceito de economia criativa, termo surgido em 2001, com proposta focada no capital intelectual e nos ativos culturais, geração de emprego e renda, divisas, inclusão social, diversidade cultural e desenvolvimento humano. O pós-crise de 2008 trouxe ainda maior relevância ao conceito, sobretudo, nos países em desenvolvimento, focando nos talentos. Produtos - Muito se fala em artesanato brasileiro e lá fora o sucesso de seus produtos é um fenômeno, no entanto, no mercado interno, além de apoio e incentivo, existem o não-conhecimento e o preconceito. “A palavra artesanato tornou-se pejorativa aqui, enquanto lá fora é o contrário. No Japão se paga uma fortuna por uma peça artesanal”, comenta a arquiteta Ana Maia, que hoje trabalha com 80 meninos tirados das ruas de Alagoas para aprenderem o ofício artesanal aplicado em bijuterias da marca Viver de Arte. Em breve, essa marca, através de uma parceria com um investidor, ganhará sua primeira loja em Tel-Aviv e Ana segue realizando exposições de seus trabalhos artísticos em salões e eventos mundo afora. Outra boa história é a da dona Bernadete Aguiar. Artesã pernambucana, ela saiu de lá do Gravatá, pequena cidade próxima ao Recife, para mostrar no Fashion Business uma tradição que existe há 35 anos: as Bonequinhas da Sorte – miniaturas fabricadas manualmente com uma cartela e combinação de cores que remetem à sorte. Há 15 anos, ela participa da associação na qual um grupo de mulheres fica responsável pela confecção de uma parte da pequena boneca, que pode ser usada como broche. Algo muito singelo que é vendido como água e encanta gente de todas as partes. Bernadete levou alguns saquinhos da bonequinha para o Fashion Business e vendeu cada uma por R$ 2, no final da apresentação do painel. Não sobrou uma! “São 90 mulheres na associação, que hoje chama Bonequinha Solidária, pois a gente se organizou e capacitou para fabricar dez mil bonequinhas por mês. Elas são exportadas para lugares como Holanda e Tchecoslováquia”, conta ela, toda orgulhosa. Na Bahia e no Ceará, as experiência de economia criativa estão ligadas ao artesanato da cerâmica, que é tanto utilitária quanto decorativa. Em Salvador, o Instituto Mauá trata de dar visibilidade à produção das mais de 100 olarias do município de Maragoginho. Já no Ceará, foi criado o Cearte, que fortaleceu a atividade por lá. Emília Almeida, diretora do Instituto Mauá, ressalta que, por meio de uma parceria com o Sebrae, os ceramistas recebem apoio de instituições para divulgar seus trabalhos e fazer a intervenção com a moda. Hoje, produtos de cerâmica aparecem expostos em lojas como Tok Stok e eventos como Casa Cor. A consultora Cristina Franco também frisa a importância de empresas terem em suas decorações artigos como esses para valorizar a cultura. Renda - O Cearte (Central de Artesanato do Ceará) nasceu com o objetivo de desenvolver e coordenar políticas de fomento dos produtos artesanais, está presente em 140 dos 184 municípios cearenses. Entre os projetos desenvolvidos, estão um núcleo de capacitação, curadoria dos produtos que entram nas lojas e o fortalecimento de comercialização. A Cearte já tem hoje sete lojas, entre elas uma só de produtos indígenas, mas suas maiores vendas são as produções de linha e as rendas. A designer Madalena Moreira, de Sergipe, é uma das artesãs que mantém viva a tradição da técnica ponto cruz, mas ela conta que enfrenta a concorrência da indústria de bordados, na qual máquinas fazem tudo. “As pessoas dizem que o preço do trabalho artesanal é alto, mas sabemos o tempo que as pessoas passam trabalhando em uma peça, e a indústria faz 500 peças, nesse mesmo tempo”. Ela se refere ao trabalho com a renda irlandesa, feita com agulha, existente hoje só em Sergipe. “Temos problema de comercialização e, se não houver valorização, a tendência é diminuir a produção. Hoje trabalhamos em vestidos de noivas e decoração, mas a renda também é utilitária”, ressalta. * A jornalista viajou a convite da organização do evento
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