Você já parou para pensar na quantidade de coisas que poderia fazer ou planejar em um dia de folga do trabalho? E em um mês? Por que não seis meses, ou até mesmo um ano? A auto reflexão durante um período maior do que o de uma simples férias pode ajudar a reorganizar a vida profissional e pessoal, além de contribuir para futuros ganhos e realizações. Esta prática de reestruturação da vida a partir de um afastamento do trabalho tem nome, trata-se do ano sabático. Um casal baiano passou pela experiência e confirma os benefícios.
Marcos Gilberto dos Santos, lojista, 36 anos e Vanessa Ribeiro dos Santos, arquiteta, 40 anos, tiveram conhecimento sobre o assunto em encontros que ocorriam nas igrejas de Salvador. Em 2002, quando a situação profissional, a relação e a questão religião não estavam recebendo a atenção necessária, eles decidiram vivenciar o período de reflexões na comunidade religiosa O Verbo de Vida, no bairro do Capelão, em Lauro de Freitas.
“Na época, com sete anos de casados, tínhamos acabado de construir nossa casa, ainda não tínhamos filhos e queríamos reservar um tempo para Deus. Reajustamos nossos compromissos para viver nosso ano sabático, que durou nove meses”, explica Marcos. Todos os dias o casal destinava cinco horas para realização de ações sociais em creches, comunidades carentes e asilos. Depois, ainda recebiam aulas de histórias sobre o catolicismo e participavam de orações que duravam aproximadamente três horas.
A experiência foi muito satisfatória, como revela o depoimento de Marcos: “Nós voltamos às nossas atividades com vigor novo e, principalmente, sentido mais pleno da vida. Enxergamos as coisas com mais clareza e tomamos decisões com maturidade. Decidimos reservar mais tempo para os dois, resolvemos ter nossos filhos, e nos envolvemos com a prática de ações sociais”.
Quanto à carreira profissional, o lojista explica: “Ao retornar, continuei trabalhando na minha casa de material de construção e decidi retomar os estudos. Havia abandonado a faculdade de Engenharia e resolvi iniciar outro curso, o de Administração. Hoje tenho uma pós na área e estou iniciando o mestrado”. Já a esposa Vanessa era funcionária pública da Prefeitura de Salvador e precisou abrir mão do cargo para viver a experiência. A prefeitura não aceitou fazer a liberação, porque se tratava de um longo período de afastamento. Porém, ao retornar a arquiteta conseguiu novo cargo, desta vez na Prefeitura de Lauro de Freitas, cidade onde mora, o que para ela foi ainda melhor.
Licença - Situação diferente aconteceu com o professor e doutor em História Social da Universidade Estadual da Bahia (Uneb), Daniel Franscisco dos Santos, que conseguiu uma licença sabática de seis meses no trabalho, durante o ano de 2008, para atuar em um núcleo de estudos afro-brasileiros da Universidade Estadual da Paraíba (Uepb). Ele conta que precisou apresentar um projeto para a instituição onde trabalha e a que iria recebê-lo, para em seguida, conseguir a aprovação necessária e dar iniciar ao período. "Esta licença remunerada só pode ser concedida para funcionários que trabalham há, pelo menos, sete anos na universidade. Eu comecei a lecionar muito jovem na Uneb. Com o passar dos anos, tive licença para fazer mestrado e doutorado e depois precisei me atualizar através do período sabático", conta o doutor.
Especialistas - De acordo com Carlos Prates, consultor empresarial e autor do Blog Empregos publicado no iBahia, vale a pena dar um tempo no trabalho para investir em você mesmo, porém deve haver um planejamento bem determinado antes de embarcar na ideia. “As reflexões devem focar em questões como: a carreira atual é a desejada? eu gosta do que faço? É bom aproveitar o período para estudar e investir em bons cursos, mas para isso deve haver dinheiro sobrando na poupança”.
A psicóloga Martha Castro afirma que a auto reflexão deve ser feita o tempo inteiro. “Acredito que a todo o momento devemos avaliar a relação, o trabalho e a vida. Não aconselho que o indivíduo pare de trabalhar para fazer isto. Mas, pode sim ser válido para pessoas que saibam aproveitar a experiência, porque nem todos conseguem tirar de cada momento uma lição de vida”.
Origem do ano sabático - Há contradições, mas a princípio, o termo é de origem judaica e surgiu a partir da palavra sabá que significa o período em que os judeus se dedicam ao descanso religioso. Posteriormente, universidades americanas utilizaram a expressão para designar uma licença, concedida por um ano, aos antigos professores das instituições, com objetivo de reciclá-los. Hoje, existem empresas que investem no ano sabático e acreditam no bom resultado da experiência, que pode durar de seis meses a um ano. A pessoa pode aproveitar de diversas maneiras, seja em uma viagem turística para conhecer novas culturas, um trabalho voluntário, um curso ou investimento em um novo projeto.
Fotos: Arquivo Pessoal
Veja também:
Leia também:
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!