Lidar com a dor da perda é um desafio de gigantes, redirecionar o afeto para outras esferas da vida é quase como mover uma montanha. Mas há que mova. Discreta, a advogada Ana Cartaxo Bastos Barreto se familiarizou com a perda em sua vida, apesar de não naturalizá-la. Ela perdeu um bebê antes da sua primeira filha Lila, de 4 anos e três bebês até ter tido o pequeno Miguel, de um ano. "Depois que eu tive três perdas, os médicos diziam que iam investigar, quando eu pensei em investigar, já tava grávida do Miguel", recorda-se.
O psicólogo Alessandro Marimpietri afirma que não há fórmulas para lidar com a superação da perda de um filho e que até passar pelo o luto, vai sempre de acordo com a experiência de cada mulher. "O luto vai da forma como cada mulher pode elaborar essa perda. Em geral poder dar conta, se possível com algum auxílio, a direcionar seu afeto noutras direções. Isso pode demorar o tempo que cada uma precisa", esclarece.
Sem o auxílio terapêutico, a força para superar a perda de um filho, veio com a vida da pequena Lila. "Eu não fiz acompanhamento psicológico. Quando a gente já tem filho, as prioridades se voltaram para minha filha. Eu estava sofrendo com as perdas, mas tinha uma bebezinha que não tinha completado nem um ano idade. A vida estava ali, a nenenzinha estava ali e eu ficava triste quando tinha que ir para o hospital, mas eu não podia me abater", emociona-se.
Ana diz que a possibilidade de compartilhar essa e outras histórias com outras mães que tiveram experiências de perda é reconfortante. "Quando você partilha essas histórias, a gente tem um conforto e ganha uma sensação de segurança muito maior. Você pensa que ninguém vive isso e muitas pessoas próximas você viveram aquilo ou coisas semelhante", reflete.
Ser uma pessoa positiva e que acredita na vida foi a força de Maria Cledija da Silva para superar a perda de um filho. A instrutora de hatha yoga perdeu uma filha recém-nascida em 2014. "A gente teve o parto natural, ela nasceu e com instantes foi levada pelas enfermeiras. Peguei minha filha no colo, eu ia amamentar, ela ficou numa cor diferente, deu um suspiro. Na hora, os médicos não deram muta atenção. Até que uma médica percebeu que tinha alguma coisa errada, pegou minha filha e a levou para fazer procedimentos de ressuscitação. Ela não teve movimentos cerebrais, ficou em coma e morreu 13 dias depois", relembra.
O luto pela morte da filha foi vivido com a ajuda do pai e marido, na época. " Eu pensava que não ia ter tudo que planejei, não ia ter mais minha filha. Nos 13 dias de hospital foi uma experiência muito dura, mas de muito aprendizado poder conviver com outras mães. Eu tive várias fases, eu ficava me perguntado os motivos, até me fortalecer para outra maternidade", esclarece.
Mesmo sem planejar, mas com o desejo de ser mãe, Cledija engravidou do pequeno Raoni, desta vez, como mãe solo. "Quando a gente teve a perda, era como se tivesse devendo uma coisa um para o outro. Eu queia muito ser mãe de novo. Ele não veio num bom momento financeiro, mas eu fiquei muito feliz, muito positiva. Consegui fazer meu parto em casa, numa banheira. Hoje eu sei que um filho não substitui o outro, mas espero que outras mulheres que vivam essa experiência não se abatam. Tudo tem um sentido", encerra esperançosa.
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Redação iBahia
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