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Pesquisador defende a importância da sujeira no primeiro ano

Estudos científicos mostram que micróbios regulam o sistema imunológico

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Redação iBahia

29/10/2016 às 20:15 • Atualizada em 31/08/2022 às 20:03 - há XX semanas
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Pais, não abusem do álcool gel. Pensem e discutam com o pediatra antes de dar antibióticos aos seus filhos. Não tenham medo de deixá-los brincar em tanques de areia. Mães, amamentem; mesmo que o leite tenha que ser complementado. Se puderem, tenham um cachorro e optem pelo parto normal em vez da cesárea. A melhor maneira de limpar uma chupeta que cai no chão é lambê-la antes de dar de volta ao bebê. Água quente e sabão bastam para lavar mamadeiras. Deixem as crianças se sujarem, ficarem ao ar livre. A lista acima está relacionada a um campo da ciência que vem explodindo de cinco anos para cá: o estudo do chamado microbioma (os micróbios e seus genes que habitam o corpo humano).
Esses micróbios agora começam a ser mapeados e a ter suas funções conhecidas; vários deles, mostram estudos, regulam o sistema imunológico. A falta de certos micróbios já foi associada a males como asma, obesidade, autismo e diabetes.
— Doenças da vida moderna, que explodiram de 20, 30 anos para cá. Justamente quando houve um excesso de higienização do mundo — argumenta Brett Finlay, microbiologista da Universidade de British Columbia, em Vancouver, Canadá.
Finlay escreveu “Let Them Eat Dirt” (Deixe-os comer terra, em tradução livre), em que descreve pesquisas recentes e outras ainda em andamento mostrando como os micróbios (principalmente as bactérias) atuam no organismo humano e são capazes de contribuir para a saúde. O livro ganhou uma edição em Portugal, está disponível para ser comprado on-line, mas ainda não tem data prevista para sair no Brasil.
Essa exposição aos “micróbios bons” é fundamental durante a primeira infância, argumenta o pesquisador que, além de contar casos e citar pesquisas, dá dicas de como os pais devem melhorar a microbiota (bactérias, vírus e fungos) dos filhos.
CONEXÃO ENTRE O INTESTINO E O CÉREBRO
Os estudos são variados. O próprio Finlay Lab (o laboratório do cientista) publicou na revista “Science”, no ano passado, a análise que fez colhendo fezes de 319 bebês, de 3 meses de vida e 1 ano de idade. Ele descobriu que os bebês com mais propensão à asma aos 3 anos não tinham, quando menores, quatro tipos de bactérias presentes no organismo de crianças sem asma. Esses micróbios são bactérias passadas durante o parto vaginal e o aleitamento materno e que são mortas com o uso de antibiótico no primeiro ano de vida da criança. Outro estudo no laboratório de Finlay associou a ausência de micróbios a um maior risco de obesidade em crianças.
— Estamos apenas iniciando o mapeamento desses micro-organismos. Acredito que esse mapeamento irá promover uma verdadeira revolução na medicina. Podemos criar dietas e tratamentos personalizados quando soubermos que tipo de micróbio colocar em cada organismo — comenta Finlay.
Há, além disso, diz ele, uma forte conexão entre o intestino e o cérebro. Sem querer criar uma panaceia, ele vê como promissores estudos que usam transplantes fecais em crianças autistas.
— Há muitos dados que indicam que crianças autistas têm micróbios diferentes em seus organismos, o que é um primeiro passo. Não sei se o transplante fecal representará a cura do autismo, mas há bastante coisa sendo feita nesse campo.
O médico da família Ricardo Ghelman, do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP, e Emanuel Sarinho, presidente do Departamento Científico de Alergia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), dizem que há uma tendência mundial — no Brasil apenas começando — de se usar menos antibióticos e pensar em como podemos estimular a imunidade de nossa população infantil.
— Ter febre é bom para estimular o sistema imunológico da criança. Se o estado geral estiver bom, nem medicar às vezes é necessário. Antibiótico então nem se fala, só atua contra bactérias, e muitas vezes as crianças têm quadros virais. Esses remédios são maravilhosos, mas seu uso não pode ser banalizado justamente porque eles matam também bactérias do bem — diz Sarinho.
Ghelman indaga: “precisamos pensar no que é mais importante na promoção da saúde: nos mantermos afastados dos micróbios ou sermos imunes a eles?”— um desafio para a medicina moderna.
Mesmo sem conhecer o livro, Fabiana Fernandez segue seus ensinamentos com os filhos James, de 2 anos e 7 meses, e Isabela, de 9 meses.
— Desde pequenos no tanque de areia, chupeta que cai no chão vai pra boca e mamaram no peito. Temos um cachorro, e eles são muito saudáveis.

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