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Granadeiro azulino encara o Flamengo de Guanambi na semi |
Quando o relógio marcar às 18h deste sábado (13), o estádio de Pituaçu irá transbordar em lágrimas, que podem representar um misto de sentimentos diversos, como felicidade, êxtase e desabafo de uma torcida muito singular no futebol baiano: a torcida do Galícia Esporte Clube, o granadeiro azulino, intitulado nos tempos áureos como o “demolidor de campeões”. É que, neste mesmo dia, a partir das 16h, o Galícia enfrenta o Flamengo de Guanambi em partida decisiva das semifinais do Campeonato Baiano da Segunda Divisão, onde o clube se encontra desde que foi rebaixado em 1999, juntamente com outro gigante adormecido: o aurinegro Ypiranga. Em caso de vitória, o time de Salvador garante vaga na final, mas, principalmente, retorna à elite do futebol da Bahia. Além de um clube de futebol, o Galícia é um patrimônio da Bahia que extrapola os limites das quatro linhas. Primeiro tricampeão baiano (1941-42-43), o azulino de Brotas foi fundado pela colônia espanhola que migrou da Europa para o Brasil nas primeiras décadas do século 20, depois da Primeira Guerra Mundial, a fim de buscar melhores condições de vida na América do Sul. Aqui em Salvador, os descendentes da terra de Cervantes viram no futebol uma excelente oportunidade para agregar os galegos recém-chegados e os nativos soteropolitanos, que não os viam lá com muito bons olhos por receio de perder os empregos. O Galícia nascia em 1º de janeiro de 1933, com as cores azul e branca da região mater e a cruz de Santiago Apóstolo no escudo. Mas sempre esteve aberto à sociedade baiana como um todo, sem distinção. O clube, cinco vezes campeão baiano, e que já revelou nomes como Servílio, Toninho Baiano, Washington, Oséas e Dante para os gramados do Brasil e do mundo, não pode ficar tanto tempo “invisível” nos porões do futebol baiano. A exemplo do alvirrubro Botafogo, que subiu no ano passado, o granadeiro azulino precisa voltar para renovar as esperanças de uma “terceira força” no estado, hoje limitado à dupla BaVi. A volta do Galícia à primeira divisão estadual também é importante porque o Estádio de Pituaçu poderá ser utilizado por ele em 2014, reduzindo assim a tendência de que este equipamento esportivo, cuja reforma custou cerca de R$ 55 milhões aos cofres públicos venha a se tornar um “elefante branco” com o advento da Arena Fonte Nova. Por essas e muitas outras razões, o Galícia tem um reencontro com a história neste sábado em “Pituazul”. Mulheres e crianças até 12 anos não pagam ingresso, e os demais, sejam galicianos ou mesmo tricolores e rubro-negros que simpatizam com o azulino pagam R$20 para assistir a esta partida decisiva, na qual só a vitória serve ao time da capital. Após os 90 minutos (mais acréscimos) de muita tensão, a única certeza é que milhares de azulinos estarão abraçados aos prantos nas arquibancadas, torcendo para que o choro seja de alegria e o grito engasgado há uma década e meia na garganta seja de desabafo.
*Murilo Gitel é jornalista Matéria original: Correio24Horas
A chance de voltar à elite: Galícia tem reencontro com a história em Pituaçu