Esqueça aquela seleção coletivamente virtuosa, como foi a Espanha de 2010 e a Alemanha de 2014. Também não tente ver na França uma equipe guiada por um craque em estado de graça, como Maradona em 1986 e Romário em 1994. Se for campeã domingo, a equipe de Didier Deschamps entrará para a história como aquela que trouxe o pragmatismo de volta para o topo da Copa do Mundo. Inquestionavelmente talentosa, não faz a menor questão de esbanjar isso dentro de campo.
Toda a campanha na Rússia até aqui foi pautada justamente por essa sensação de que os franceses nunca jogaram tudo que podiam. E pior: de forma proposital. Em um dos grupos mais fracos da Copa do Mundo, a França teve três atuações apenas medianas contra Austrália, Peru e Dinamarca. No jogo em que mais brilhou ofensivamente, contra a Argentina, deu a impressão de acelerar e retardar o ritmo de acordo com a maré. O placar de 4 a 3 aponta um equilíbrio mentiroso. No fim das contas, a equipe chegou até a decisão com só quatro gols sofridos, vazada em apenas duas partidas.
Ficou claro na campanha da França no Mundial que o time não prega a mesma cartilha dos últimos campeões. Espanha e Alemanha triunfaram carregando como filosofia de jogo a obsessão pela posse da bola. Em 2010, a Fúria venceu pela primeira vez uma Copa com média de 58,2% de controle das ações. Quatro anos depois, os alemães levantaram a taça com 56,7% de posse. Já os franceses, se mantiverem a média contra a Croácia e vencerem a partida, serão campeões com menos domínio de bola do que os rivais: 49,3%.
As críticas quanto ao estilo de jogo dos Bleus chegaram durante o Mundial com mais força depois da vitória sobre a Bélgica, Como partiram dos perdedores, soaram um pouco como recalque. E os jogadores franceses dão de ombros para quem tenta entender que modelo é esse tão preocupado apenas com o resultado.
— Não diria que somos como os italianos, que priorizam a defesa. Temos nosso próprio jeito de jogar, a nossa maneira, que gostamos mais. Copa do Mundo não é uma questão de estilo, o mais importante é ganhar. Quando você ganha, isso significa que seu estilo de jogo é bom. É isso que importa — afirmou o volante Matuidi em coletiva de imprensa.
Tudo pela segunda estrela
O discurso tão taxativo do jogador da Juventus é repetido por outros nomes da seleção francesa — Griezmann chegou a fazer piada com o goleiro belga Courtois e suas críticas de que a França teria chegado à decisão baseada em uma postura excessivamente defensiva.
Tamanho apego ao resultado passa uma certa amargura compreensível. Dois anos atrás, a França foi vice-campeã europeia perdendo para uma seleção de Portugal que fez exatamente o jogo burocrático que alguns enxergam na equipe atual de Didier Deschamps.
Aquela Eurocopa em casa serviu de ensinamento para essa geração francesa da maneira mais dolorosa possível. Com média de 52,4% de posse de bola na competição, ela amargou o segundo lugar no fim. Com apenas 35% de posse na semifinal contra os alemães, ela fez 2 a 0 e despachou o rival.
— Nós não nos importamos com a maneira com que vamos ganhar. Nós simplesmente ganhamos. Não me importo mesmo. Eu quero a segunda estrela no uniforme e não me importo com o jogo que faremos para alcançá-la — resumiu Griezmann.
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Redação iBahia
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