“Será que vai dar certo?”. Esta era a dúvida que rondava o pensamento de Jucival Santos há cerca de oito anos. Morador do bairro de Plataforma, ele perdeu a visão completamente aos 15. Mas Jucival arranjou uma maneira de não se render às suas limitações. Um convite para participar do projeto “Elite da Lona”, uma iniciativa que tem como proposta inicial motivar deficientes visuais, transformou a sua vida.
Deu certo. “O astral, minha maneira de conversar, tudo mudou. Hoje eu tenho outra alegria”, comemora Jucival, que tem 32 anos. O aluno veterano é só elogios ao “Elite da Lona” e não economiza palavras para valorizar o projeto. “Eu tinha medo. Achava que não conseguiria e que boxe não era esporte para um cego. As pessoas também não acreditavam”, confessou. No ringue, é quase inacreditável a desenvoltura que ele apresenta durante o treinamento.
Clipe: confira os melhores momentos dos alunos na academia
Galeria de fotos: veja treinamento dos alunos no projeto Elite da Lona
O projeto, que funciona em uma academia em frente ao Porto da Barra, chegou ao décimo ano e hoje atende a 53 alunos que tiveram perda total ou parcial da visão. O boxe é o carro-chefe, mas também são oferecidas aulas de musculação, pilates, escalada, alongamento, spinning, dança e natação. Tudo de graça. As aulas acontecem durante toda a semana e vão além do objetivo de tornar mais saudável a vida dos participantes.
As atividades também são decisivas para tornar os alunos mais independentes. Segundo Ivan Cardoso, 24 anos, que é aluno há cinco meses, já dá para sentir a diferença depois que passou a integrar o grupo. “Hoje tenho mais equilíbrio e mais habilidade para andar sozinho, para não cair, não bater nos orelhões. Sei que isso veio com a prática do boxe”, disse.
Fundador do projeto pede apoio
O empresário Bruno Machado, 33 anos, formado em Educação Física, conta que a inspiração para criar o projeto veio ainda na adolescência, quando iniciou seus treinamentos como lutador de boxe. “Meu mestre recebia pessoas com deficiência e eu ajudava no treinamento. Uma delas, que tinha Síndrome de Down, me chamou muito a atenção e foi daí que veio essa ideia”, contou.
Entre seus planos, está o de abrir a primeira academia pública no país, com cerca de 700 metros quadrados, especialmente para portadores de deficiência para atender mais de mil alunos. Para isso, ele espera fechar três contas de patrocínio nos próximos meses. Uma, ele já conseguiu.
Apesar do crescimento no número de alunos e dos dez anos de existência, para o coordenador da ação a principal dificuldade enfrentada é a falta de apoio financeiro. “Para conseguirmos atender com excelência e gratuidade a todos os alunos, o projeto chegou no seu limite de integrantes. Precisamos de apoio para crescer mais”, afirmou Bruno, sobre a possibilidade de receber novos alunos.
Mesmo com as dificuldades, o empresário e seus outros parceiros na iniciativa vibram com as reações dos alunos. Um exemplo que mostra o quanto o projeto tem feito bem aos alunos é dado por Josuel Freitas, 24 anos e parcialmente cego, que sai de São Caetano para ir até a academia se juntar aos seus amigos. “É uma coisa inexplicável. Eu me arrepio todo quando estou no boxe, eu esqueço de tudo”.
Mais informações
Projeto Elite da Lona
Academia 180º e Boxe Elite, ambas em frente ao Porto da Barra
Bruno Machado - 87884682
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