Na manhã de 03 de maio de 1919, um século transcorrido, uma multidão se acotovelava nas imediações das Docas da Alfândega, no Porto do Rio de Janeiro; fogos de artifício saudavam o comboio de seis embarcações que escoltavam o paquete “Florianópolis”, navio do Lloyd Brasileiro que transportava as delegações do Chile, Argentina e Uruguai, logo mais disputariam com o Brasil a 3º Copa América.
Os jogadores desembarcaram cansados da longa viagem, no percurso apenas duas paradas para treino em terra, nos Portos de São Francisco__ Santa Catarina___ e Santos. Os Uruguaios, favoritos para levar o troféu pela terceira vez consecutiva, presentearam as autoridades brasileiras com uma coroa de bronze destinada ao túmulo do Barão do Rio Branco. O torneio denominado de Campeonato Sul-Americano__ Copa América era o nome do troféu__ seria disputado apenas entre quatro selecionados: Argentina, Brasil, Uruguai e Chile. Este último era mero figurante, não tinha equipe à altura dos concorrentes.
O time brasileiro tinha sido oficialmente escalado 40 dias antes da Copa, após um ano de enfadonhas discussões em tordo de como seria formada a seleção; os paulistas defendiam a tese de que a base deveria ser de jogadores do Santos e do Corinthias com o apoio de alguns jogadores cariocas. Um jogo realizado em inícios de abril entre os combinados A e B balizou a escolha da seleção definitiva. A Copa América era naquele tempo o único campeonato no mundo de seleções de futebol, antecipou-se mais de uma década ao Campeonato Mundial da FIFA que teve Montevidéu como sua primeira sede.
Mais de três semanas depois da festiva recepção a nossos vizinhos e após inúmeras homenagens, almoços e jantares de praxe, o estádio do Fluminense (Inaugurado para o evento) completamente lotado, acomodou vinte e três mil pagantes e, no gramado, repórteres dos maiores jornais dos países em disputa. O público assistiu desde o apito inicial um Brasil confiante decidido a apagar o estigma de terceiro lugar conquistado nas duas copas até então realizadas. A multidão presente no estádio ovacionou o selecionado brasileiro quando entrou em campo, três craques portavam corbeilles de flores naturais entrelaçadas com fitas de seda nas cores das bandeiras das três nações amigas.
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Um dos melhores lugares do estádio para assistir a grande final era do lado de fora, o morro das Laranjeiras, mais de três mil pessoas vestindo chapéus para se proteger do sol escaldante das 14 horas, entoava vivas a Friedenreich, o nosso grande ídolo; o craque não decepcionou marcando o gol da vitória contra a esquadra Celeste, na segunda prorrogação, após um jogo de longos 150 minutos. Esse gol e sua magnífica atuação lhe valeu o apelido de “El Tigre” por parte da imprensa uruguaia, na década seguinte já era reconhecido como o melhor centro avante do continente.
Nos camarotes a elite festejava brindando com bons vinhos europeus; nas arquibancadas pequenos balões era impulsionados de mão em mão; na entrada do estádio a banda de música da Marinha entoava marchas; no morro o populacho era pura exaltação. Quem não pode acudir ao estádio e vivenciar a grande festa da vitória, teve a chance de assistir o jogo, na semana seguinte, no Cine Palais, um filme mudo, chuviscado, produzido por Victor Chiachi, Joaquim Machado e Alberto Botelho. Não existia ainda o cinema sonoro, cabia ao público imaginar a trilha e acelerar o coração.
Originalmente publicado no jornal Correio*, edição de 07 de junho de 2019
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Redação iBahia
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