Tiffany Abreu, de 40 anos e 1,94 m de altura, entrou para a história do vôlei brasileiro ao se tornar, nesta quinta-feira (1º), a primeira atleta trans a conquistar o título da Superliga Feminina. A oposta do Osasco São Cristóvão Saúde celebrou o feito inédito após anos de trajetória marcada por destaque e controvérsias.

Desde 2017, quando recebeu autorização da Federação Internacional de Vôlei (FIVB) para atuar na categoria feminina, Tiffany se tornou uma das figuras centrais no debate sobre a inclusão de atletas trans no esporte de alto rendimento. Entre críticas e elogios, ela enfrentou uma jornada de resistência — que agora se transforma em reconhecimento com a conquista do título.
Leia também:
A jogadora, que participou de todas as partidas dos playoffs, foi uma peça-chave na rotação do Osasco, especialmente nas inversões do 5-1 — substituição tática em que a levantadora dá lugar à oposta.

A final da Superliga foi disputada em jogo único. Com a vitória, Tiffany não apenas levantou o troféu, mas também quebrou uma importante barreira simbólica no esporte brasileiro. A vitória de Tiffany representa também um marco para a comunidade LGBTIQAPN+, que enxerga na atleta um símbolo de coragem e inspiração por sua trajetória de luta e conquista. Seu feito tem potencial para abrir caminho a outras atletas trans em competições de alto nível — em meio a um debate que ainda gera fortes reações tanto no Brasil quanto no cenário internacional.
Tiffany fez a transição de gênero em 2012

Após iniciar sua transição de gênero em 2012, a oposta recebeu autorização da Federação Internacional de Vôlei, em 2017, para competir na categoria feminina. Desde então, segue todas as diretrizes da Confederação Brasileira para atuar nas quadras.
Tiffany chegou ao Osasco em 2021, após quatro temporadas defendendo justamente o time rival da final desta semana. Em seu quarto ano no clube, ela se mostra plenamente integrada ao projeto. Recebida com apoio por atletas, comissão técnica, dirigentes e torcida, foi peça decisiva em momentos marcantes da temporada — especialmente na virada emocionante sobre o Gerdau Minas, no segundo jogo da semifinal, quando marcou 27 pontos e levantou o Ginásio José Liberatti.

Com a visibilidade, Tiffany se tornou figura central nas discussões sobre a participação de pessoas trans no esporte. O Comitê Olímpico Internacional (COI) tem revisado critérios e diretrizes sobre o tema. Sempre serena ao abordar a questão, a jogadora se orgulha da representatividade que carrega e mantém uma postura firme contra a transfobia.
Ao vencer a última Copa Brasil, ela comemorou diante das câmeras do SporTV. "Vai ter mulher trans campeã, sim! Estamos vivendo muita transfobia do esporte. São muitas leis contra as mulheres trans. Então eu tenho que lutar diariamente para jogar", desabafou. "Tenho que lutar fora de quadra, tenho que lutar dentro de quadra. Mas é por isso aqui, por esses momentos que eu estou lutando", disse Tifanny, citando na sequência a rotina de violência sofridas por trans no Brasil.
"Minha classe é que mais sofre. É a classe que mais morre no Brasil. A nossa média de idade (de mulheres trans) é 35 anos. Eu estou com 40, sou uma sobrevivente. Mas eu não vou deixar lutar pela minha classe. Nós merecemos respeito", completou.
Desempenho na Superliga
Tiffany foi uma das líderes do Osasco na missão de resgatar o protagonismo que o time teve no início dos anos 2000, quando travava clássicos acirrados com o Rio de Janeiro. O título da Superliga 2024/2025 quebrou um jejum de mais de uma década — o último troféu das paulistas havia sido conquistado na temporada 2011/2012.
A campanha do Osasco começou de forma avassaladora, com seis vitórias consecutivas. Apesar de algumas oscilações ao longo do campeonato, a equipe contou com o talento e a regularidade de Tiffany — que atua como ponteira e oposta — para fechar a fase classificatória em terceiro lugar, com 47 pontos e 15 vitórias em 22 jogos.
Nos playoffs, o time paulista manteve o ritmo. Eliminou o Sesc RJ Flamengo nas quartas de final em dois jogos e protagonizou uma virada impressionante contra o Gerdau Minas nas semifinais. Após perder o primeiro confronto por 3 sets a 0, o Osasco venceu por 3 a 2 em casa e, depois, fechou a série com um 3 a 0 fora de casa, na Arena UniBH. Com 418 pontos marcados ao longo da temporada, Tiffany terminou como a quarta maior pontuadora da Superliga 24/25.

Naiana Ribeiro
Naiana Ribeiro
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
