É da natureza de cada torcida, e é contagioso. Corre em epidemia, os pais expõem os filhos desde cedo, como a catapora. O vírus circula nas arquibancadas, entorpece o ar, é vetor de doença incurável: a síndrome do torcedor.
Basta começar a torcer e se descobre o tipo pela simples associação ao clube. Aqui em Salvador, circulam atualmente as duas formas mais convencionais: tipos Ba e Vi. No primeiro, o torcedor é acometido de uma inexplicável mania de grandeza, onde juízo de realidade e fantasia saudosista se confundem num sonho bom, com raros intervalos de lucidez, rapidamente superados pela ilusão de uma vitória.
O segundo tipo causa mania de perseguição, busca por reparação social, numa política de cotas às avessas, já que são eles quem dominam a cena da nossa bola nos últimos 20 anos. "Somos campeões brasileiros! Temos mais títulos! As estrelas brilham sobre nosso escudo", alimentam uns. "Apito amigo! Osório já foi! A imprensa é contra nós!", rebatem outros.
Aos contaminados que somos todos nós, eu diria: nem choro, nem vela. O torcedor sadio seria aquele consciente dos defeitos e qualidades de seu clube, que sonhasse no estádio e despertasse fora dele, exigisse quando necessário, apoiasse quando possível. Mas como pedir tanto se é essa doença incurável a razão da paixão pelo futebol? Sejamos, então, analíticos.
O "multicampeão" não tem time assim tão estrelado que se garanta no Brasileiro da Série A só com Tressor Moreno, Ramon e Rafael Gladiador. Assim como o "eterno perseguido" não é alvo dos árbitros ou vive em petição de miséria com Nikão, Geovanni e Elkeson, mas precisa de reforços para a Série B. No Campeonato Baiano, com todo o respeito, vai vencer quem falhar menos.
Esquemas - Bahia e Vitória optaram por mudar o esquema com que começaram a temporada. A mudança rubro-negra é mais radical e funcional. Filosofia simples: antes três meias talentosos que três atacantes ruins. O rodízio funciona porque todos são meias-atacantes, como bem disse Lopes. Se afinar, pode ser ainda melhor.
No tricolor, a teoria é mais simples que a prática. O meio-campo em losango depende fundamentalmente de duas situações: a inspiração de Ramon - livre, solto, bola sempre no pé -, e a afinação dos volantes com os laterais: Boquita e Marcos; Hélder e Dodô. Quando uma dupla sobe, a outra precisa reorganizar o sistema defensivo, ou teremos Marcone, Titi e Thiego sempre sobrecarregados.
Eduardo Rocha é editor de Esporte e escreve às sextas-feiras. Coluna
publicada na edição impressa do jornal Correio* do dia 1º de abril de
2011
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