Segunda-feira é dia de movimento no Leão do Bar. Mesmo que o Leão não vença, a resenha é garantida. Zé Ricardo, proprietário do boteco, viu que a noite ia ser agitada quando Pedrosa e Dr. Romeu chegaram juntos, antes das seis da tarde. Pedrosa era taxista e Dr. Romeu um cliente que só pegava táxi se o motorista fosse Vitória. “Tem nada pior que ficar trancado num carro com o taxista repetindo que o Bahia foi campeão brasileiro duas vezes no seu ouvido”.
O Leão do Bar tinha uma enorme bandeira rubro-negra enfeitando a parede e um escudo do Vitória em cima do balcão das bebidas. Mas Zé Ricardo não discriminava os tricolores que sempre apareciam para provocar quando o Leão perdia. Era uma garantia de casa cheia, um consolo quando o Vitória não ia bem. Mas ontem era dia de domínio rubro-negro no bar. Vaguinho chegou cheio de energia. “Bota uma aqui pra gente começar a comemorar o penta” - ele tinha 18 anos e nem lembrava direito do último título do rival.
“Rival para mim é o Colo Colo, que não deixou a Bahia aprender a palavra eneacampeão”, costuma dizer o universitário, com a confiança de quem cresceu vendo seu time levantar títulos estaduais. “Essa geração Barradão acha que tudo é fácil. Este ano, está todo mundo querendo que o Bahia seja campeão para ver se embala na Série A” - o advogado Romeu quase sempre tinha uma teoria conspiratória. “O Vitória fez seis pontos a mais que o Bahia e a mídia só fala eles. Ontem, o juiz inventou um pênalti para ver se eles conseguiam ganhar em Conquista”.
Pedrosa, com aquela paciência de quem tem que enfrentar o trânsito de Salvador, pediu calma. “Fica tranquilo, doutor. Com esse time, eles não ganham do Conquista nem de ninguém. Não vão chegar nem na semifinal. A gente tem mais é que se preocupar com o nosso porque esse delegado não para de mexer no time”.
Zé Ricardo abriu mais duas cervejas porque sabia que Antonio Lopes era polêmica certa no Leão do Bar. Ele mesmo achava o técnico com jeito ultrapassado, mas tinha mais cara do Vitória do que Mancini e Carpeggiani. “Lopes conhece. Trouxe Nikão e agora botou Elkeson no lugar certo. E tá valorizando a base” - Vaguinho defendeu. “O garoto está certo. O Leão tem que ter um treinador pra botar respeito. Treinador de série A pra gente voltar rápido” - o experiente advogado concordou com o estudante.
Pedrosa não desistiu: “Se fosse bom mesmo, o Vitória não tinha caído”. Mas resolveu mudar o rumo da polêmica. “Quemserá que ele vai tirar quando Neto voltar?”. Zé Ricardo já ia dizer que não precisava quando começaram todos a falar ao mesmo tempo: a resenha ia longe. E é para isso que servemos bares.
Oscar Valporto é editor executivo e escreve às terças-feiras. Coluna publicada na edição impressa do jornal Correio* do dia 22 de março de 2011
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