Eu sou jornalista, egoísta, perfeccionista e outros tantos "istas" que revelam, inclusive, o clube que me escolheu. E se é isso que me define, como profissional ou ser humano, prefiro não negar minha essência.
Chama-se autenticidade, a qualidade do verdadeiro eu. Na bola, costumou-se traduzir como personalidade a característica de assumir verdades publicamente, sem política ou demagogia. Simplesmente se posicionar de forma crítica e coerente.
Eles são minoria num futebol cada vez mais padronizado, centralizado, orientado, mas aparecem aqui e ali pra ganhar o respeito do torcedor. É o caso de Viáfara. Defensor da irreverente escola colombiana, o goleiro apenas diz.
Fala sem muita preocupação com a repercussão, talvez porque diz apenas o que realmente pensa. E onde erra na análise do Bahia feita em entrevista ao Correio* de ontem? A Viáfara, pouco importam as duas estrelas que representam a grandeza do passado tricolor. Interessam-lhe o presente e o futuro, os dois tempos que ele mesmo pode conjugar.
E diante de um rival camaleônico, que muda de time a cada seis meses e dá pouco valor à base, tem alguma razão em dizer que não vê no Fazendão "quem torça, sue ou respeite a camisa deles". Faço apenas uma ressalva. Ávine é desde o ano passado um símbolo claro do azul, vermelho e branco.
Independente do juízo de valor, as palavras e atitudes de Viáfara lembram que o futebol é feito de bola, polêmica e rivalidade. Que o grande clássico começa bem antes dos 90 minutos - nos treinos, na concentração ou numa frase bem colocada.
Na sua curta passagem pelo Bahia, em 2010, Edilson trouxe na bagagem anos de irreverência. Entre uma picuinha e outra com Renato Gaúcho, subiu a rampa numa dessas manhãs de pouco treino e muita conversa, e parou para assistir à entrevista coletiva de uns dos garotos.
Encostou do meu lado como quem não quer nada e disse baixinho: "Sempre as mesmas respostas. Como um menino desses vai aparecer se só fala as mesmas coisas?".
- Disso você entende, né Edilson?
"Porra, o cara não pode ter medo de falar. Tem que chegar na câmera e dizer o que pensa, cutucar o adversário, chamar o jogo pra ele...".
Virou entrevista:
- Bons tempos de Edmundo, Vampeta, Romário... Os caras falavam mesmo...
"Por isso eles tinham espaço na mídia".
- É, mas os caras eram craques, né parceiro?
"Sim, mas quanto jogador que se vende bem você vê por aí..."
Lembrei de Viola e de uma das nossas conversas. Cheguei nele e num acesso de sinceridade disse: "Te entrevistar é bom porque sempre rende boas aspas'.
- Parceiro, comigo não tem conversa ruim nem placar em branco.
Rendeu. Que saudade dos tempos em que os boleiros eram mais eles! O clássico já começou com gol de Viáfara.
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