Era abril de 1972. Douglas estava no saguão do aeroporto de Congonhas. Tinha acertado tudo para jogar no América-RJ. Passagem até garantida para o Rio. Desistiu na véspera. Chegou ao aeroporto já na companhia do presidente do Bahia, Manoel Inácio Paula Filho, e de Manu, funcionário do clube, que foram buscá-lo em São Paulo.
O avião Samurai, que fazia a ponte aérea, pediu para pousar no Rio ao sobrevoar o Santos Dumont naquela noite de 13 de abril. Depois, sumiu. Caiu na Serra Maria Comprida, em Petrópolis: morrem passageiros e tripulantes.
Douglas da Silva Franklim nasceu dia 9/9/1949, em Santos. Renasceu ao escolher o Bahia como novo clube. Tinha uma trajetória de vida ligada à Vila Belmiro. Criança, ia ao estádio ver os jogos e era como um mascote entrando em campo. Atuou em todas as equipes amadoras do Santos até virar profissional, em 1968.
Pegou o final da geração mais brilhante entre todos os clubes brasileiros. Certa vez, ouviu de Pelé durante treino. “Franguinha, pena que você não começou antes”. O garoto de 58kg sentiu-se como o maior do mundo. Foi por isto que decidiu ir embora em 1972. Queria ser ídolo, mas, no Santos, quase sempre era banco de Pelé, o maior do mundo.
No desembarque em Salvador, foi levado para a Fazendinha, no Costa Azul. “Teve charanga e o carro furou o pneu”, recorda Douglas. O motorista Everaldo contou das superstições baianas e levou o ponta de lança para a Igreja do Bonfim. Conheceu o massagista Alemão e o radialista Osvaldo Júnior, o Cebola. “Eu era cabeludo. Vi pessoas usando uma faixa e disse: ‘Minha marca seria esta aí’”, conta Douglas.
Além do cabelo comprido, usava camisa para fora do calção e costumava deixar o meião baixo. Parecia um cara descuidado, mas no campo tinha pose de majestade . Enlouquecia a torcida com jogadas maravilhosas, especialmente quando a Fonte Nova estava cheia. O torcedor guardava cada gol de Douglas, guardava os que os companheiros não faziam, e que aos pés de Douglas teriam sim sido feitos - fez 58 em 65 partidas em 1978.
Douglas enlouquecia também a diretoria, pois reclamava de bichos, acusava a cartolagem de desmandos e liderava o grupo nas reivindicações. Formou um meio-campo fantástico com Baiaco e Fito quando o Bahia não abria mão dos pontas. Produziu jogadas magistrais no ataque com Picolé e Beijoca. Só ele, Baiaco, Fito e Sapatão estiveram em todos os anos do hepta baiano, de 1973 a 79.
É autor do primeiro gol no estádio Rei Pelé, ainda pelo Santos; e do primeiro gol de Pituaçu, já no Bahia. Saiu em 1980 e passou por Portuguesa e Vitória antes de ficar quatro anos no Leônico. Jogou em Barretos de 86 a 88. Parou lá, onde mora. Vive na memória e história do tricolor.
*Matéria publicada na edição impressa do jornal Correio do dia 2 de fevereiro de 2011
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