A diferença entre uma infância rica ou pobre pode alterar a carga genética do indivíduo para o resto da vida, segundo um estudo publicado em outubro pela revista científica “International Journal of Epidemiology”. A pobreza aguda na infância deixa marcas na saúde para o resto da vida, mesmo se houver melhora nas condições socioeconômicas ao longo dos anos. Para tentar entender a causa disso, pesquisadores da Universidade Mc Gill, em Montreal, da Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver (ambas no Canadá) e da University College de Londres (Reino Unido) recorreram à genética. Eles colheram o sangue de 40 pessoas de 45 anos de idade que foram ou muito ricas ou muito pobres quando crianças. Com o material em mãos, os cientistas procuraram um processo chamado metilação de DNA, um tipo de alteração epigenética – quando o ambiente influi sobre os genes – que pode influenciar a saúde. “Se pensarmos no genoma como frases, o DNA, ou as letras, são o que é herdado do pai e da mãe. A metilação de DNA é como a pontuação que determina como as letras devem ser combinadas em frases e parágrafos, que são lidos de formas diferentes nos diferentes órgãos do corpo”, explica Moshe Szyf, autor da pesquisa. “O que nós descobrimos é que essa pontuação fica atenta aos sinais que vêm do ambiente e que ela é ativada pelas condições de vida na infância. Acreditamos que, essencialmente, ela age como um mecanismo para adaptar o DNA a um mundo que muda muito rápido”, prossegue Szyf. “É a primeira vez que conseguimos fazer a ligação entre a economia no início da vida e a bioquímica do DNA”, diz o professor da Universidade McGill. Aos todo, 1252 alterações genéticas foram associadas às condições socioeconômicas na infância, contra 545 na fase adulta. Os dados fornecidos pelo estudo ainda não suficientes para determinar se as mudanças provocadas pelas condições socioeconômicas fazem bem ou mal. Os pesquisadores também se as alterações que acontecem durante a vida serão herdadas pelos filhos dessas pessoas.
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