O aumento no número de casos da dengue na Bahia e nas mortes pela doença no estado tem enfatizado a importância da vacina para o combate a doença. Em toda a Bahia, a cobertura vacinal segue abaixo do esperado, o que dificulta a prevenção contra a doença.
Até quarta-feira (07), crianças com idade entre 10 e 11 anos poderiam tomar a dose do imunizante. Entretanto, apenas 38.220 doses de vacina foram aplicadas na Bahia, ou seja, 22% do público-alvo. Este cenário se repete em Salvador, onde 16.108 doses foram aplicadas de um grupo que corresponde a 87 mil crianças. As informações são da Secretaria Municipal de Saúde (SMS).
Leia mais:
Segundo a Secretaria de Saúde do estado (Sesab), as cidades de Salvador, Feira de Santana e Camaçari começaram a estratégia de vacinação logo após o Carnaval e a velocidade da adesão ainda é baixa, levando em consideração esse período.
Especialista explica funcionamento da vacina
A vacina contra a dengue, a Qdenga, foi desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda Pharma. Oregistro do imunizantefoi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em março de 2023.
O Brasil começou a aplicar o imunizante em janeiro deste ano, mas ainda há algumas dúvidas sobre como a vacina funciona. Segundo o médico infectologista Robson Reis, professor na Escola Baiana de Medicina, a Qdenga possui vírus vivos atenuados da dengue e atua no sistema imunológico do paciente.
"No geral, as vacinas vão estimular o sistema imunológico a criar uma defesa contra o agente proposto, no caso, o vírus da dengue. [A Qdenga] é uma vacina de vírus vivo atenuado, ou seja, um vírus enfraquecido em laboratório, que quando entra em contato com o organismo ele possa [ajudar] a produzir anticorpos. Assim, quando o paciente for exposto [ao vírus] o corpo irá identificar aquele agente infeccioso e combater mais rápido o vírus", explica Dr. Robson Reis, em entrevista ao iBahia.
Devido ao mecanismo básico das vacinas, que é estimular o sistema imunológico, a Qdenga também pode apresentar efeitos colaterais leves.
"As reações adversas se dividem em locais, como dor e vermelhidão no local da aplicação, ou sistêmicas e o paciente pode vir a apresentar febre, dor de cabeça, fraqueza ou mal-estar. Essas reações adversas costumam ser leves e os benefícios da vacinação são muito maiores", afirma o médico, que também ressalta que as reações adversas graves são raras.
"Para que essas vacinas entrem no mercado e serem administradas em massa [é] preciso que os estudos [mostrem] que elas são eficazes e seguras", pontua o médico.
Assim como outras vacinas de vírus vivo atenuado, a Qdenga não é indicada para gestantes, lactantes ou imunossuprimidos. Por outro lado, outros grupos não possuem nenhuma restrição para receber a vacina que, no Brasil, já está sendo aplicada em crianças com idade entre 10 e 14 anos.
Importância da cobertura vacinal
Com uma eficácia global de 85% contra os casos graves da doença, a Qdenga é a primeira vacina contra a dengue que pode ser administrada em pessoas com idade de 4 a 60 anos, independentemente do contato com o vírus.
Importante ferramenta para prevenção contra o vírus, a vacina está sendo aplicada em crianças no Brasil por uma questão estratégica, já que essa faixa etária é mais atingida pela doença no país.
"É importante aumentar as taxas de cobertura porque a doença tem uma magnitude grande, é só observar: estamos no mês de março, provavelmente teremos um aumento no número dos casos de dengue, mas já estamos aqui com mais de um milhão de casos suspeitos. É uma doença que pode evoluir para formas graves e, óbvio, que tendo uma vacina para essa doença vale a pena, sim, vacinar", pontua Dr. Robson.
O aspecto coletivo da vacinação também foi ressaltado pelo especialista, que lembrou o benefício social do ato.
"Quando você vacina uma pessoa, não se está protegendo apenas a pessoa, mas também quem vive com ela e, de certa forma, a comunidade como um todo. Se aquelas pessoas estiverem vacinadas, dificilmente aquele agente infeccioso irá circular naquele local", afirma o médico, que ressalta também a importância da prevenção contra a proliferação das larvas do mosquito.
Faixa etária da vacinação é ampliada na Bahia
O Ministério da Saúde ampliou, na quarta-feira (6), a faixa etária para vacinação contra a dengue. Agora, podem receber o imunizante pessoas de 10 a 14 anos. Na Bahia, onde nove pessoas já morreram em decorrência da doença, a determinação já passa a valer nesta quinta (7).
A recomendação foi apresentada em Nota Técnica publicada pelo Ministério. Antes, a estratégia era destinada a pessoas de 10 a 11 anos de idade. A ampliação, tem como objetivo alavancar a proteção entre o público-alvo.
De acordo com o Ministério, os municípios contemplados continuam sendo aqueles previamente definidos antes da recomendação de ampliação da faixa etária. Salvador está entre eles.
As vacinas são destinadas a regiões de saúde com municípios de grande porte com alta transmissão nos últimos dez anos e população residente igual ou maior a 100 mil habitantes, levando também em conta altas taxas nos últimos meses.
