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‘Através da minha dor, eu consegui alcançar outras mulheres’, diz afroempreendedora que criou marca de moda praia para corpos gordos a partir de superação e autoaceitação

Cynthia Paixão começou trajetória ao produzir biquíni confortável para ir à praia com os filhos, e, ao longo dos anos, fez o sonho de empreender com sucesso acontecer

Alan Oliveira • 01/10/2022 às 8:00 • Atualizada em 05/10/2022 às 20:43 - há XX semanas

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					‘Através da minha dor, eu consegui alcançar outras mulheres’, diz afroempreendedora que criou marca de moda praia para corpos gordos a partir de superação e autoaceitação
Foto: Arquivo Pessoal

				
					‘Através da minha dor, eu consegui alcançar outras mulheres’, diz afroempreendedora que criou marca de moda praia para corpos gordos a partir de superação e autoaceitação

Se tornar empreendedora era um sonho que Cynthia Paixão carregava desde a infância. Nascida e criada no bairro da Federação, em Salvador, ela e o irmão caçula viram na mãe, que trabalhava como empregada doméstica para sustentar a casa, o exemplo de determinação, e faziam o possível para ajudá-la. Foi assim que a baiana, que hoje tem 38 anos, teve o primeiro contato com os negócios e a administração de dinheiro.

"Essa vida de empreender eu conheci aos 12 anos de idade. Minha mãe ficou mãe solo, eu tinha 9 anos, meu irmão 7, e eu vendia boleto premiado para ajudar minha mãe nas despesas de casa. E foi quando eu tive o meu primeiro contato com dinheiro, e como é bom ter dinheiro, e como é bom a gente desde cedo aprender a lidar com dinheiro, porque não é fácil gastar dinheiro quando se é uma pessoa que vive em vulnerabilidade".

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Da experiência na adolescência até o sucesso na fase adulta, alguns anos se passaram e Cynthia trabalhou em diversas áreas. Somente em 2011 que a baiana abriu sua primeira loja. Na época, o foco do trabalho ainda não era desenvolver moda praia para corpos gordos. A ideia surgiu a partir de problemas com a autoestima enfrentados após sua primeira gestação, quando teve gêmeos.


				
					‘Através da minha dor, eu consegui alcançar outras mulheres’, diz afroempreendedora que criou marca de moda praia para corpos gordos a partir de superação e autoaceitação
Foto: Arquivo Pessoal

Em entrevista ao Preta Bahia desta semana, Cynthia contou que tudo começou quando decidiu desenhar um biquíni confortável para ir à praia com os filhos. A iniciativa foi necessária porque ela não encontrava uma peça que a deixasse bem com o corpo nas lojas convencionais, e, então, fez o traje de banho de acordo com suas necessidades. A ideia deu certo, e, além de se sentir satisfeita, a baiana atraiu outros olhares para a peça. Depois disso, ela não parou mais.

"Na praia era onde eu conseguia me fortalecer, era onde eu chorava, era onde eu sentia aquele vento, aquele cheiro da benção, e me fortalecia através disso. Só que depois da minha gestação, eu não conseguia ir à praia mais, porque não tinha biquínis para o meu corpo. Eu não achava um biquini que cobrisse um pouco minha barriga, que fosse larguinho na lateral, que me deixasse confortável com os meus filhos".

Dado o primeiro passo, a baiana passou também a trabalhar em si a autoaceitação, e o ápice disso aconteceu em 2014, quando foi eleita Deusa do Ébano do Ilê Aiyê - primeiro bloco afro do Brasil. Cynthia lembra que foi a primeira mulher gorda a receber o título e ficou realizada no ano em que poderia concorrer pela última vez. Na época, a baiana faria 30 anos, que é a idade limite para participar da disputa.


				
					‘Através da minha dor, eu consegui alcançar outras mulheres’, diz afroempreendedora que criou marca de moda praia para corpos gordos a partir de superação e autoaceitação
Foto: Arquivo Pessoal

"Eu fui a primeira Deusa do Ébano gorda. Então, eu trouxe, além dessa questão da persistência, porque eu concorri ao título de Deusa do Ébano durante 6 anos e no sexto ano que eu ganhei; eu trouxe essa questão da diversidade de corpos para dentro da entidade; e uma reflexão para essas mulheres, que elas podem chegar onde elas quiserem estar, independente do seu biotipo, independente do seu corpo, e que as possibilidades da moda a gente também cria", contou.

Ao longo dos anos, em meio às conquistas de Cynthia, a marca mudou de nome algumas vezes até chegar a AXÒEBAN, que para a afroempreendedora representa moda e ancestralidade. Ao todo, são mais de 10 anos de trabalho, com a consciência de que a loja vai além de oferecer moda praia. Para Cynthia, vender sua marca é ajudar mulheres com as mesmas dificuldades que ela teve no passado.

"Através da minha dor, eu consegui alcançar outras mulheres com as mesmas necessidades. E, para além disso, mulheres que estavam passando pelo processo de depressão, porque tinham saído de um relacionamento, a perca de um emprego, de um ente querido da família. Eu me senti na obrigação de atender essas mulheres. Eu me senti na obrigação de, com duas peças, realizar sonhos".


				
					‘Através da minha dor, eu consegui alcançar outras mulheres’, diz afroempreendedora que criou marca de moda praia para corpos gordos a partir de superação e autoaceitação
Foto: Arquivo Pessoal

A baiana explica ainda que as peças são pensadas para atender a cada cliente, podendo ser feitas exclusivamente de acordo com os desejos e necessidades de cada uma delas.

"Eu não tenho uma loja com estoque aqui para a cliente chegar e levar somente o que ela quer. Eu trabalho com peças sob medida, aos olhos dessas clientes. Como é que ela quer se vestir? O que é que fica melhor no corpo dela? O que ela gostaria de esconder e o que ela quer favorecer no corpo dela? Qual é a parte do corpo que ela se sente mais atraente, mais bonita, que eleva autoestima dela?".

Atualmente, Cynthia atende em uma loja localizada no Shopping Vasco da Gama, na capital baiana. Mas a atuação nas redes sociais fez o seu trabalho ir longe. Além de vender muito durante o período mais crítico da pandemia, quando algumas pessoas migraram para o litoral para ficar em distanciamento com suas famílias, a baiana conta, que, recentemente, teve peças importadas para Itália e Luxemburgo.


				
					‘Através da minha dor, eu consegui alcançar outras mulheres’, diz afroempreendedora que criou marca de moda praia para corpos gordos a partir de superação e autoaceitação
Foto: Arquivo Pessoal

"Isso é para mim a potência como mulher preta, periférica, mãe solo, como mulher que hoje trabalha para aliviar a dor de outras mulheres através da moda. Então, isso para mim é um case de sucesso. Não que eu esteja lá ainda, mas é um case de sucesso. É uma semente. A minha semente está por aí".

Em seu trabalho, Cynthia ressalta a importância do bem-estar das clientes e da autoaceitação. "A autoaceitação não é de um dia para o outro. É um choque de realidade muito grande. E isso aconteceu comigo, porque o meu corpo mudou muito rápido, mas a minha mente não. Nem todo dia a gente vai acordar linda, vai acordar disposta, e isso é normal, está tudo bem. Tem tantas coisas que nos envolve, mas a questão da sua autoestima tem que ser alimentada todos os dias. Não tem peça que vai deixar a gente feliz, se nosso interior não tiver".

"O que eu digo para essas mulheres é que se amem, se toquem, se olhem, se avaliem, e não esperem que as pessoas aprovem o que a gente deve ser, o que a gente deve vestir, como a gente deve se vestir, se você se sentir bem como você é. E se você não se sente bem, procure se sentir bem, procure fazer terapia, procure conversar, procure desabafar, porque essa cura da autoaceitação não vai ser eu dizendo, mas se a gente se permite ouvir o outro, ouvir outras experiências de vida, ouvir outros processos, a gente consegue alimentar algo que está vazio na gente", ressalta a baiana.


				
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Foto: Arquivo Pessoal

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