No Candomblé, Oxóssi, orixá da caça e da fartura, tem a paciência como virtude principal da personalidade. Na história da religião africana, ele se apaixona por Oxum, orixá das águas doces e que, contrária ao amado, possui um temperamento forte, como as águas de uma cachoeira. A história dos orixás se confunde com a dos empresários baianos, Iele Portugal e Pablo Santos. Adeptos ao candomblé, ela é filha de Oxum e ele, de Oxóssi. O casal empreendedor se cruzou em 2010 e desde então foi paixão à primeira vista.
Assim como os orixás, apesar das diferenças entre os domínios naturais, Oxóssi e Oxum decidiram unir os destinos em um amor profundo e verdadeiro, mesmo sabendo dos riscos e desafios que enfrentariam a partir da decisão. Os dois viveram uma grande história de amor que é venerada pelos praticantes das religiões de matrizes africanas até os tempos atuais. Da união entre as matas e os rios, nasceu Logun Edé, orixá que personifica a riqueza e a fartura, e isso também se reflete no filho dos empresários.
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Casados desde 2015, os soteropolitanos viram oportunidade de crescimento econômico através de uma marca que Pablo já havia exposto ao mundo: a Blackpim. Quando ainda era voltada para o universo dos skatistas, Iele se uniu ao companheiro para repaginar o projeto e juntos eles apresentaram saberes e vivências da rotina do candomblé e ativismo do movimento preto através da moda, não apenas com peças de roupas, mas, com outros itens especiais como mochilas e bags.
A dupla acredita que é possível expandir a mensagem e belezas do candomblé e ganhar dinheiro ao mesmo tempo, com o projeto autoral.
"A vivência do Candomblé me fez perceber que eu poderia não só comercializar, mas mostrar para o mundo a beleza que ele tem", disse Pablo em entrevista ao Preta Bahia da semana.
A Blackpim é composta pelo casal e a mãe de Iele, que é responsável pela costura das peças ao lado da filha. Pablo encabeça a criação e designers dos desenhos e frases que vão ganhar destaque nas estampas. Iele também comanda o setor de comunicação da empresa, além de cuidar das redes sociais.
"A gente tem um propósito e ele não é estar na moda e sim passar uma mensagem. Somos uma empresa antirracista, combatemos a intolerância religiosa através das nossas imagens. A gente exalta a cultura 'afrobaiana'", destaca a empreendedora que também exerce a profissão de jornalista.
Incentivos, desafios e conquistas
A Blackpim é uma da 1,12 milhão de empresas ativas - segundo dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Governo do Estado -, que mesmo em meio a caminhos difíceis buscam sobreviver e ter um espaço demarcado em meio a tantas outras.
Segundo os empreendedores, a marca baiana resiste ao tempo graças ao público - que abraça as ideias e confecções da marca, mas também a perseverança da dupla em fazer o produto acontecer.
"É difícil [a trajetória], mas não impossível. É perseverar mesmo. Nossos ancestrais abriram os caminhos. Estamos colhendo o que eles plantaram. Antigamente a gente vendia o almoço para comprar a janta. Era vendendo uma camisa para confeccionar a outra e vender, hoje a gente já tem um nome no mercado, temos um espaço, as pessoas conhecem a qualidade", reflete Iele.
O casal, por sua vez, destaca a falta de iniciativa pública e privada para que empreendedores como eles cresçam com os respectivos produtos. Eles também afirmam que é necessário o apoio da comunidade preta.
"Existe sim apoio tanto de iniciativas públicas ou privadas, mas falta apoio da nossa comunidade. A comunidade não abraça tanto, tem uma galera que sim, que parece até que são viciadas no trabalho, mas tem outra que prefere dar dinheiro a outra marca", diz Pablo.
A gente ainda vai chegar no patamar de vender etiqueta junto com a nossa mensagem e qualidade. As modas hoje estão muito ligadas a tendências e a Black não embarca dessa forma, a gente não embarca neste navio Iele Portugal
Outra principal motivação para o casal seguir na jornada empreendedora é o pequeno Benjamin, de quatro anos. Foi depois que o menino nasceu que eles passaram a dar atenção a confecções infantis. O garoto também foi responsável por criar todo o universo infantil da marca, os pais apenas reproduziram as ideias dele.
"Nosso filho que é nossa inspiração. É ele que faz a gente levantar para trabalhar e não desistir. Todas as ideias infantis que a marca tem é fruto das ideias dele. Ele que criou o 'Super Rápido', a baleia Carolina e outros", revela ela.
Como projeções futuras, o casal almeja viver da própria marca sem precisar se desdobrar em outras profissões. Eles também querem lançar, logo em breve, a primeira estampa autoral do produto.
"Eu queria que a BlackPim tivesse subsídio para viver totalmente dela. Eu queria dizer que hoje eu sou empresária, que hoje eu tenho uma marca e vivo dessa marca, independente da proporção que isso ganhe, se é nacional, internacional, mas que eu conseguisse viver da marca sem precisar me desdobrar em tantas coisas", frisa Iele.
Blackpim veio se reinventando e estamos atualmente nos reinventando para alcançar um novo espaço. A Bahia é muito boa, mas alcançar o país deve ser massa. A gente precisa ganhar o mundo" Pablo Santos
Lucas Sales
Lucas Sales
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