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PRETA BAHIA

‘Gosto de usar toda a minha existência como forma de arte’, diz o poeta e comunicador Lucas de Matos

Aos 26 anos, o poeta baiano já leva seus versos até o continente africano

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Allana Gama

09/07/2022 às 8:20 • Atualizada em 27/08/2022 às 12:19 - há XX semanas
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					‘Gosto de usar toda a minha existência como forma de arte’, diz o poeta e comunicador Lucas de Matos

A Bahia sempre foi berço de inúmeros poetas, e ainda hoje é a terra mãe de grandes artistas da literatura. É o caso deLucas de Matos, soteropolitano de 26 anos, que foi convidado a participar do maior festival de poesia de Moçambique, o Festival Poetas D'alma. 

Lucas cresceu no bairro de Tancredo Neves e desde criança recebeu incentivo para leitura. Alfabetizado em casa pela irmã Flávia, antes mesmo de entrar na escola, Lucas sempre se mostrou uma criança com forte veia criativa. Já no colégio ele relembra em especial da Professora Sandra:

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''Quando eu escrevia ela me dizia: 'Você é meu escritor predileto'. Então pra uma criança, que não sabia nem o que era publicar ainda, aquilo foi o melhor incentivo’’, conta Lucas ao iBahia

Além do incentivo educacional, graças a família, Lucas cresceu rodeado de arte, axé e MPB. Afinal, só coisa boa poderia sair dessa mistura. O poeta conta que atualmente a família é uma grande fonte de motivação: 

''São eles que vão aos meus saraus, divulgam meu trabalho, minhas lives... Sem esse time eu não conseguiria maximizar aquilo que eu faço'', afirmou o poeta. 

A educação e a família deram a base que Lucas precisava para sua formação. Mas foi a Universidade do Estado da Bahia, que deu a ele um palco para recitar poemas. Foi no Sarau Arte Livre, feito por estudantes da Universidade onde cursou Relações Públicas, que ele foi encorajado e inspirado a exercitar o dom em contar seus poemas.

''A UNEB foi uma grande revolução na minha vida, principalmente no entendimento do meu papel social. Lá eu pude aprender as ferramentas para pautar o que eu realmente quero para mim e para a sociedade que eu vivo.'', afirma o poeta e comunicador.

Estado de Poesia

Depois que perdeu o medo dos palcos, Lucas nunca mais saiu deles. O poeta vem alçando longos voos com as palavras, chegando a ter poemas autorais sendo recitados em Angola. 

''Minha poesia está chegando em África, então pra mim é a coisa mais rica e mais importante isso acontecer. É algo que eu faço por amor e por saber que leva uma mensagem que pode inspirar outras pessoas também'', conta.

Ao tentar explicar o significado de ocupar o palco, ele afirma entrar em um estado único de presença, tão profundo que depois do ato ele mal se lembra dos movimentos que fez. E faltam explicações para descrever o que Chico César chama de 'estado de poesia'.


				
					‘Gosto de usar toda a minha existência como forma de arte’, diz o poeta e comunicador Lucas de Matos

''É curioso me ver recitando porque tem uma outra dinâmica ali. E para as pessoas isso também vai de uma forma muito específica. Tem gente que chora, que se arrepia. Para cada pessoa chega de maneira única. Isso é muito simbólico pra mim'', afirmou Lucas de Matos.

O poeta e comunicador afirma se inspirar em Oprah Winfrey, pois compartilham do mesmo objetivo de crescimento coletivo e compara este crescimento com o que era vivido nos quilombos: ''Todo mundo se unia para o bem de todo mundo'', explica. 

Lucas entende que o ato de ser poeta como algo que vem de dentro e precisa ser expresso, ele afirma que para ele é uma necessidade: ''A minha forma de me expressar vem de uma urgência íntima de ter que dizer algo e de dar vazão ao que se sente'', afirmou.

Masculinidades e Racismo

Lucas também reflete sobre as questões que envolvem masculinidade e negritude, ele relembra bell hooks e acredita que homens negros sofram principalmente por serem colocados em estereóticos impostos pelo racismo da branquitude,  que isso os sufoca emocionalmente e os desumaniza ao invisibilizar os sentimentos e particuliaridades.   

''A gente vive nessa coisa nefasta que é a anti expressão do sentimento. E nós somos seres ávidos por manifestar tudo aquilo que se passa na nossa vida”, afirmou.

Lucas conta que desde criança sempre buscou romper com todos os estereótipos machistas que foram impostos a ele.

''Isso não me interessa até hoje. Eu uso meu corpo como uma grande forma de dissidência. Gosto de usar toda a minha existência como forma de arte. Essa masculinidade nunca me interessou. Eu busco uma masculinidade reinventada possível, na qual o homem não precise performar aquilo que é ditado pela norma patriarcal branca que na verdade só nos desumaniza, nos animaliza e nos quer neste lugar até hoje. E eu me recuso a estar'', refletiu Lucas.

Ao escolher suas principais referências, Lucas possui inspirações femininas, com destaque para a poesia de Hilda Hilst e a forma de recitar de Elisa Lucinda. O filho de Dona Rose e Sr. José Jorge é feliz e tem orgulho da trajetória até aqui, de ter sido e ser até hoje ''irremediavelmente'' ele. E, ao olhar para o futuro, o artista espera seguir sendo um canal de arte e cultura:

''Eu espero continuar tendo essa diversidade, essa autenticidade e que eu consiga alcançar voos mais altos para levar todos que eu puder comigo. Seguindo sempre falando do pensamento decolonial, das coisas que tocam nas feridas dos outros. Porque viver sem isso é viver pela metade e eu quero viver inteiramente''.

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