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Democrata fala do bom momento financeiro da prefeitura, que chega em 2014 com R$ 400 milhões em caixa |
ACM Neto está cercado. Em sua mesa de trabalho tem Santa Terezinha. Na bancada ao lado, Senhor do Bonfim, Nossa Senhora Aparecida, Nossa Senhora de Fátima, Irmã Dulce, a Bíblia e um terço. Tem ainda foto dele com o avô, Antonio Carlos Magalhães, do tio, Luis Eduardo Magalhães, e das duas filhas, Lívia e Marcela. À janela, a Baía de Todos os Santos. Portanto, energia é o que não falta no gabinete do prefeito no Palácio Thomé de Souza, onde recebeu Jairo Costa Júnior, Jorge Gauthier e Juan Torres, editores do CORREIO, para um balanço do primeiro ano de governo. Antes de iniciar a conversa, mandou acender a luz. “Temos bastante iluminação natural, então normalmente só acendemos depois das 16h, pra economizar”, comentou. Como chovia a manhã inteira, abriu uma exceção. A chuva, aliás – avalia ele–, é o único aspecto que “atrapalhou” o seu primeiro ano de mandato. No mais, em 45 minutos de conversa regada a água com gás, gelo e limão, fez uma avaliação do começo da administração, marcada principalmente pelos ajustes fiscal e administrativo e pela apresentação de projetos importantes, principalmente na área de mobilidade e infraestrutura urbana. Em suas palavras, 2013 foi tempo de “arrumar a casa”. Daqui pra frente, prefere não estabelecer prioridades. “Impossível apontar uma só”, diz. E para as eleições, tem planos? “Nas horas vagas, vou fazer campanha”. Para quem? “Geddel e Paulo Souto estão um passo à frente”, afirma. ACM Neto está cercado. De energia e de planos.
Após quase um ano de seu primeiro mandato o que elegeria com principal acerto? O maior acerto foi ter entendido que o primeiro passo era arrumar a prefeitura. O elemento decisivo foi o equilíbrio das contas e o ajuste fiscal. Foi o esforço para reduzir despesas, rever contratos, eliminar desperdícios e dar eficiência arrecadatória a Salvador. Em muitos anos, Salvador não conseguia o que vai conseguir esse ano, que é fechar as contas no azul. Felizmente, pagamos todos os compromissos em dia. Salvador hoje é uma cidade ficha-limpa.
Quanto de dinheiro havia e com quanto a prefeitura vai fechar as contas deste ano? Eu não tinha nada, um centavo em caixa. Pelo contrário! Recebi uma divida de R$ 3,5 bilhões e um rombo no orçamento de R$ 500 milhões. Recebi a prefeitura sem pagar fornecedores há muito tempo. Felizmente, nós vamos encerrar o ano com R$ 400 milhões para assegurar os investimentos e sem dever nada a ninguém do exercício de 2013, tendo negociado e começado a pagar as dívidas herdadas.
E onde acha que falhou como gestor? Nem diria que foi uma falha nossa, mas a prefeitura foi tão vitima quanto a cidade da intensa chuva que aconteceu em 2013. Essa foi a maior dor de cabeça. A cidade não estava preparada pela falta de investimento dos últimos anos.
E para 2014, qual a meta? A coisa vai mudar de figura. A gente estima que vai sair de uma arrecadação em 2013 de R$ 4,1 ou R$ 4,2 bilhões para R$ 6,4 bilhões em 2014, com o compromisso de segurar de toda forma o aumento do peso da máquina.
Mas o projeto de prefeituras- bairro, que era uma promessa de campanha, ainda não é realidade. Por que? Houve uma mudança na concepção do que será a prefeitura-bairro e eu assumi o risco de atrasar o projeto. Na minha cabeça, se é para fazer, é para fazer bem feito. Percebemos que era necessário dotar as prefeituras-bairro de uma estrutura que a prefeitura não poderia oferecer. Preferi atrasar o projeto em pelo menos seis meses. A primeira vai funcionar dia 31 de janeiro no Centro; a segunda, no final de março em Itapuã. Em abril, teremos as de Cajazeiras, Subúrbio e Cidade Baixa. No segundo semestre de 2014, teremos mais cinco totalizando as 10 regiões administrativas.
Como será a estrutura dessas prefeituras-bairro? Cada uma vai ter o seu coordenador. As cinco primeiras já têm seu coordenador, que inclusive já estão trabalhando. Cada uma vai ter a representação de cada órgão do município. O orçamento de 2015 será desenhado pela atuação também dessas prefeituras-bairros com as demandas das comunidades.
E os servidores, o que podem esperar? No dia 27 de dezembro, vou anunciar - e não posso antecipar detalhes - um conjunto de benefícios para os professores e servidores da Educação que há muitos anos não se faz nesta cidade, lhe garanto. Vai ser um fim de ano de muita alegria para eles.
Vem abono gordo aí? Vamos ver (risos). Eles vão gostar muito, vão ficar felizes. Papai Noel da Educação chega no dia 27. Ano que vem os servidores vão ter seu plano de saúde, já aprovado pela Câmara esta semana, e o plano de cargos e salários.
Há mudança no secretariado prevista? A partir do fim de março, fruto do calendário eleitoral, haverá a saída provável de três secretários que deverão ser candidatos. Nesse momento vamos avaliar o desempenho dos demais. Não está descartada mudança, como também não está prevista nenhuma. Estou muito satisfeito com todos os meus secretários e colaboradores.
Falando de política, não está dando muita ciumeira essa sua aproximação com o governador Jaques Wagner? As pessoas ficaram surpresas porque imaginavam que a gente fosse ter uma relação de atrito, de conflito e de problemas, o que não aconteceu graças à minha postura e à postura dele. Estamos dando exemplo de democracia, de como é possível pessoas que têm histórias diferentes, que pertencem a partidos diferentes, que têm às vezes visão de governo diferentes, colocarem os interesses da população acima de suas diferenças. Depois, nós somos pessoas de fácil trato e temos sido muito sinceros nas conversas. Não tem conversinha pela metade, não tem enrolação. Eu sei quais são os limites do governador e ele sabe quais são os meus. O desafio que tenho na cidade me impede de permitir que questões políticas atrapalhem nosso governo.
Numa eventual candidatura forte da oposição para 2014, essa relação não poderia ser estremecida ou está bem estabelecida? Ela está bem estabelecida. Vamos saber separar o que é o governo, a gestão, o prefeito, do que é o candidato que vai disputar lá na frente as eleições de 2014. Eu, como prefeito, vou governar a cidade. Eu, como cidadão, líder do Democratas, vou ter uma posição eleitoral. Nas horas vagas, vou fazer campanha. É meu estilo. Não vou ficar em cima do muro, não sou de enrolação. Eu tenho lado e terei lado.
De alguma forma, há pressão sobre essa sua postura política? Nunca ninguém chegou para me dizer que deixasse de falar com essa ou aquela pessoa, que deixasse de fazer um discurso ou dar uma entrevista elogiando quem quer que fosse. Se esse ciúme existe, nunca chegou a mim. Espero que não exista, porque se existir, deve estar incomodando muito.
Já houve avanços em relação à escolha do candidato da oposição? Nunca ninguém viu o Democratas lançar candidato um ano antes da eleição. Sempre apresentamos nossos candidatos em março. Antecipar não significa ganhar. O maior exemplo disso sou eu. Meu adversário foi lançado em 2011. Minha pré-candidatura só foi anunciada em abril de 2012. Fui ter o primeiro apoio partidário no fim de maio.
Mas só oficialmente, prefeito, à época o senhor já era considerado candidato com apoio do PSDB, havia pendência apenas com o PMDB. Discordo, está errado. Passei aquele tempo inteiro tentando me viabilizar. Não havia viabilidade até ali, de jeito algum. Pressa não vai resolver. Vamos aproveitar os meses de janeiro e fevereiro para debater internamente, aprofundar as discussões. Passado o Carnaval, defendo que se escolha em março o nome.
Qual o critério que terá maior pessoa na escolha do candidato? Diria que há três muito importantes. Primeiro, o nome escolhido deve ter vontade de ser governador. Segundo, ter capacidade de aglutinar os partidos que estão na aliança. Terceiro, ter um bom projeto para o futuro da Bahia.
Eles seriam maiores até que os indicadores das pesquisas e o recall de cada um dos nomes? Maiores do que qualquer coisa dessa.
E quais são os principais nomes até agora? Existem dois que estão à frente nesse processo. Paulo Souto (DEM) e Geddel Vieira Lima (DEM). Não quer dizer que serão eles, mas ambos deram um passo adiante.
Ano que vem tem Copa, o senhor tem um projeto de criar um segundo Carnaval no período. A cidade vai ganhar dinheiro, perder dinheiro, como está sendo feita a conta do quanto será preciso investir e das perspectivas de ganho? A prefeitura já mostrou que é possível fazer grandes eventos sem gastar dinheiro público. Esta aí o Réveillon para provar, o maior que essa cidade já viu, quatro dias que vão movimentar a economia, gerar emprego, e quase todo ele custeado pela iniciativa privada. Pela primeira vez vamos fazer um Carnaval que vai se autossustentar. Vamos arrecadar de patrocínio tudo aquilo que vai ser a despesa do Carnaval. Só de cervejaria nós estamos elevando de R$ 5 milhões para R$ 30 milhões. Assim vai ser no Carnaval da Copa. Faço evento na cidade não é por que eu quero festa, nada disso. É porque a economia de Salvador está vinculada a isso, toda uma cadeia, do ambulante ao hotel.
Teme os protestos durante a Copa? Não temo nada. É legítimo, é da democracia que as pessoas se manifestem, como fizeram em Salvador durante a Copa das Confederações, até de forma moderada em relação a outras capitais. Mas a cidade teve muita sorte com os jogos que vai receber, três grandes jogos, sete seleções europeias aqui, dias em que haverá grande geração de riqueza. Apenas espero que tudo isso seja considerado pela população nos dias de jogos.
Numa das primeiras entrevistas que fez após ser eleito, o senhor disse que gostaria de ter tempo para suas filhas, para a vida em família. Está cumprindo ou devendo em casa? A gente sempre deve, porque a vontade de um pai que ama suas filhas (Neto é pai de Lívia, 6 anos, e Marcela, 3) é ter todo tempo possível para elas. Mas, mesmo com toda minha rotina, não abro mão de ter meu tempo com elas. Elas ficam três dias por semana comigo. Sempre faço questão de almoçar com elas, ter tempo para corrigir o dever de escola. Quando não posso almoçar com elas, chego mais cedo. Não adianta cuidar da cidade se eu não cuidar de minhas filhas.
E como acha tempo para a vida pessoal? Ou melhor, como é que o senhor arranja tempo para se divertir? (Risos) O prefeito é solteiro, está solteiro, vai passar esse Réveillon solteiro.
Solteiro, mas não sozinho... Dessa vez, estou solteiro e sozinho. Agora, quem sabe o que pode acontecer no Verão? De repente, surge uma primeira-dama. Vamos torcer para isso (risos). Matéria original do Correio
Em entrevista, ACM Neto faz balanço do primeiro ano de gestão e diz: ‘casa está arrumada’