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SALVADOR

Boca do Rio lidera queda nos números de homicídios

São 80 dias sem homicídios nas áreas de cobertura da 9ª Delegacia Territorial e 39ª CIPM

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22/03/2014 às 11:52 • Atualizada em 27/08/2022 às 2:47 - há XX semanas
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O lençol branco ganha tons avermelhados sobre o rapaz. De um lado, cápsulas de balas. Do outro, parentes em desespero. Do início do ano até ontem, cenas como essa deixaram de ser rotina na vida dos moradores do bairro da Boca do Rio e adjacências. São 80 dias sem homicídios nas áreas de cobertura da 9ª Delegacia Territorial e 39ª Companhia Independente de Polícia Militar (CIPM). As unidades compõem a 9ª Área Integrada de Segurança Pública (Aisp), que teve o melhor desempenho entre as 52 Aisps em 2013. Uma queda de 50,8% nos Crimes Violentos Letais Intencionais (CVLI) — homicídio, latrocínio e lesão corporal seguida de morte, segundo dados divulgados pela Secretaria da Segurança Pública (SSP). De acordo com a polícia, as ações de combate foram intensificadas, desde o ano passado, nos principais focos de violência da Aisp 9, e foi dada a continuidade este ano nas localidades de Barreiro, Cajueiro, Curralinho, Georgina, Irmã Dulce e Bananal, na Boca do Rio, Baixa Fria, no Stiep, e Comunidade Santa Rosa de Lima, no Costa Azul, também conhecida como Inferninho. O CORREIO esteve em alguns desses pontos e constatou que, apesar de não haver registro de mortes, há ainda, entre moradores, o medo em relação à disputa entre traficantes das áreas vizinhas, já que, com a ação da polícia, que resultou em prisões de líderes das facções, houve enfraquecimento de algumas quadrilhas – o que chama a atenção de grupos armados de outros bairros interessados na área.
Rua da Tranquilidade, onde fica a 9ª Delegacia, tem justificado o nome (Foto: Marina Silva/CORREIO)
DesconfiançaÉ o caso da localidade de Barreiro, que fica nos fundos do Conjunto Guilherme Marback. "Há quatro dias, um grupo de traficantes do Areal (Nordeste de Amaralina) estava rondando por aqui. Sei que estavam armados. Isso porque os fortes daqui estão presos", declara um lavador de carros. Ele reconhece que, apesar da situação, o bairro está mais tranquilo. "Ave Maria! Antes era um morto quase todo dia. Hoje, podemos sair à noite", conta. O funcionário público Jorge Mendonça, 56, que reside há 14 anos no local, afirma que, atualmente, as ocorrências mais graves são brigas comuns. "Antes, era matando fulano, sicrano. Não tínhamos paz. Não está 100%, mas creio que 80%", avalia. Quem mora na localidade do Cajueiro, próxima à Cesta do Povo, não esquece quando jovens com pistolas do Barreiro ou da Georgina (final de linha) tentavam tomar as bocas da área. Os confrontos eram intensos e muito frequentes. "Quando acontecia, tinha medo de sair de casa. Já teve caso de balas perdidas atingirem inocentes", relembra a esteticista Fabiane Santos de Jesus Cruz, 30. Um comerciante, que preferiu o anonimato, pondera: "As mortes aqui aliviaram. A última foi em dezembro, na Rua Cristóvão Ferreira. Mas, no Carnaval, foi troca de tiros direto. As pessoas só saíam porque tinham que trabalhar", observa. A dona de casa Margarida Trindade, 47, crê que a matança pode voltar a qualquer momento. "Está o comentário que dois matadores daqui, que a polícia prendeu ano passado, a Justiça já soltou", diz, antes de fechar a porta de casa. FacçõesNa Baixa Fria, em frente ao Centro de Convenções, a redução da violência também foi perceptível. "Realmente, deu um descanso para a gente. Esperamos que continue assim", diz o universitário Mateus Almeida, 27. A Baixa Fria é uma das localidades com mais conflitos na área. Isso porque ela faz divisa com o Curralinho, em frente ao reservatório da Embasa, trecho da Estrada do Curralinho. “Baixa Fria é Caveira. Já o Curralinho é CP, de Campanha", explica um rapaz, fazendo referência à disputa entre as maiores organizações criminosas do estado. Os grupos que se denominam Caveira estão ligados ao traficante Genilson Lima da Silva, o Perna, que cumpre pena em presídio federal. Já o Comando da Paz (CP) está sob o comando de Cláudio Campanha, que também está em prisão de segurança máxima. "Antes, a gente sabia que haveria os confrontos, porque eles mesmos tratavam de avisar. Meninotes saíam batendo nas portas dizendo para não sair de casa ou não chegar depois das 20h", relata uma moradora da Baixa Fria. Nos becos e vielas do Curralinho, o tráfico era frenético, mesmo durante o dia. "Era um entra e sai de carros, direto. Muita gente desses prédios do Imbuí, Iguatemi, até da Barra. Às vezes, faziam até fila", relata um comerciante e morador local. Para ele, as ações da polícia afastaram a clientela do tráfico e reduziram as mortes. "Claro que não acabou. A gente ainda vê alguns por aqui, mas aquelas mortes de sacizeiros que não pagavam ou rivais não se vê há meses", diz. Equipe 48Titular da 9ª DP, a delegada Rogéria Cardoso atribui os 80 dias sem homicídios a prisões realizadas ano passado. Foram remetidos à Justiça, em 2013, 467 inquéritos. "Muitas quadrilhas foram desbaratas. Isso só foi possível graças à integração entre os trabalhos das polícias na Aisp 9", diagnostica. Neste ano, 120 inquéritos já foram encaminhados à Justiça. Além da maior sensação de segurança e da premiação por redução do índice de criminalidade (ver ao lado), que será paga em abril, o trabalho em conjunto resultou em uma brincadeira no meio policial, que se refere aos agentes da 9ª DP e 39ª CIMP como a "Equipe 48": somatório das unidades. "Juntos, mapeamos todos os pontos críticos e passamos a intensificar as ações. Além disso, compartilhamos informações uns com os outros", explica a delegada, salientando também que houve redução de outros crimes na região, como assaltos e furtos. Comunidade Rogéria assumiu a 9ª DP em fevereiro de 2013, após a nomeação da delegada Maria Fernanda Porfírio para a titularidade na 1ª DP, nos Barris. "Começamos a parceria com doutora Fernanda e continuamos com Rogéria", disse o major Jarbas Oliveira, que até semana passada era comandante da 39ª CIPM. Segundo ele, o trabalho de inteligência somou à ação. "Usamos um aparelho que consulta, em tempo real, placas de veículos. Como o crime circula em carros e motos, foram reduzidos ainda os roubos de veículos", conta o major, promovido ao comando do Batalhão de Alagoinhas. Outra estratégia usada pela PM foi o policiamento comunitário, que culminou no Conselho Comunitário do Imbuí. "Disponibilizamos o número do telefone das guarnições. À medida que a população via um suspeito, acionava os policiais, que faziam as abordagens", conta.
Bandidos mais temidos da área foram para a prisãoEntre os criminosos que eram temidos na região da Boca do Rio, Alan Santos Castro, 22, o Alanzinho, era um dos mais. Então líder do tráfico no Curralinho, ele foi preso em junho passado e é suspeito de participação em uma chacina no bairro, em 2011. Na época, Alanzinho negou participação nas mortes, mas confessou ter assaltado o Bompreço de Itapuã, em fevereiro de 2013, quando seis homens, vestidos de paletó e gravata, renderam vigilantes e levaram quantia não revelada.
Segundo a polícia, uma briga entre grupos rivais de duas áreas da Boca do Rio, em outubro de 2011, motivou a chacina. Investigações apontaram que o confronto inicial aconteceu com a morte do adolescente Bruno Ferreira Santos, que fazia parte da quadrilha de Claudomiro Santos Rocha Filho, o Nicão, e que foi assassinado no Cajueiro de Baixo por Alanzinho e seus comparsas. Em represália, Nicão, juntamente com Anderson Lopes dos Santos, o "Da Jega", e um adolescente mataram Márcio Greick da Silva Brito, Ricardo da Silva e Gedeão da Silva, na Travessa São Judas Tadeu, horas depois da morte de Bruno, atingindo também uma quarta pessoa. Alanzinho foi preso pela 39ª CIPM quando participava de um culto numa igreja evangélica do bairro. Em fevereiro deste ano, Nicão foi preso em Catu de Abrantes numa operação da Rondesp RMS, com apoio da 39ª CIMP. Chefe do tráfico no Cajueiro, ele foi encontrado numa casa com drogas, dinheiro e armas. Após a prisão, ofereceu R$ 100 mil a policiais para liberá-lo, mas não obteve êxito. Redução da violência renderá bônus a 27 mil policiais em abril Policiais de 29 das 52 Aisps irão receber, com o salário de abril, o primeiro Prêmio por Desempenho Policial (PDP), que vai beneficiar aqueles que alcançaram, em 2013, a meta de redução de crimes violentos estabelecida pelo governo estadual. No total, 27 mil policiais civis e militares terão direito à premiação, que pode chegar a R$ 4 mil. Das 52 Aisps, 25 conseguiram reduzir o índice de CVLIs em mais de 6%, meta estabelecida para o ano. Policiais de outras quatro Aisps também terão direito ao bônus – menor – por reduzir a criminalidade, mesmo sem atingir a meta. Os números da violência na Bahia foram apresentados em reunião do Pacto Pela Vida - programa estadual que reúne autoridades policiais, representantes do Judiciário, Ministério Público, Defensoria e secretarias de estado - realizada no último dia 13 no Tribunal de Justiça (TJ-BA). Na reunião, foram divulgadas também as Aisps onde os policiais terão direito ao PDP-1, que varia de R$ 2.800 – para investigadores, escrivães, praças, peritos técnicos e servidores de áreas de apoio – a R$ 4 mil, para delegados, oficiais e peritos. O PDP-1 será pago aos membros das Aisps que ficaram nos três primeiros lugares dos rankings. Na variação relativa (percentual), o primeiro lugar ficou com a Aisp 9, Boca do Rio (com queda de 50,8%), seguida pela Aisp 8, no CIA (-44,3%) e pela Aisp 50, Santo Amaro (-33%). No ranking de variação absoluta, a líder foi a Aisp 36, Feira de Santana, onde os números da violência caíram de 440 (2012) para 343 (2013). A segunda foi a Aisp 55, de Teixeira de Freitas (sul do estado) e a terceira, a Aisp 10, bairro de Pau da Lima. Matéria original: Correio24h Boca do Rio não registra homicídios desde o início do ano e lidera queda

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