O comerciante Elson Pastore, vice-presidente da Associação de Lojistas da Baixa dos Sapateiros (Albasa), costuma falar com nostalgia dos tempos áureos do comércio na região, que abastecia o Pelourinho na época em que era um aquecido centro comercial.
Imortalizada numa canção de Ary Barroso, a Baixa dos Sapateiros abriga hoje cerca de 500 lojas, que vendem de roupas e objetos para casa até plantas ornamentais e móveis, tudo a preços populares, e busca uma espécie de “ressurreição” com a retomada de sua importância comercial.
Comerciantes do Centro Histórico pagam segurança extra e torcem por ‘ressurreição’ (Foto: Marina Silva/Arquivo Correio) |
O tradicional centro de compras viu seu movimento diminuir quando a rodoviária da cidade foi transferida para a região do Iguatemi, em 1974 - até então, ficava na Sete Portas.
Hoje, além de lidar com a diminuição frequente das vendas, os lojistas da Avenida J. J. Seabra andam preocupados com a violência. Para manter a segurança na via e evitar assaltos, pagam entre R$ 40 e R$ 50 por semana para seguranças autônomos - entre eles, policiais aposentados.
“Se tiver turista por aqui, com máquina, relógio ou corrente de ouro, roubam na maior facilidade”, relata o presidente da Albasa, Ruy Barbosa. Após os assaltos, os bandidos se aproveitam do conhecimento da geografia local.
“Quando alguém corre atrás do ladrão na Baixa dos Sapateiros, às vezes acontece de olhar para um lado, olhar para o outro e perder o cara de vista. Isso porque ele entra pela Rua das Flores e, indo por trás, sai na Rua Ramos de Queiroz”, diz Ruy. Mas ele mantém as esperanças na volta dos bons tempos.
Projetos atendem a mais de mil jovens em situação de risco social
A faixa etária dos assaltantes é uma preocupação para quem vive e trabalha no Pelourinho. “É assustador. Vejo até mesmo meninos pequenos mexendo nos carros estacionados na tentativa de encontrar algum que esteja aberto”, aponta uma comerciante, que preferiu o anonimato.
Para a cabeleleira Negra Jhô, é necessário maior cuidado com os meninos e meninas do Pelô. “Às vezes, o que falta é amor ou atenção. Alguns são filhos de uma mãe guerreira, que precisa trabalhar e não pode estar tão presente”, reflete Jhô, que trabalha pela valorização da cultura negra.
A Secretaria da Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social (SJDHDS) conta com três projetos sociais para crianças e adolescentes no local. O projeto Rede TV Jovem tem recursos anuais de R$ 1,1 milhão. Lá, são oferecidos cursos de roteiro, edição, fotografia, interpretação, produção, direção, arte e figurino para 200 jovens de 16 aos 24 anos.
Outra ação nesse sentido é o Projeto Axé. Com recursos anuais de cerca de R$ 2,4 milhões, atende 400 crianças e jovens entre 8 e 24 anos e oferece atividades de arte e educação, dança e música, além de acompanhamento e encaminhamento à rede de proteção socioassistencial.
Idealizador de um projeto de reforço escolar e capoeira no Centro Histórico, o professor Othelo Rosa, 48, acredita que educação e acompanhamento são os meios de melhorar os índices de violência na área. “O Pelourinho precisa de maior intervenção social para salvarmos nossas crianças”, sustenta.
Quando tinha 13 anos, ele fugiu de casa e passou a morar nas ruas do Pelô. Se envolveu com o crime na adolescência, mas graças ao projeto social de Mestre Prego, viu na capoeira uma alternativa. O projeto de Prego está parado há cinco anos por falta de recursos, revelou os músicos Beto Jamaica e Compadre Washington.
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