"Como eles tiram a vida de um inocente?", diz mãe de jovem morto

O clima de medo e revolta é evidente no rosto e nas vozes dos moradores da rua Visconde de Itaparica, mais conhecida como Rua da Lama, no bairro da Barroquinha. Na noite de ontem (21), três jovens morreram e um homem foi baleado dentro de uma lan house no local. Com medo de sofrerem retaliações, os moradores do bairro preferiram não se identificar. Mas, pra eles, não havia dúvidas sobre a autoria do crime - um traficante identificado como Ítalo Gordo, que já morou na rua, se mudou para a rua 13 de Maio, no Pelourinho, e voltou com um comparsa na noite da segunda-feira para acertar uma rixa com os traficantes da região.

Três pessoas foram baleadas e mortas em uma lan house no Centro de Salvador. Traficante rival é suposto autor do crime (Foto: Bruno Wendel/CORREIO)

O estudante Fredson Fonseca de Jesus Santos, 15 anos, foi uma das vítimas da disputa. Aluno de percussão há quatro anos do Projeto Axé, o adolescente tinha saído de casa 20 minutos antes do crime para comprar uma sandália. Resolveu parar na lan house para checar as suas redes sociais e acabou sendo baleado na nuca quando o traficante invadiu o local à procura dos rivais. A mãe de Fredson estava em casa e saiu correndo ao ouvir os tiros. "Eu dei socorro a meu a filho. Botei meu filho no colo e coloquei no carro", disse ao CORREIO. O estudante ainda chegou com vida no Hospital Geral do Estado (HGE), mas morreu na madrugada desta terça-feira (22). "Meu filho não era envolvido com nada, não mexia com ninguém. Como eles fazem isso? Como tiram a vida de um inocente?", questiona a mãe do adolescente, que preferiu não se identificar. Vendedora ambulante morta na lan house foi acessar o FacebookAlém de Fredson, mais três pessoas foram baleadas. O dono da lan house, Etevaldo Conceição Silva, 35 anos, foi atingido por disparos de arma de fogo no ombro e nas costas. Além do estabelecimento, ele também é dono de um cinema improvisado na casa ao lado, muito frequentado pelos moradores da área. Etevaldo também foi socorrido para o HGE, e é o único sobrevivente do ataque. A vendedora ambulante Sheila Galiza dos Santos, 25 anos, foi baleada e morreu. Segundo os parentes da jovem, "ela estava no lugar errado, na hora errado", dizem. A jovem, que deixa uma filha de nove anos e um filho de dois, tinha ido ao local acessar o Facebook e foi surpreendida pelos disparos. Os atiradores foram identificados por testemunhas porque, segundo elas, não estavam encapuzados. "Hoje em dia eles não dão nem ao trabalho de se esconder", disse um morador da área, que preferiu não ter a identidade revelada. O corpo da ambulante será enterrado às 16h de hoje no cemitério municipal da Baixa de Quintas. Sheila tinha banca na avenida Sete onde vendia calcinhas e sutiãs, e era namorada de Leandro Sampaio de Oliveira, 19 anos. O rapaz também foi morto no ataque, alvejado diversas vezes na boca. Segundo a Polícia Civil, Leandro era o alvo dos criminosos do bando de Ítalo Gordo. A família do jovem, no entanto, nega que ele tinha envolvimento com o crime. Segundo a mãe de Leandro, ele era vendedor ambulante de água e refrigerante. O rapaz também deixa dois filhos - uma menina de dois anos e um menino de oito meses. "Ainda não caiu a ficha", disse a mãe de Leandro, que não quis dar o nome. Ele era o primogênito dos seus três filhos. Ao ser questionada sobre o que aconteceu, apenas disse: "eu não tenho ideia, não tenho a minima ideia". O caso está sendo investigado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP). O horário e local dos enterros de Fredson e Leandro ainda não foram confirmados.