Nem na praia, nem no sol, nem no mar – muito menos num navio a navegar ou num avião a decolar. Para muita gente, o sonho do casamento tem um cenário bem diferente desses cantados pelo paulista Marcelo Jeneci na trilha sonora que tem embalado enlaces nos últimos anos. Por aqui, a vontade de casar já vem com endereço, uma espera que pode chegar a dois anos e pagamento até com máquina de cartão de débito.
Nas igrejas mais disputadas pelos pombinhos de Salvador, a concorrência é árdua: tem lugar que chega a receber 300 pedidos de orçamentos por mês. A pedido do CORREIO, a Pastoral Familiar da Arquidiocese de Salvador listou os santuários preferidos dos casais. E, aqui, a gente aproveita para dar a dica: se você pretende subir ao altar em 2019, a Igreja de Nossa Senhora das Vitórias – conhecida como Pupileira –, já está com agenda aberta. A Igreja da Ordem Terceira de São Francisco, no Pelourinho, abre no próximo mês.
A Pupileira é justamente a mais requisitada: os ditos 200 a 300 orçamentos mensais são lá. Já o número de cerimônias oscila entre 10 e 15 por mês. Mas se você dormiu no ponto, também não precisa se desesperar. De acordo com a gerente de eventos da Santa Casa da Bahia, Fagna Freitas, ainda há algumas vagas em 2018. “Talvez não tenha no sábado, mas vai ter alguma quinta ou alguma sexta. Nós fazemos casamentos até em dias de semana”, explica Fagna, reforçando que, lá, os contratos costumam ser a assinados com um a dois anos de antecedência.
Se você não abre mão de um sábado, pode dar sorte até de encontrar um vazio na agenda – mas em maio. Por incrível que pareça, o dito ‘mês das noivas’ não é tão visado quanto os meses do segundo semestre. “O segundo é vendido primeiro. Setembro, outubro e dezembro vendemos todos os sábados, porque é o período das flores, porque entra na primavera. É o início do verão, então não tem chuva”.
A advogada Carolina Pimenta, 29 anos, casou no dia 20 de maio deste ano, mas, mesmo assim, reservou o espaço no mesmo dia que a Pupileira abriu a agenda para 2017: 11 de junho de 2015. Foram quase dois anos de espera até trocar as alianças com o noivo, Filipe, diante de 500 convidados.
Leia também:
“Sempre fui muito católica, então eu queria casar num lugar que tivesse uma igreja e que fosse cômodo para meus convidados, para não terem que se deslocar. E aqui não tem lugar mais bonito do que a Pupileira. Escolhi maio porque é o mês mariano e sou devota de Nossa Senhora”, conta. Ela diz que, mesmo com os valores um pouco mais altos, tudo valeu a pena. "As pessoas estavam se arrepiando. O dinheiro que eu gastei no total, que daria uma bela entrada de um apartamento, eu daria de novo, porque quero contar para os meus filhos e netos que aquela noite foi mágica".
O valor não muda de acordo com o mês, mas se a festa for entre os domingos e a quinta-feira, há um desconto de 50%. Os eventos podem ter valores que vão de R$ 8 mil, numa festa para 150 a 200 convidados em um domingo, até R$ 40 mil – para 1,5 mil pessoas, em um sábado. Só o aluguel da capela é R$ 2 mil.
“A Capela da Pupileira está dentro de um complexo, de um conjunto arquitetônico que tem, além da capela, estacionamento, segurança e espaços de eventos. Dá um conforto muito maior para a noiva. E a igreja é linda, né? É uma capela climatizada, bem cuidada e construída em 1886. Ela tem um romantismo e uma parte arquitetônica que a noiva enxerga que ela está pronta para casar”, opina Fagna.
O complexo da Pupileira é administrado pela Santa Casa da Bahia e, segundo Fagna, todos os recursos arrecadados com os eventos são revertidos para projetos sociais da entidade – vão desde os centros educacionais que mantém crianças em período integral no Bairro da Paz até o Hospital Santa Isabel, que tem 60% de atendimentos sociais. Das cinco igrejas mais procuradas, a Pupileira é a única não tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) - veja lista das preferidas abaixo.
Vista para a Baía de Todos os Santos
A segunda igreja mais procurada, a Igreja de Santa Teresa, do Museu de Arte Sacra, era o objetivo da relações públicas Clarice Rodrigues, 36. O casamento foi no dia 24 de setembro de 2011, mas a jornada até lá começou em 1º de abril de 2010. “Era o dia que eles abriam a agenda e minha mãe chegou lá 8h. Quando ela chegou, já tinha uma pessoa”, lembra Clarice, casada há seis anos com o funcionário público Marcos Oliveira, 43.
O motivo da escolha? Além do fato de ela ter uma avó ‘super beata’, que fazia questão de um casamento na igreja, Clarice sonhava com um casamento que representasse Salvador. “E lá é o único lugar que você vê o Mercado Modelo, o Elevador Lacerda, a Baía de Todos os Santos, a Marina... A vista foi o chamariz. Como 70% dos meus convidados eram de outros estados, eles enlouqueceram”.
Para o ano que vem, já não há vagas para casamentos em setembro, novembro e dezembro, de acordo com a coordenadora geral do Museu de Arte Sacra, Maria Cícera Almeida. A agenda para 2019 abre no dia 1º de março do ano que vem. “Aqui, desperta interesse porque é um monumento histórico (o museu é tombado) e a área externa é maravilhosa, dá para o mar. O fundo é todo para a Baía de Todos os Santos”.
Com capacidade para 500 pessoas entre os salões e 160 sentadas na capela, o aluguel do espaço custa R$ 15 mil. Os primeiros R$ 5 mil devem ser pagos no ato da reserva e 30 dias depois os outros R$ 10 mil.
Até no cartão
Na Igreja de Santo Antônio da Barra, o valor sai um pouco mais em conta: o aluguel da capela fica R$ 2,5 mil, enquanto a área de jardim, que comporta até 250 convidados, custa R$ 4 mil. O valor pode ser parcelado em até duas vezes no cheque, mas a igreja aceita cartão de débito.
“A procura continua, mas esse ano está um pouco menor, porque é provável que a igreja passe por restauração no segundo semestre do ano que vem”, explica a secretária da igreja, Lidiana dos Santos.
A Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia também está entre as preferidas. Lá, os casamentos são realizados às sextas e sábados e, desde o ano passado, também aos domingos. De acordo com a juíza da irmandade, Marília Gabriela Dias, já tem casamento marcado para janeiro de 2019.
“Mas, devido à crise que se instalou, a procura baixou um pouco esse ano. O pessoal vem muito por amor à Nossa Senhora ou porque alguém da família casou aqui. Há toda uma tradição. Além disso, a igreja é procurada por ser grande”, diz ela, referindo-se à capacidade para 600 pessoas sentadas do santuário. No entanto, mesmo com a crise, há casamentos em todos os fins de semana de setembro e outubro deste ano.
E, a partir do ano que vem, a Conceição da Praia vai ter outro atrativo para os noivinhos: no segundo semestre de 2018, deve ser inaugurado o Cerimonial Conceição da Praia, que terá capacidade para até mil pessoas e auditório. O espaço vai ficar exatamente ao lado da igreja – no local onde hoje ficam os casarões de números 32 e 34. “Com o tempo, esses casarões ficaram em ruínas. O Iphan vai recuperar e manter a fachada original. Depois, eles vão ser entregues à irmandade (da Conceição da Praia) para que possa utilizar”.
Segundo o Iphan, serão investidos cerca de R$ 10,5 milhões na reconstrução dos imóveis e implantação do cerimonial de eventos a ser administrado pela Irmandade.
Hoje, a Conceição só tem duas salas que cabem até 100 pessoas – servem a noivos que, ao invés de festas, querem apenas receber os cumprimentos, por exemplo. O aluguel dessas salas fica por R$ 3 mil, enquanto casamento sai a R$ 7 mil. No domingo, o casório é mais barato: são R$ 6 mil.
Recessão
Na Ordem Terceira de São Francisco, a quinta preferida, os sábados também estão se esgotando, de acordo com a coordenadora, Roberta Batista. Só o aluguel da igreja sai por R$ 4 mil, enquanto o pacote completo – com o aluguel do espaço para 350 pessoas – fica R$ 10 mil.
“Tivemos um período de recessão, porque o Pelourinho estava em reforma, tinha um problema de mobilidade, mas agora está retomando. Inclusive, essa notícia de que o Unique Eventos vai fechar está gerando um aumento de demanda, porque temos espaço para recepção”, completa o presidente da Ordem, Jaime Baleeiro.
Na Igreja da Ordem Terceira do Carmo, os casamentos custam R$ 5 mil só na igreja e R$ 10 mil no espaço. “Acredito que o motivo de ser uma igreja preocupada é justamente o fato de ter estrutura, além de ser bonita, secular e ter um estilo colonial do passado, com aquele glamour”, diz o primeiro conselheiro da mesa administrativa da Ordem, Paulo Santos.
A produtora Elaine Melo, da Nubia e Sonja Eventos, diz que 70% do público que procura a empresa prefere essas igrejas. “Apesar de termos tantas igrejas, as pessoas vão direcionadas para essas. Quando não encontram, acabam indo para outra. Mas é raro desistirem de casar na igreja. Quem quer casar em igreja espera pela igreja”, afirma. Ela acrescenta, ainda, a Paróquia Nossa Senhora da Vitória – que ganhou um espaço para eventos ao lado e, desde então, tem sido mais procurada.
As igrejas preferidas para casar em Salvador:
1. Capela Nossa Senhora das Vitórias (Pupileira) – Com agenda aberta já para 2019, pode custar até R$ 40 mil, a depender do evento. A capela tem capacidade para 250 pessoas sentadas, mas o espaço comporta até 1,5 mil convidados. O pagamento é feito à vista ou em cheque (com parcelas de até 10 vezes). Endereço: Avenida Joana Angélica, 79, Nazaré.
2. Museu de Arte Sacra - Igreja de Santa Teresa – Quem quiser casar este ainda tem um sábado disponível: 16 de dezembro. Em março de 2018, abrem a agenda para 2019. O aluguel custa R$ 15 mil e o pagamento é feito pela Guia de Recolhimento da União (GRU). A primeira parte (R$ 5 mil) é paga no ato da reserva, enquanto a segunda (R$ 10 mil) deve ser entregue 30 dias depois. Rua do Sodré, s/n, Centro.
3. Igreja de Santo Antônio da Barra – O valor é fixo de R$ 2,5 mil e inclui o celebrante e o tapete vermelho. Se os noivos quiserem a área externa, um jardim com vista por mar, que comporta entre 200 e 250 convidados, terão que desembolsar outros R$ 4 mil. O pagamento pode ser feito no cartão de débito, em espécie ou em cheque em até duas vezes. Na Ladeira da Barra.
4. Basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia – Tem capacidade para até 600 pessoas e os casamentos podem ser realizados às sextas e aos sábados por R$ 7 mil e aos domingos por R$ 6 mil. Se o casal quiser alugar uma sala para receber os convidados, com capacidade para 100 pessoas, vai custar R$ 3 mil. A partir do ano que vem, a igreja deve ter o Cerimonial Conceição da Praia, em espaço ao lado. Rua da Conceição da Praia, s/n, Comércio.
5. Ordem Terceira Secular de São Francisco da Bahia – Os noivos devem levar o próprio padre para celebrar o casamento no local e o aluguel da igreja (com 180 lugares) custa R$ 4 mil. Se escolherem um espaço de recepção tipo coquetel para 100 convidados, o total fica R$ 5 mil. No espaço maior, para 350 pessoas, o aluguel de tudo vai para R$ 10 mil. O pagamento é feito em dinheiro ou em cheque parcelado em até quatro vezes. À vista, há desconto de 10%. Rua da Ordem Terceira, s/n, Pelourinho.
6. Catedral Basílica Primacial São Salvador (Pelourinho) – Está fechada para reformas, mas é uma das mais procuradas
7. Convento de Santa Clara do Desterro – Os casamentos só ocorrem aos sábados e a igreja tem capacidade para 350 pessoas, além de estacionamento com 160 vagas. O valor é negociado.
8. Instituto da Ordem Terceira do Carmo – O casamento custa R$ 10 mil, se incluir o espaço de festas para até 450 pessoas. Se os noivos quiserem apenas a capela, sai por R$ 5 mil. A igreja comporta até 300 convidados.
Veja também:
Redação iBahia
Redação iBahia
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!