Através do uso de uma técnica de investigação molecular, chamada RT-PCR, pesquisadores da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da Universidade Federal da Bahia (Ufba), com apoio da Secretaria Municipal de Saúde de Salvador, demonstraram a presença de RNA dos vírus zika, chikungunya e dengue em pacientes atendidos nas unidades de saúde da Região Metropolitana.
Os resultados da investigação foram publicados na edição de dezembro da revista científica Emerging Infectious Diseases e colocou a capital baiana na dianteira das pesquisas sobre esses arbovírus (infecções virais transmitidas por insetos).Os estudos chamaram atenção para um aspecto preocupante: a dificuldade dos profissionais de saúde para distinguirem, com base nas manifestações clínicas, essas três infecções virais. “Estamos vivendo um tríplice surto dessas doenças e, infelizmente, o repertório de conhecimento sobre elas ainda é insatisfatório”, reconhece o pesquisador da FioCruz e professor do Instituto de Saúde Coletiva da Ufba, o infectologista Guilherme Ribeiro. Nos casos estudados, os pesquisadores perceberam que o zika é, de fato, o maior responsável pelos atendimentos médicos. “A maioria dos pacientes assistidos não apresentava febre e dor nas articulações, que são características tipicamente presentes em casos de dengue e chikungunya”, esclarece Guilherme Ribeiro.
Ribeiro lembra ainda que, em virtude da ampla distribuição do mosquito vetor no país, há um risco real de que outras regiões também venham a sofrer com epidemias causadas por esse vírus. As pesquisas também mostraram que a Bahia permanece como o estado brasileiro com o maior número de notificações de casos suspeitos de zika e de chikungunya, mas, em função da semelhança clínica entre essas arboviroses, é provável que muitos dos casos notificados no país como sendo casos de dengue sejam na verdade casos de zika ou chikungunya. ComplicaçõesAlém do agravo e dos riscos que essas infecções representam, o zika traz ainda as complicações na forma da Síndrome de Guillain-Barré, doença neurológica em que há perda progressiva da força muscular, e os casos de malformação congênita em que os recém-nascidos apresentam perímetro cefálico menor do que o normal, a microcefalia.
Para o pesquisador, a solução mais eficiente seria uma forma de imunização. “Infelizmente, as pesquisas mais avançadas dizem respeito à dengue e o controle do vetor, por si só, não tem se mostrado eficiente numa cidade onde a falta de água e as questões sanitárias ainda são um problema”.
Desde a última quinta feira, as equipes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) estão realizando um plano de contingência, com visitas a grandes empresas, a fim de combater o mosquito e conscientizar as pessoas sobre o trabalho de prevenção. “O próximo passo será a realização de palestras que serão construídas a partir dos resultados encontrados nos locais das visitas”, explica Isabel Guimarães, chefe-coordenadora do Programa Municipal de Combate à Dengue.
A Prefeitura quer chamar atenção da população para a necessidade de combater o mosquito que é responsável por transmitir a dengue, zika e chikungunya, por isso existe uma agenda de ações realizadas por 18 equipes do CCZ nos 12 distritos sanitários em Salvador. O trabalho envolve palestras em escolas, visitas técnicas, caminhadas e feiras de saúde.
Do período entre a picada do mosquito e o início de sintomas, há um espaço de tempo de, aproximadamente, quatro dias. De acordo com o infectologista e professor da Escola Bahiana de Medicina e Saúde Pública Robson Reis, ao contrário das bactérias, que atacam uma região do corpo, a infecção viral é sistêmica, ou seja, atinge todo o organismo, assim, alguém com zika pode apresentar sintomas como diarreia e alguém com uma virose intestinal pode apresentar dor de garganta e nariz entupido.
“Os vírus são grandes enganadores e essa mistura de sintomas deixa as pessoas mais assustadas”, esclarece o médico. Reis destaca ainda que, além da capacidade de disfarçar os sintomas, vírus distintos podem atacar uma pessoa ao mesmo tempo. “É possível que alguém com uma virose respiratória, por exemplo, possa também contrair zika”, explica.
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